terça-feira, 1 de novembro de 2016

Parábola das varas


A parábola das varas

                            B. M. Curvo Semedo  (Seleta em prosa e verso)

Um velho sábio e prudente,

Vendo-se vizinho da morte,

Chama três filhos que tem,

E fala-lhes desta sorte:

 

“Eia, vêde, amados filhos

Se quebrais, pois por força ou jeito

Este emblema ;  e tira um molho

De varas de vime feito.

 

Ao filho mais velho o dá,

Que se propões parti-lo

Mas, por força que emprega

Nunca pode consegui-lo

 

Pega-lhe o filho segundo,

Destro e valente rapaz,

Que parti-lo não consegue,

Por mais esforços que faz.

 

Entregam-no ao mais pequeno

Que blasona de mui forte.

Torce-o dobra, cora e sua,

E deixa-o da mesma sorte.

 

Fracos moços!  Diz o pai,

Vossa fraqueza celebro!

Vêde como desta idade

Essas varas todas quebro.

 

Depois desatando o molho,

Pronto as varas dividindo,

Com toda a facilidade

Uma a uma as vai quebrando

 

E diz “Vede neste exemplo,

Filhos de meu coração

Os desastres da discórdia

E as vantagens da união.

 

Partir não podeis, ò moços

As varas estando unidas

Mas, depois de separadas

São fracas mão partidas

 

Se unidas vos conservardes,

Assim, ó filhos sereis

E as baldãos ímpios da sorte

Sem custo resistireis:

 

Mas, se algum dia a desgraça

Vos chegar a desunir,

 

 

 Qualquer de vós aos seus golpes

Não poderá resistir.”

 

Assim o velho proclama

Esta brilhante doutrina,

E no fim de pouco tempo

Sua carreira termina.

 

Os filhos choram-lhe a morte

Com lamentos deploráveis

Porem lembram-se mui pouco

De seus conselhos saudáveis.

 

Porque danoso interesse

Em partilha os envolve,

Um credor, outro credor

Os bens paternos dissolve.

 

Depois, vomitando injúrias,

Uns contra os outros litigam;

E os ministros com prisões

E com multas os castigam

 

Pobres por fim, noite e dias

Com prantos e queixas amaras,

Recordam, mas sem remédios,

O sábio exemplo das varas.

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