quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Um Espaço para as Celebrções da Comunidade


UM ESPAÇO PARA AS CELEBRAÇÕES DA COMUNIDADE.

Ione Buyst.

 

“O Mestre pergunta: Onde está a sala em que comerei a páscoa com meus discípulos?” (Lc.22,11)

Onde sua comunidade costuma reunir-se para celebrar a liturgia? Se você tivesse que enumerar as coisas que não podem faltar no lugar da celebração, o que você diria? É preciso uma Igreja para celebrar a liturgia? Qual é o seu lugar preferido para o seu encontro com Deus? Por que?... Eis algumas perguntas que poderão servir como introdução ao nosso tema, quem sabe, conversando com algumas pessoas da comunidade. A pergunta também pode ser formulada assim: A seu ver, parra que serve a Igreja? O que não pode faltar nela?..

As palavras-chaves que iremos trabalhar neste capítulo são: casa, templo, altar, ambão (estante), cadeira da presidência.

 

1 – A novidade: não temos templo.

 

A maioria das tradições religiosas possui seus lugares sagrados para o encontro com o divino e para o culto dedicado a ele. São árvores sagradas, fontes, rios, montanhas, grutas, templos, pirâmides, tumbas... O povo da primeira aliança – se bem que tem consciência de que o eterno não cabe em espaço definido – conhece lugares sagrados onde se faz a experiência de Deus. Lembremos apenas alguns deles:

 

. Abraão constrói um altar em Betel: Gn 12,6-9;

 

. Jacó tem um sonho muito significativo, também no monte Horeb (que significa casa de Deus) Gn 28,10-22.

 

. Moisés e povo de Israel encontram Deus no monte Horeb, onde recebem as tábuas da lei e celebram a aliança: Ex 3,1-22; 19, 1-25.

 

. Durante a caminhada de quarenta anos no deserto, a ‘ Tenda da Reunião’ com o sto rsscitado ‘santo dos santos’ e a ‘arca da aliança’ é o lugar da manifestação do Senhor e do encontro com o seu povo: 33,7-1; 40,1-15.34-38.

 

 Mais tarde, o templo em Jerusalém se torna ‘casa’  para o Senhor morar ( apesar da resistência dos profetas): 2Sm 7,1-17; 1Rs8 (principalmente vs. 1-13 e 26-40).

 

Mas, no tempo de Jesus, o templo de Jerusalém virou ‘uma casa de comércio’, na expressão de Jesus em Jô 2,16. Então, um novo templo é anunciado: a humanidade de Jesus, seu corpo ressuscitado será doravante o único ‘templo’, o lugar de encontro com Deus. (Jô 2,18-22). “ Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”, como escreve Paulo aos Colossenses (2,9) e é impossível restringi-lo a um espaço qualquer. A comunidade dos cristãos, a Igreja, como ‘corpo de Cristo’ no Espírito Santo, é também ela ‘templo espiritual’ onde se oferecem ‘ sacrifícios espirituais’, onde se adora Deus em Espírito e verdade (Cf. Ef 2,19-22; 1Pe 2

4-10; Jô 4

23). Por isso os cristãos eram considerados ‘ateus’, porque não tinham templo, nem sacrifícios ‘de verdade’ nem altares como os outros povos. É no encontro dos irmãos e das irmãs que o Ressuscitado se faz presente, estejam reunidos onde estiverem; a presença dele não está condicionada a um espaço físico.

 

            No entanto, os cristãos necessitam de um lugar par se encontrar em assembléia para ler as sagradas escrituras e celebrar a eucaristia em memória do Cristo ressuscitado.

 

 

    2- Um lugar de reunião para a comunidade

 

                    No inicio, reunia-se nas casas (At 2, 42-47; 20,7-12), como Jesus havia feito na sua última ceia, antes de sua morte, no cenáculo, no primeiro andar de uma casa (Lc 22, 7-13).  Na época da perseguição pelo Império Romano, os cristãos celebravam escondidos nas catacumbas; Os túmulos dos mártires serviam de altar. Depois de longo período de perseguições, o Imperador romano Constantino, concedeu a liberdade religiosa, em 313, e ofereceu as basílicas para as reuniões do numero crescente de cristãos. As basílicas eram espaços públicos para reuniões, para o comercio e para as sessões do judiciário; Foram adaptados para as reuniões litúrgicas e dedicadas ao culto. Era forte a referencia aos mártires. E, assim, volta à idéia de um templo, no lugar da casa da comunidade.

                    Em cada época da história, o tipo de construção revela a maneira de ser e de pensar da Igreja. Na Idade Media, as catedrais Góticas criam um presbitério maior, com amplo espaço para o coro dos monges que asseguram o oficio divino; Em lugar do Cristo Ressuscitado, é o Crucificado que ocupa o centro da liturgia; O povo já não tem mais participação ativa e busca as criptas onde se encontram as relíquias dos mártires. Na época da Contra-Reforma, a Igreja Católica quer se afirma contra as Igrejas Protestantes; Então, suas Igrejas se caracterizam pelo pomposo estilo barroco e o centro é, não mais o altar, mas o tabernáculo, insistindo nba presença real de Jesus Cristo na hóstia sagrada. No inicio deste século, surgem Igrejas neo-romanas e neo-góticas; representam como um refugiar-se no passado, por não conseguir se situar no mundo industrial. As Igrejas modernas, buscando acompanhar os ventos democráticos, querem funcionalidade e pretendem facilitar a participação.

                    A renovação conciliar situa-se nesta última corrente. Promovem ainda uma volta as fontes, restabelecendo a centralidade de Cristo Ressuscitado e do altar; o tabernáculo vai, de preferência, para uma capela à parte. O povo de Deus é de novo considerado como sujeito da liturgia e se agrupa em circulo ao redor do altar. A Igreja volta a ser casa da comunidade, para o encontro com Cristo Ressuscitado e para, com Ele, passar da morte para a vida. Igrejas antigas são adaptadas às novas exigências teológico-litúrgica, preservando, no entanto, seu valor histórico-artístico. Insistisse na funcionalidade, mas também no simbolismo que deve traduzir o mistério. Entendesse que tudo é simbólico, desde a forma da construção e os matérias utilizados, até as peças mais importantes como altar, ambão, a cadeira da presidência, ou ainda o círio pascal e as imagens, por exemplo.

            No Brasil, pós-Vaticano II, o surgimento das comunidades de base provoca a descentralização e multiplicação dos locais de celebração principalmente nas periferias das grandes cidades. O povo se reúne e celebra em casas, em barracos, debaixo de árvores, pontes, lonas de circo, em praças publicas, no alpendre de uma casa... Na medida em que  a comunidade se estabiliza e organiza, busca construir uma capela ou Igreja; deseja um lugar fixo, estável, bonito. Por tudo o que vimos, é importante, a comunidade discutir o projeto e colocar-se de acordo sobre o que se quer e porque. A Igreja de pedra deve ser como que um retrato, quem expressa a cara da comunidade, de sua fé e de sua cultura. Serve tanto para confirmar em sua identidade os que dela participam, como que para mostrar esta identidade aos de fora. A Igreja-construção é para ser sinal de Deus e de seu reino no contexto social e cultural, onde a comunidade está inserida; é para ser sinal da comunhão em Jesus Cristo Ressuscitado e no Espírito Santo que dá a vida, sinal da nova humanidade que queremos ser, na fraternidade, na solidariedade, na justiça e na paz...

            E é bom lembrar ainda que a Igreja de pedra, assim como a Igreja-gente é provisória; aponta para o futuro, para a assembléia definitiva de todos os povos na casa do Pai. Nenhuma construção deve impedir a Igreja de caminhar, de ser missionária, de andar pelos caminhos da história. Pois não temos aqui morada definitiva e somos discípulos e discípulas do Filho do homem que não tinha onde encostar a cabeça (cf Mt 8, 20). Os munerosos santuários antigos e novos, nos lembram essa nossa condição de romeiros, de peregrinos.

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