quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Mistagogia


 

 

 

Mistagogia-                            

Ir. Laíde Sonda- pddm       

 

O espaço é mistagógico quando acompanha a ação, está totalmente em função da ação e conduz ao mistério a partir dos sinais. É o visível manifestando o invisível.  

Os convido agora, a fazer uma experiência pessoal de tentar entrar num espaço e através dos elementos fornecidos pelas diversas orações  e textos do Ritual de dedicação sentir como ele pode levar-nos a penetrar nos mistérios celebrados.Na Sacramentum Caritatis, 35, o papa diz:

.. “T enha-se presente que a finalidade da arquitetura sacra é oferecer à Igreja que celebra os mistérios da fé, especialmente a Eucaristia, o espaço mais idôneo para uma condigna realização da sua ação litúrgica; de fato, a natureza do templo cristão define-se precisamente pela ação litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis ( ecclesia), que são as pedras vivas do templo.”

 

Ritual da dedicação de Igreja e de altar

 

Para falar de mistagogia do espaço de celebração não podemos fazê-lo sem reportar-nos ao Ritual de dedicação de Igreja e Altar. É no ritual que encontramos a teologia e o significado profundo de cada elemento que compõe o espaço. Já desde a sua introdução nos é apresentado no novo conceito de Templo, que supera o conceito anterior a Jesus. De fato a introdução quando o ritual fala da natureza e dignidade da Igreja, diz:

1. Por sua morte e ressurreição, Cristo tornou-se o verdadeiro e perfeito templo da Nova Aliança[1] e reuniu o povo adquirido. Esse povo santo, reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é a igreja[2] ou templo de Deus, construído de pedras vivas, onde o Pai é adorado em espírito e verdade[3]·. Com muita razão, desde a antiguidade deu-se o nome de “Igreja” também ao edifício no qual a comunidade cristã se reúne, a fim de ouvir a palavra de Deus, rezar em comum, freqüentar os sacramentos, celebrar a Eucaristia.

O próprio Jesus no diálogo com a samaritana no capitulo 4 do evangelho de João diz que o culto novo inaugurado por ele, não depende de lugar ; o verdadeiro culto dado a Deus é em espírito e verdade. O culto que  agrada a Deus é a entrega da vida. Na morte de Jesus o véu do templo de Jerusalém, rasga-se significando que acaba o antigo culto,do templo dando lugar ao novo templo, Jesus. “Destruí este templo e em três dias eu o reedificarei”. (Jo 2,19) E João acrescenta: “Ele falava do templo do seu corpo”. (Jo 2, 21).

O verdadeiro templo de Deus é o corpo imolado e glorificado de Jesus Cristo e nós somos os membros deste corpo, coedificados sobre o fundamento da pedra única, pedra angular.

O corpo de Cristo será o verdadeiro templo de Deus: nele a humanidade poderá unir-se a Deus, no tempo e no espaço e depois, na eternidade: “ Nós viremos a ele e nele estabeleceremos morada “ Jo.14,23  Isto aconteceu com Maria;nela ‘o Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós’, não só espiritualmente mas fisicamente, corporeamente.

 

 

Em Cristo,todos os cristãos também se tornam templos de Deus, moradas do [4]Espírito:

 “Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito habita em vós? (1Cor 3, 17).

A  igreja edifício  é somente sinal da verdadeira Igreja, dos verdadeiros templos. Para os primeiros cristãos isso era muito claro e a sua preocupação estava em edificar a Igreja antes de ter igrejas, lugares.O local da reunião era a conseqüência, uma necessidade que aos poucos foi sendo satisfeita e aperfeiçoada. Os cristãos são chamados a edificar sobre o único e verdadeiro templo, sobre o único fundamento Jesus Cristo. Ele é a pedra angular desta

 

edificação: “; e quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste edifício espiritual achegai-vos a Ele, pedra viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de  Deus, um sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais”. (1Pe 2, 4-5)

 

A introdução do ritual diz ainda: “Por ser um edifício visível, esta casa aparece como sinal peculiar da Igreja peregrina na terra, e imagem da Igreja habitante nos céus”.

A  edificação terrena, a igreja  é figura da Jerusalém celeste, a cidade santa, a esposa do cordeiro. Uma Jerusalém onde não há mais templo pois o Templo é o Cordeiro, e a sua glória, o seu esplendor a iluminam.(conf. Ap21).Vale lembrar que é imagem enquanto reúne uma comunidade-Igreja pois o edificio em si é uma costrução, que só existe porque há uma comunidade de fiéis que necessitam reunir-se.As moradas de Deus, as pessoas é que  conferem ao edifício o status de sinal de manifestação de uma presença de Deus no meio dos homens e por isso podemos chama-las de ‘casa de Deus’.

A medida que vamos vendo o rito, com as suas orações, os gestos iremos entendendo as demais imagens, a verdadeira iconografia do espaço.Por iconografia deve-se entender imagem. Qual a imagem que a igreja, o lugar da reunião da comunidade? A prece da dedicação vai nos mostrar isso.

 

Como se organiza o rito da dedicação:

Temos os ritos de fundação:

Benção do local e colocação da pedra fundamental

Oração:

Deus que envolveis o universo com vossa santidade, de tal forma que vosso nome é glorificado em todo lugar; abençoai estes vossos filhos que, por donativo ou trabalho  prestado preparam esta área para que aqui se levante uma igreja; e fazei que, com a mesma unidade dos corações e alegria dos espíritos, presentes a esta construção que hoje começamos , venham eles em breve celebrar neste templo os mistérios divinos e para sempre vos louvar nos céus. 

Diz o ritual que:No início da construção de uma nova igreja, convém celebrar um rito para implorar a benção de Deus sobre a obra e lembrar aos fiéis que a casa a ser construída de pedras será sinal visível da sua Igreja viva ou edifício de Deus formada por eles próprios.” (RDIA) 

Enquanto se constrói o templo, a casa a construção da comunidade deveria acontecer junto pois é a comunhão de todos que irá viabilizar o empreendimento e ela será Casa de Deus a medida que a comunidade for corpo de Cristo.

 

 

 

Colocação da primeira pedra.

Senhor Pai Santo, vosso Filho nascido da virgem Maria, o profeta o anunciou qual pedra talhada do monte, sem mão de homem, e o apostolo o designou imutável fundamento; abençoai esta primeira pedra aqui posta em seu nome. Concedei que ele, a quem estabelecestes princípio e fim de todas as coisas, seja desta obra o início, o incremento e termo.  

Onde é colocada a pedra ou o cruzeiro?

O próprio texto nos oferece uma dica preciosa. A quem se refere a pedra, simbolicamente ? É ao Cristo e na igreja iremos ver que o símbolo maior de Cristo é o Altar.

A pedra fundamental deveria ser colocada no ponto exato onde vai ser colocado o altar. Isto nos ajuda a perceber que o projeto deve ser completo saber exatamente onde se situam os elementos do espaço. Não há margem para as improvisações.

A conclusão do rito do lançamento da pedra fundamental é feita com uma oração:

A Deus Pai onipotente supliquemos, irmãos,queira fazer que aqueles que aqui se reúnem para a construção de sua nova igreja, se tornem um templo vivo de sua glória, edificados sobre Cristo, seu Filho, a pedra angular.

No dia da inauguração ou dedicação da igreja há a continuidade do rito.

Nada impediria que se meditasse ou se escolhessem leituras para alguma lectio durante o peíodo da construção, feitas no local. A  preocupação monetária não deveria ser a única, precisaria deixar espaço para que o espírito com sua ação fosse construindo os templos.

O rito da dedicação diz que no dia a comunidade sai de algum lugar, ou da antiga igreja e em procissão vai até a igreja nova. Vai rezando e salmodiando. O ritual propõe cantar os salmos graduais: Sl 121, Sl 24. Cantar o 122. Que alegria quando ouvi que me disseram...

As  portas estão fechas, alguma pessoa significativa, o mais velho, o líder da comunidade, o mestre de obra ou alguém que tenha contribuído na construção entrega a igreja ao bispo, pode ser auxiliado por alguém que descreve um pouco a igreja.

Convite- Convocatio

Os espaços e elementos que preparam a reunião são de grande importância:

Sino que, chama, que convoca a comunidade para o louvor.

Vimos acima como a chegada da procissão supõe um lugar diante da igreja.

 O jardim, o pátio deve ser o lugar da paz, da beleza que emana do próprio Cristo, de Deus criador, que nos fez para a comunhão com todos os seres da criação. (conf. Gn 2,15; Jo 19,41)

O átrio, lugar da transição, onde se prepara o espírito, se toma consciência do ser um na unidade. Espaço para inteirar-nos de tudo o que acontece na comunidade, acolhida mútua para poder celebrar levando as alegrias, dores esperanças uns dos outros à Cristo para que aconteça a nossa Páscoa na Dele. (Sl 84)

 

 

 

 

A Porta

“Entrai por suas portas dando graças, e nos seus átrios com hinos de louvor”.

Ó portas levantai vossos frontões! Que entre o Rei da glória

“ Em verdade em verdade eu vos digo;eu sou a porta das ovelhas.

Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo, entrará e sairá e encontrará pastagem.”

Jo 10, 7-9.    

A porta; transpor, passar, de um para outro mundo possível, onde a PORTA é o Cristo que nos leva para a liberdade, para as melhores pastagens, para a vida. 

O ritual sugere duas antífonas: “Oh portas, levantai vossos frontões para que entre o Rei da glória”! (Sl 23) ou “Entrai em suas portas dando graças e em seus átrios com hinos de louvor”. (Sl 99)

A comunidade simbolizada na edificação acolhe o Cristo como sua ‘cabeça’ e por Ele é acolhida.

Fonte batismal – A água- batismo

No ritual da dedicação o ato penitencial é substituído pela aspersão.

 Vejamos o texto da benção da água onde percebemos como ela faz referência ao batismo e a inserção dos batizados na comunidade eclesial.

Estamos aqui, meus irmãos, para dedicar solenemente este templo.

Peçamos com fervor ao Senhor nosso Deus que faça descer sua benção sobre esta água, criatura sua.

Com ela nos aspergiremos em sinal de penitência e em memória do batismo,

e purificaremos as paredes da nova igreja e o novo altar.

Venha também a nós o Senhor com sua graça e nos faça dóceis ao Espírito que recebemos e sempre fiéis em sua Igreja.

(Todos rezam em silêncio)

Ó Deus, por vós todas as criaturas chegam à luz da vida; mostrais tanto amor pelos homens que, não apenas os sustentais com paterna solicitude, mas ainda apagais seus pecados com o orvalho da    caridade, e incansavelmente os reconduzis a Cristo, nosso Chefe.

Por desígnio de misericórdia decidistes que os pecadores, mergulhados na fonte sagrada e mortos com Cristo, ressurgissem sem mácula; contados agora entre seus membros e co-herdeiros dos bens eternos.

Por vossa benção, santificai esta água, vossa criatura. Aspergida sobre nós e as paredes deste templo,

seja lembrança de nosso batismo, pelo qual, lavados em Cristo, nos tornamos templo do vosso Espírito.

Para nós, com todos os irmãos que nesta igreja, celebrarem os divinos mistérios, abri as portas da Jerusalém celeste.

Quase sempre, a fonte batismal é o primeiro sinal ou espaço que encontramos ao transpor a soleira. Ela nos lembra o batismo, sacramento que nos faz templos de Deus, habitação do Espírito e assemelhados ao Cristo no seu mistério de morte e ressurreição.

 

 

 

 

 

 

“Entre as partes mais importantes da igreja destaca-se com razão o batistério, isto é, o lugar onde está colocada a fonte batismal. Aí se celebra o Batismo, primeiro sacramento da nova Aliança, pelo qual  os homens, seguindo a Cristo na fé, e recebendo o espírito de adoção de filhos, são chamados, e são de fato, filhos de Deus; assemelhados à  morte e à ressurreição de Cristo, são inseridos em seu Corpo; recebendo a unção do Espírito, transformam-se em templo santo de Deus, em membros da Igreja, “raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, e povo de sua propriedade”.[5] Esta introdução já define por si só a importância simbólica do batistério e da fonte batismal mas é na oração de benção que aparece com mais clareza ainda: “Ó Deus criador do mundo, pai de todos os seres, é nosso dever dar-vos graças por nos concederdes abrir com rito solene, esta fonte de salvação de vossa Igreja”. Aqui se oferece um banho que torna puros, de uma candura nova, aqueles que a sordidez antiga do pecado recobrira; aqui a torrente lava os pecados e germina em virtudes novas; jorra uma fonte que emana do lado de Cristo, cujas águas matam a sede de vida eterna. Daqui, o facho da fé expande a luz, que afasta as trevas do coração e revela as coisas celestiais; aqui, os que crêem se associam à morte de Cristo para ressurgirem com ele para uma vida nova.

  Outra oração de benção da água do batismo vai lembrar de outra forma com mais detalhes os mesmos aspectos. “Enviai Senhor, sobre esta água, o sopro do vosso espírito; a força divina, pela qual a Virgem gerou o vosso unigênito, fecunde o seio da Igreja, vossa esposa, para que ela, ó Pai, gere para vós inúmeros filhos, e futuros habitantes do céu. Concedei, Senhor, aos que vão nascer desta fonte, cumpram por suas obras, o que com fé prometem, e manifestem em sua vida o que são por vossa graça. Não importa a diversidade de suas origens e condições, pois um só é o banho vital que nos irmana; que o amor, Senhor, revele os irmãos e a concórdia faça conhecer os concidadãos. Sejam filhos que refletem a imagem da bondade paterna, discípulos que guardam fielmente a palavra do Mestre, moradas que ressoam a voz do Espírito Santo. Sejam testemunhas do Evangelho, cultores da justiça; espalhem o espírito de Cristo pela cidade temporal que habitam, até o dia em que mereçam ser admitidos como cidadãos da Jerusalém eterna.”

Da oração fica claro que o batismo é um banho que gera novas criaturas, compromissadas com a unidade, a fraternidade a justiça, enfim com a Palavra, com o Cristo.

A água que jorra, é uma água fecunda, que gera vida, pois nasce do lado aberto de Cristo. Jesus Cristo se serviu deste elemento natural para comunicar-nos uma realidade mais profunda: a nossa inserção no seu mistério de Morte e Vida. Os padres da igreja explicam o que acontece com os cristãos quando imersos na água.

E como imitar Cristo na sua descida à mansão dos mortos? Imitando no batismo o seu sepultamento. Porque os corpos dos batizados ficam, de certo modo, sepultados nas águas. [...] ...reconhecemos um só batismo de salvação, já que é uma só a morte que resgata o mundo e uma só a ressurreição dos mortos, das quais o batismo é figura.( Do livro sobre o Espírito Santo de São Basílio Magno séc IV)

 Santo Ambrósio: Por que tu és imerso na água? Está escrito: Produzam as águas os seres vivos ( Ge 1,20). E nasceram os seres vivos. Isto aconteceu no início da criação. E como a água foi destinada a produzir a vida natural, ela foi destinada a regenerar-te pela graça”. E Tertuliano: “...A água primitiva gerou a vida, não nos surpreenda portanto o poder vivificante das águas batismais”. “As águas primitivas receberam a ordem de gerar os seres vivos (...) para que não nos maravilhemos se no batismo as águas ainda produzem a vida”.  A água é vista não só como elemento purificador, mas como elemento regenerador. Por isso que em muitas fontes batismais costumava-se colocar cenas e episódios bíblicos que fazem referência à água no sentido de devolver a vida; Noé na arca, Moisés salvo das águas, a passagem do mar Vermelho, Jonas etc. Águas que produzem a morte e a vida, como é dito na oração conclusiva do rito de benção do batistério: Ó Deus que comunicas-te aos cursos d’água uma força que pode ser de vida e de morte , concedei aos que se libertarem do pecado nesta fonte, sepultados com Cristo, ressuscitar também com ele...” e na oração de benção; “...aqui os que crêem se associam à morte de Cristo para ressurgirem com ele numa vida nova.”

 

 

São Cirilo, nas catequeses mistagógicas, diz: “...fostes conduzidos pela mão à santa piscina do divino batismo, como Cristo da cruz ao sepulcro que está à vossa frente. (...) E fizestes a profissão salutar, e fostes imersos três vezes na água e em seguida emergistes, significando também com isto,  simbolicamente, o sepultamento de três dias de Cristo. E assim como nosso Salvador passou três dias e três noites no coração da terra, do mesmo modo vós, com a primeira imersão, imitastes o primeiro dia de Cristo na terra, e com a segunda imersão a noite e a terceira com o dia... (...) E no momento  morrestes e nascestes. Esta água salutar tanto foi vosso sepulcro como vossa mãe.”[6]

O sentido do morrer e ressuscitar, estar inserido no mistério pascal de Cristo, na sua morte e ressurreição está bem implícito. Inclusive na construção da fonte ou piscina batismal. Durante todo o primeiro milênio cristão batizou-se por imersão. Nas piscinas batismais, amplas, quase sempre escavadas no chão, o acesso se dava através de três degraus que simbolizavam os três dias de permanência do Cristo no sepulcro. Era a realização plástica do que Paulo diz: “Acaso ignorais que todos nós batizados, no Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova”. (Rom 6, 3-4)

“ Quem desce Com fé a esse banho de regeneração renuncia ao demônio e entrega-se a Cristo; renega o inimigo e proclama que Cristo é Deus; renuncia à escravidão e reveste-se da adoção filial; sai do batismo, resplandecente como o sol , irradiando justiça ; e mais que tudo isso torna-se Filho de Deus e herdeiro com Cristo.” ( Sto. Hipólito)

Além do elemento água também a forma arquitetônica, o octógono, simbolizando o oitavo dia, o dia escatológico, sem tempo, dia novo, dia da ressurreição, era muito utilizada nas fontes batismais. A forma é obtida pela união de dois quadrados na circunferência simbolizando a união do terrestre com o celeste, do humano com o divino.

 “Hoje é o oitavo dia do vosso nascimento. Hoje  se completa em vós o sinal da fé que, entre os antigos patriarcas, consistia na circuncisão do corpo no oitavo dia depois do nascimento segundo a carne. Por isso, o próprio Senhor, despojando-se por sua ressurreição da mortalidade da carne e revestindo-se do corpo não diferente mas imortal , ao ressuscitar consagrou o “dia do Senhor”, que é o terceiro dia depois de sua paixão, mas na contagem semanal dos dias, é o oitavo a partir do sábado, e coincide com o primeiro dia da semana. (Dos sermões de Santo Agostinho, bispo séc V).

Além das formas octogonais temos também na tradição a forma exagonal que junta o X e o PX,o monograma de Cristo. O batizado de certa forma assume a forma, se conforma á Cristo.     

Outros elementos emergem a partir da oração de benção: a luz, a palavra, a porta. Os batizados eram também chamados de iluminados. Iluminados pela luz de Cristo, pelo ressuscitado, simbolicamente representado no Círio, que fica ao lado da fonte batismal, depois do tempo pascal.

A porta “... Aqui se abre a porta da vida do espírito, que é a porta da Igreja, para aqueles a quem se fechara a porta do paraíso.” A comunidade cristã acolhe, abre-se, para que novos membros, regenerados pelo banho da vida, edificados como templo do senhor, dela participam e juntos formam um único corpo, como diz Paulo: ”Sois membros do seu corpo”(Ef 5, 30). ”Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?” (1 Cor 6,15). “Vocês são corpo de Cristo e seus membros”( 1 Cor 12,27).

Faz sentido, portanto acolher e batizar perto do ingresso, da porta de entrada. Claro que não é o único espaço previsto, mas sempre concentra um grande poder simbólico. A referência ao menos a este sacramento poderia ser mantida, colocando-se uma bela pia de água benta, ou quem sabe a pia do batismo antiga que está perdida por aí, em algum canto, sem função.

            

 

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Assembléia

Já vimos como a assembléia desde o início do rito é o foco de tudo. Mesmo que se façam ritos e o intuito seja dedicar um espaço para a oração ele sempre é em vista da comunidade, ela é o templo primeiro.

Quando se entra na igreja há aspersão e a comunidade está, se coloca no espaço. Vamos interromper um pouco o rito para ver a conformação da assembléia. Já acima vimos que Paulo fala de corpo. Constituir assembléia é formar, é mostrar que somos e queremos ser “CORPO”. Isso não significa massificação,mas unidade no respeito e diversidade dos dons e ministérios de cada um.Falar da assembléia é pressupor  a ministerialidade a comunhão.

Segundo São Fulgêncio é na celebração que a Igreja se manifesta e se torna Corpo.

“A edificação espiritual do corpo de Cristo realiza-se na caridade, segundo as palavras de São Pedro: Como pedras vivas, formai um edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1Pd 2,5). Esta edificação espiritual atinge a sua maior eficácia no momento em que o próprio Corpo do Senhor, que é a Igreja, no sacramento do pão e do cálice, oferece o corpo e sangue de Cristo; o cálice que bebemos é a comunhão com o sangue de Cristo e o pão que partimos é a comunhão com o  corpo de Cristo. Porque há um só pão, nós todos participamos desse único pão. (conf 1Cor10,16-17).Por isso pedimos que a mesma graça que faz da Igreja o Corpo de Cristo, faça com que todos os membros, unidos pelos laços da caridade,  perseverem firmemente na unidade do corpo”.

Ora, se a comunidade se concebe como um corpo a configuração espacial deveria  sugerir coesão, unidade. Igreja, povo de Deus reunido para participar, celebrar, e celebrando tornar-se cada vez mais corpo no Corpo,.[7] (*)como diz São Leão Magno:”A nossa participação no corpo e no sangue de Cristo age de tal modo que nos transformamos naquele que recebemos”.[8] Comungar corpo para ser corpo.

 

Martimort, a partir do testemunho do Novo Testamento, estabelece sete coordenadas  fundamentais em relação à assembléia litúrgica.

  1- É a reunião do povo, convocado por Deus, reunido em algum lugar.(sýnasis)

2- É reunião de pessoas de todo tipo, não um cenáculo de puros, uma mistura de classes sociais, de línguas, de idades, algo sempre atual.

3- É um lugar de conversão, de ‘violência’ no sentido do esforço que é pedido a cada um para se deixar transformar pela presença do outro.

4- A assembléia nunca é completa, mas aberta aos outros, aos que estão ausentes aos que virão (daqui nasce o sentido de levar a comunhão aos ausentes por doença ou outro motivo). Por isso a solicitação feita na carta aos Hebreus: “ Estejamos atentos uns aos outros, para nos incentivar ao amor fraterno e às boas obras. Não abandonemos as nossas assembléias, como alguns costumam fazer. Antes procuremos animar-nos mutuamente” (Hb 10,25).

5- A assembléia é portanto manifestação da comunidade cristã, ’epifania da igreja’ .

6- A assembléia reforça a comunidade cristã suscitando a comunhão através da participação ativa.

7- A comunidade se estrutura a partir dos ministérios.

 

 

 

Vistas nesta perspectiva, as nossas igrejas  quase sempre pecam; são construídas em lotes longos e estreitos dificultando a organização do espaço de forma que a assembléia possa sentir-se participante, envolvida, estar ao redor dos vários pólos de celebração: altar, ambão etc...

Um presbítero da testemunho de como se deu a transição de um espaço longitudinal para um espaço mais envolvente mudando a disposição interna da igreja e comenta:     .

“Muitas coisas não são habituais: o estar um de frente ao outro. O olhar que não mais tem   que percorrer todo o comprimento da nave mas se dirige às pessoas que estão na frente e à parede lateral. A posição do altar que não é mais o único centro.O voltar-se antes para o ambão e depois para o altar. Tudo exige uma nova apreensão.... De outra parte há o ganho: a comunidade se reúne novamente, agora se sente que a comunidade são as pessoas, o grupo ao qual se pertence e a fé  une a todos. Não há mais anonimato mas pertença a comunidade. Comunidade somos nós unidos reciprocamente de forma que um pode escutar o outro, o que anteriormente haviasse perdido. A liturgia não é mais representação teatral, mas        celebração da comunidade . A liturgia tornou-se mais próxima , mais visível, mais  palpável. A oração comum ganhou qualidade, intensidade”.

        (Comentário sobre a reformulação do espaço de   celebração feito pelo pároco da igreja St. Albert, Lutz Schulz). 

Das  ‘igrejas corredor’ Rudolf Schwarz[9] diz: “Aqui falta a perspectiva dos olhos nos olhos, aqui ninguém vê o outro à sua frente, todos olham para frente. Aqui falta o intercâmbio quente das mãos, a entrega de pessoa a pessoa, a circularidade de uma ligação cordial, já que aqui cada um está solitário no contexto. Ombro a ombro, passo a passo simplesmente adicionados ao todo e alinhados linearmente segundo uma cruz axial, cada um acorrentado ao seu vizinho...A forma longitudinal deixa cada um sozinho no todo, o coração permanece na solidão. As pessoas não podem sentir-se cordialmente próximas, já que o esquema não tem um coração”.[10]

Outro fator que pode impedir a participação são os bancos.[11] Quando são muito longos, impedem qualquer movimento. Não é a toa que até o século XV não havia bancos. Começaram aparecer quando a homilia foi substituída por grandes momentos de pregação desligados da liturgia da palavra.

Lugares Rituais

Cadeira ou Cátedra – Presidência       

A cadeira, e a cátedra nas igrejas catedrais, é o ícone de  Cristo-cabeça que preside a comunidade, como expressa a monição sugerida na benção da cátedra. “Amados irmãos, louvemos a Deus nosso Senhor, “que se digna estar presente em seus ministros”, dedicados aos deveres sagrados, por meio deles ensinando, governando e santificando os fiéis;e peçamos a ele que faça sempre mais dignos os que exercem tão santas funções”.

O ministério do presbítero que é associado ao do bispo é: “Está à frente da assembléia reunida, preside à sua oração, anuncia-lhe a mensagem da salvação, associa a si o povo no oferecimento do sacrifício ao Pai pelo Cristo no Espírito Santo, dá aos seus irmãos o pão da vida eterna e participa com eles do mesmo alimento.

 

 

Portanto, quando celebra a Eucaristia deve servir a Deus e ao povo com dignidade e pelo seu modo de agir e proferir as palavras divinas, sugerir aos fiéis uma presença viva do Cristo.”[12]   

Parêntesis: (“ Participa com eles do mesmo alimento”) Nem sempre é verdadeiro este sinal. Por vezes há sobre a mesa somente o pão do padre e aquele  dos fiéis é o guardado no sacrário. Não é  o alimento daquele banquete para o qual o senhor convocou aquela assembléia concreta mas o alimento de outro banquete onde nem se sabe quando foi e do qual nem se sabe quem tomou parte. É uma lástima! 

Arquitetonicamente o espaço ocupado pelo presidente deve enfatizar a dignidade e o serviço desempenhado: ensinar, governar e santificar a comunidade. Esta dignidade não implica em fazer da cadeira um trono. É um local  e assento discreto o suficiente para diferencia-lo da cátedra do bispo; que também, não deve ter aparência de trono.

Segundo o Missal Romano “o lugar mais apropriado é de frente para o povo no fundo do presbitério, a não ser que a estrutura do edifício sagrado ou outras circunstâncias o impeçam, por exemplo, se a demasiada distância torna difícil a comunicação entre o presidente e a assembléia...” (IGMR 310).

O Missal diz que perto da cadeira do presidente estejam assentos para outros ministros. Esta não é uma invenção recente, do Concílio. Nas igrejas dos primeiros séculos havia bancos, ao lado  da cadeira da presidência para que ficasse claro que a comunidade se estruturava a partir de seus ministérios ou serviços desempenhados. Com efeito a celebração da Eucaristia é uma ação de toda a Igreja, onde cada um deve fazer tudo e só o que lhe compete, segundo o lugar que ocupa no Povo de Deus...(IGMR5).

Fica mais visível o sentido de corpo-celebrante, quando não se estabelecem separações demasiado evidentes entre clero e comunidade. Porém precisa tomar cuidado para não encher o espaço das ações rituais com cadeiras e apinhar o presbitério ou o local da mesa de forma que o desempenho das funções de cada um  fique prejudicado. “Concelebrantes, diáconos, acólitos, leitores, cantores e ministros da comunhão, quando são colocados próximos do altar, sentar-se de modo a não ofuscar o significado da sede presidencial ”.[13] Quando o espaço é muito pequeno é conveniente que os que desempenham estas funções fiquem junto da assembléia e se aproximem do altar somente no momento em que devem prestar o seu serviço. Exceção para o diácono e acólitos, claro que acólitos e diácono ficam perto da mesa, da cadeira.

Para os dois lugares acima, cadeira e local para os fiéis não há ritos especiais a não ser o da asperssão com água mas sempre e continuamente se refere á assembléia.

Continuando com o rito, após o ato penitencial tem a oração de Coleta e depois as leituras.   

Ambão

Oração de benção do ambão.

Ó Deus que vos dignais chamar a humanidade das trevas para a vossa luz admirável, é nosso dever vos dar graças, porque nunca nos deixastes faltar o alimento da vossa palavra e continuamente nos esclareceis, reunidos no espaço desta igreja, sobre as maravilhas da Escritura.

Fazei, Senhor, que neste lugar ressoe em nossos ouvidos a voz do vosso Filho a fim de que, seguindo fielmente as inspirações do espírito Santo, mereçamos ser não apenas ouvintes mas realizadores fervorosos.

Que os arautos da vossa Palavra nos mostrem aqui o caminho da vida, por onde, seguindo o Cristo Senhor , possamos chegar á vida eterna. (benção do ambão).

 

 

 

 

A liturgia não prevê  um rito, como para o altar e talvez isso se deva a um longo período de ausência de proclamação da palavra em nossas igrejas. Parecia até que Bíblia combinava com os protestantes e não com De católicos que ficaram com a “eucaristia” no seu aspecto mais devocional.

qualquer forma o que o ritual propõe realça a proclamação e nem tanto o lugar.

A leitor, diz a rubrica, se aproxima do bispo com o livro e o bispo o recebe sentado, depois levanta e diz:

“A palavra de Deus ressoe sempre neste templo e vos revele o mistério de Cristo e opere na Igreja a salvação.”      

Dito isto o leitor se dirige ao ambão e proclama a primeira leitura. As leituras sugeridas são muitas e múltiplas porém diz que a primeira sempre deve ser a de  Neemias 8,1-4ª, 5-6. 8-10.

  Neste texto se realça a convocação, a reunião: “todo o povo se reuniu como um só homem”, o espaço; “na praça   de fronte da porta das Águas”, o leitorpediu ao escriba Esdras que trouxesse o livro da Lei de Moisés”, o livro; “o sacerdote Esdras apresentou a lei diante da assembléia... Esdras abriu o livro”, a tribuna; “Esdras, o escriba, estava de pé sobre um estrado de madeira erguido para este fim... Visível a todos por estar mais alto”, o leitor; “leram clara e distintamente o livro da Lei”, a escuta; “... explicavam a lei ao  povo, que dos seus lugares escutava”.

  “O anuncio e a acolhida da lei de Deus faz nascer a comunidade do povo escolhido no pós-exílio. Este texto, lido na liturgia da dedicação quer dizer que na celebração, a escuta da Palavra e a adesão a ela pela fé, cria a comunidade e a constitui como assembléia litúrgica cultual”.[14] É o que diz também o Vaticano II: “O povo de Deus é reunido antes de tudo, pela palavra do Deus vivo”.

Tanto no ritual da dedicação como também no texto de Neemias a ênfase é dada ao leitor, ao livro, à escuta. Isto não significa que o ambão não tem importância. Se assim fosse não teria sido preparado um local para a proclamação, como relata o texto de Neemias. Ele é ícone, sinal, como diz a monição sugerida no Cerimonial dos bispos para a benção do ambão: Aqui viemos, irmãos, para inaugurar este ambão e destina-lo ao seu uso sagrado, a fim de que seja para todos nós o sinal daquela mesa da palavra de Deus que fornece o primeiro e necessário alimento da nossa vida cristã. Vamos participar atentamente desta celebração, ouvindo fielmente a Deus que nos fala, para que suas palavras nos sejam realmente espírito de vida”.

Neste sentido o ambão é o ícone espacial que antecipa e permanece na igreja como sinal do anuncio da boa nova de Jesus, Palavra do Pai, como salienta a oração de benção do ambão: Ó Deus, que, por excesso de amor, vos dignais falar-nos como a amigos, concedei-nos a graça do Espírito Santo, para que, experimentando a doçura da vossa Palavra, nos enriqueçamos com a eminente ciência do vosso Filho”. O texto faz lembrar do salmo 118.

“O Ambão, lugar da leitura das Escrituras, pertence de forma privilegiada à revelação judaico-cristã: o ambão não tem precedentes em outras religiões como é o caso do altar. O cristianismo e a sua liturgia, guardam em si, desde a origem, esta relação radical com a palavra de Deus: a eucaristia dos cristãos, desde sempre, se constitui de dois elementos fundamentais, a leitura das Escrituras, e a ação de graças sobre os dons. Nunca houve mesa do pão e do vinho sem a mesa da Palavra”.[15]

No entanto, durante alguns séculos deu-se pouco valor à palavra e por isso até o lugar de sua proclamação havia deixado de existir. O concílio Vaticano II resgata a palavra e o lugar da proclamação.

“As duas partes de que se compõe de certa forma a missa, isto é, a liturgia da palavra e a liturgia eucarística, estão tão estritamente unidas que formam um só ato de culto”. (SC 56) E na Dei Verbum diz: “A igreja sempre venerou as Escrituras, como também o próprio corpo do Senhor, sobretudo na sagrada liturgia, nunca deixou de tomar e distribuir aos fiéis, da mesa tanto da palavra de Deus como do corpo de Cristo, o pão da vida”. (DV21)

Segundo São Jerônimo: “...a carne do Senhor é verdadeiro alimento e o seu sangue verdadeira bebida (...) Nós  temos este grande dom: comer a sua carne e beber o seu sangue não somente no mistério da Eucaristia, mas também na leitura da Sagrada Escritura. O conhecimento da Sagrada Escritura é verdadeiro alimento e verdadeira bebida, que recebemos da Palavra de Deus”.

Na mesma linha vai a reflexão que o então cardeal Ratzinger fazia comentando SC56:  “A Igreja recebe o pão da vida da mesa da Palavra e da mesa do Corpo de Cristo; dessa forma ela honra as sagradas escrituras como o próprio corpo do Senhor...”

O lugar privilegiado onde a palavra de Deus está presente, age e atua é a liturgia. Na liturgia a palavra não é somente proclamada, mas, ela é atualizada: por parte de Deus como ensinamento e graça, por parte da pessoa como louvor, súplica, pedido de perdão.Isto  acontece sempre  por Cristo no Espírito Santo.

No espaço litúrgico a Palavra abrange diferentes espaços, mesmo que o ambão seja o lugar do Cristo Palavra.

A Assembléia, reunida no nome de Cristo, recebe a palavra, escuta, eleva a Deus o louvor. Imaginemos as pessoas como morada da palavra: acolhida, ruminada e levada a cumprimento na vida. 

A presidência, que na pessoa de Cristo, preside a celebração litúrgica e também o anúncio da Palavra, buscando manifestar a continuidade e a autenticidade da mesma, com a tradição. A homilia que faz a ligação prática da Palavra com a vida cotidiana, para que os fiéis possam expressar na vida aquilo que receberam pele fé.

Livro, ícone da Palavra; nele materialmente está contida a palavra de Deus escrita. Muitas pessoas morreram para defender estes livros. Há na história da igreja belíssimos exemplares de Evangeliários que testemunham como a apresentação da Palavra era tida em conta e como fosse venerada. Além de invólucro havia também o esmero na apresentação, as miniaturas ilustrando os livros sagrados.

Como são os nossos livros, onde estão?Na Instrução do OLM 24, diz que: “Os livros nos quais é extraída a Palavra de Deus, os ministros, os gestos rituais, o lugar onde é proclamada devem suscitar nos ouvintes o sentido da presença de Deus que fala ao seu povo”. 

Os Sacramentos, todos tem ligação com a palavra. A Palavra é proclamada e atualizada no rito, no gesto sacramental.

A iconografia, no espaço de celebração é uma das fontes onde deve ecoar a Palavra sempre. Conduzir os fiéis para dentro dos mistérios ela deveria ser evocativa, narrativa. São Gregório, século VII, dizia ao bispo de Marselha que a “a pintura ensina aos analfabetos aquilo que a escrita ensina aos letrados. São João Damasceno dizia que:” aquilo que a bíblia é para as pessoas instruídas, a pintura, o ícone é para os analfabetos: aquilo que a palavra é para o ouvido, o ícone é para a vista”. 

As diferentes instâncias de proclamação e acolhida da palavra não diminuem a importância do ambão que nunca deixou de ser para os cristãos símbolo muito forte do “ jardim do sepulcro vazio, do jardim do Édem.

Deus brindou-nos com a Vida. A vida presente na criação que depois é destruída pela morte e o pecado mas devolvida num outro jardim, aquele do sepulcro do Cristo.A mulher Eva, portadora da morte  é suplantada pela mulher Maria Madalena que anuncia a  Vida, a Ressurreição. O grande ícone desta vida, junto do ambão é o Círio Pascal.

Belo exemplo de ambão na atualidade é o da igreja de Santo Pio de Petrelcina na Itália. Plasticamente retoma o lugar amplo, como eram os ambões até a idade média, onde cabiam, leitores, salmista e diácono. Está localizado mais perto da assembléia e valoriza a Palavra como convocação, O Cristo no meio dos seus, ele, o Verbo feito carne.

O lugar é tão importante tanto quanto o leitor. Se o ambão é símbolo do lugar do encontro e leitor, por sua vez é sinal  de Cristo que fala. Empresta seu corpo para que a Palavra se faça carne. O texto de Giuliano Zanchi diz:  As palavras têm corpo. A verdade que essas expressam, não coincide somente com o conceito que contêm. O conceito pode até soar incerto ou enganoso não fosse a expressão da voz e do rosto. O conteúdo pode ser exato, mas nem sempre depõe a favor da verdade. Aquilo que torna manifesto e o sentido autentico e verdadeiro das palavras normalmente está escondido no brilho do olhar, no tom da voz, na mímica do rosto, no movimento do corpo. Nisto a pessoa humana é de uma transparência infalível. As palavras dizem por que o corpo fala. As palavras escritas por vezes criam equívocos pela falta de reforço corpóreo. Basta o tom, o mexer dos lábios, uma olhada; e uma frase que poderia soar mal pode se tornar um jogo afetuoso ou ao contrário, aquilo que parecia uma cordial saudação pode se tornar um instante de sutil maldade. O modo como as coisas são ditas pertence em profundidade ao conteúdo que elas querem dizer. È a pessoa inteira que fala. A palavra sempre deve fazer-se carne para que nela resplandeça a verdade.

         Quando a pessoa celebra momentos importantes na vida, a sua palavra se torna solene, o corpo se transforma lugar de proclamação... Bastaria pensar ao dia em que uma criança pela primeira vez se ergue, e cheia de orgulho grita de maravilha, é o discurso inaugural. Mas nas boas ocasiões o homem, estando de pé, consegue criar unidade, formar corpo, com o som de sua palavra. Neste caso se diz que ele “tomou a palavra” como se o que tivesse para dizer lhe tenha sido dado por alguém, como se a faculdade de dizer viesse como dom de um outro, e expressando-se estaria manifestando a vida, que está presente no seu corpo. O homem sempre pode se servir da palavra porque a palavra é uma ordem que o precede. A palavra é sempre dada. Pode ser oferecida porque desde sempre ela é recebida.

Para dizer com as palavras do biblista, o homem sempre fala no Verbo. Esta condição do falar humano é particularmente manifesta e evidente na liturgia. Na liturgia a palavra é tomada como texto e propagada pelo som, pela voz. O texto não necessariamente deve ser escrito. O texto é também conto conservado na memória e renovado pela voz. Foi assim que a primeira geração dos cristãos confeccionou os textos da memória oral de Jesus. Eles viviam do contar. Muitas vezes Paulo diz que testemunha aquilo que ele mesmo ouviu. Por duas vezes, nas primeiras páginas dos Atos dos apóstolos (1, 15; 2,14), se conta que Pedro, estando no meio dos que foram chamados, se levanta e toma a palavra; o que tem para dizer é o que aconteceu no meio deles. Tem uma grandeza e uma eloqüência dos gestos mais elementares, que nunca podemos perder de vista.

O ambão mais belo, no fundo é a pessoa de pé com o livro oferecendo o seu testemunho. Tudo o que se pode construir para ampliar este ato primário será somente um reflexo. Quando se constroem ambientes se criam  extensões do próprio corpo”. (La forma della Chiesa, Zanchi Giuliano, pág.55-57)         

Onde colocar o ambão? Qual o local melhor para ele?

Se o ambão se localiza muito próximo do altar ou da presidência os gestos  que conferem dignidade à palavra (procissão e ostentação do lecionário e do evangeliário)  perderão  força de  expressão e solenidade. Como seria interessante ter que andar um pouco mais e porque não, fazer com que a assembléia se desloque para perto do ambão? Uma assembléia estática, sem movimento, é mais espectadora, menos participante.

Geralmente nossos ambões não comportam mais que uma pessoa e não têm a mesma imponência do altar. Se parecem com estantes, móveis usadas pelo comentarista, quando necessário. O missal enfatiza que a dignidade da palavra de Deus requer um lugar digno para o seu anuncio, lugar para onde deve convergir a atenção de todos no momento da proclamação (conf. GMR 309). O ambão segundo a sua etimologia significa lugar alto, lugar envolvente, lugar ocupado por alguém que se põe na frente. Precisaria fazer jus ao termo e quem sabe, encontrar a forma e o tamanho de ambão adequados para cada espaço.

A partir das considerações acima e da estreita ligação entre palavra e eucaristia não podemos pensar espaços de celebração sem altar e ambão. A tendência é concentrar tudo num único presbitério. Quem sabe, não fosse interessante pensar o espaço a partir das duas mesas, que se apresentam não de forma simultânea, mas subseqüente, contribuindo para uma compreensão maior do que se celebra e uma participação mais intensa, envolvendo também o corpo? Para nós que vivemos num país onde se celebra mais a palavra que a “eucaristia” nunca deveria faltar também e, sobretudo o ambão.

Altar

Prece de dedicação do Altar

     

Nós vos agradecemos, Senhor, e vos bendizemos, por terdes com inefável bondade decidido que, passadas as várias figuras, se completasse em Cristo o mistério do altar

Nós vos agradecemos, Senhor, e vos bendizemos, por terdes com inefável bondade decidido que, passadas as várias figuras, se do altar completasse em Cristo o mistério

Noé, segundo pai do gênero humano, acalmadas as ondas, ergueu um altar e vos ofereceu um sacrifício, que aceitastes, qual suave perfume, renovando com os homens a aliança do amor.

Abraão, pai de nossa fé, aderindo de todo coração à vossa palavra, construiu um altar, no qual, por não poupar Isaac, o filho dileto, vos atendeu.

Moisés, mediador da antiga Lei, edificou um altar que, aspergido com o sangue do cordeiro, misticamente prefigurava a ara da cruz.           

Todas essas figuras Cristo levou à realidade pelo mistério pascal.

Nós vos rogamos, Senhor, derramai a santidade celeste sobre este altar erguido na casa do vosso povo; que se torne para sempre dedicado ao sacrifício de Cristo e seja a mesa do Senhor, junto da qual vosso povo se renove no banquete divino.

Seja-nos esta pedra polida símbolo de Cristo, (se o altar não for de pedra, mas de outra matéria se diz:) Seja-nos este altar símbolo de Cristo, de cujo lado ferido correu água e sangue, os sacramentos que fazem nascer a Igreja.

Seja a mesa festiva, para onde os convivas de Cristo acorram alegres e, colocando em vossas mãos cuidados e trabalhos, se reanimem com novo vigor para a nova jornada.

Seja o lugar de íntima comunhão e de paz convosco, em que, alimentados com o Corpo e o Sangue de vosso Filho, imbuídos do vosso Espírito, cresçam no amor

Seja fonte da unidade da Igreja e concórdia dos irmãos; reunidos os fiéis junto dele, bebam o espírito da mútua caridade.

Seja para nós o centro de louvor e gratidão, até chegarmos jubilosos aos tabernáculos eternos, onde com    Cristo, Sumo Pontífice e Altar vivo, vos oferecemos o perene sacrifício de louvor. Cristo, que, sendo Deus, convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

Seja para nós o centro de louvor e gratidão, até chegarmos jubilosos aos tabernáculos eternos, onde com Cristo, Sumo Pontífice e Altar vivo, vos oferecemos o perene sacrifício de louvor.

Cristo, que, sendo Deus, convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

A oração inicia evocando três altares do antigo testamento: o altar de Noé, de Abraão, de Moisés. Estes altares eram figuras proféticas daquilo que se realizaria em Cristo, na sua páscoa. Ele, na cruz, se oferece ao Pai (Isaac), para destruir os pecados do mundo (Noé), e estabelecer uma nova aliança (Moisés).

Na oração, no momento epiclético, se roga ao senhor para que o altar seja:

-lugar dedicado ao sacrifício de Cristo.

-mesa do Senhor onde o povo se renove no banquete divino.

-símbolo de Cristo, de cujo lado aberto correu sangue e água, sacramentos que fazem nascer a igreja.

-mesa festiva para a qual acorrem alegres os convivas.

-lugar de íntima comunhão e de paz..., imbuídos pelo Espírito, cresçamos no amor.  

-fonte de unidade da igreja.

-Seja o centro do louvor e da gratidão.

Este texto condensa tudo o que podemos dizer do altar. Não é uma mesa qualquer, traz presente para a assembléia o Cristo pascal, como é apresentado no do prefácio V da Páscoa: “Confiante entregou em vossas mãos seu espírito,... revelando-se, ao mesmo tempo, sacerdote, altar e cordeiro”.

Eis porque o altar é único, não podemos ter outros. A ele reverenciamos com o beijo. É o símbolo eminente de Cristo. Nada se lhe sobrepõe e muito menos escondê-lo com excesso de toalhas, flores, cadeiras colocadas à sua frente.

O altar cristão nasce e tem origem na mesa da ceia do Senhor com os seus discípulos. É a mesa preparada na sala  de cima, lugar nobre, que aconchega, onde o Senhor vive com os seus discípulos um momento de intimidade, de partilha, de refeição, de despedida.

Esta ceia, segundo explicito pedido do Senhor deverá ser perpetuada e repetida pelos seus: ”Fazei isto em memória de mim”. Paulo chama o altar de mesa, 1Cor10,21).

“Frédéric Van de Meer, patrólogo e arqueólogo, num livro sobre as descobertas feitas assim fala do altar e da eucaristia celebrada por Santo Agostinho na principal basílica da cidade. (Nesta época as basílicas tinham na abside a cátedra e o altar era colocado mais perto da assembléia).

Agostinho desce os degraus que separam a cadeira que esta situada na abside e  se dirige ao altar colocado mais no centro da nave sob o olhar atento dos fiéis;

...  Cálices e pratos com o pão são colocados sobre o altar: são as únicas coisas presentes sobre a  mesa, sobre a toalha branca, e o brilho do ouro puro resplandece sobre o candor do linho. O silêncio é absoluto. Inúmeras luzes brilham nos lampadários. Agostinho avança até o altar, e de pé, sozinho dentro do espaço circundado, diante da pequena mesa revestida de branco, estende ainda uma vez as mãos. ”[16]

Deste texto percebemos que o altar não é grande. Que há um respeito seja com relação ao lugar que está circundado talvez pelo cibório ou elementos no piso que definiam o espaço do altar mas, sobretudo no silêncio das pessoas.Que o clima é festivo, pascal: as luzes brilhando as toalhas brancas...

Do piso do altar Van de Meer diz:

“O Altar se ergue esbelto e imaculado sobre um campo de cores azuis, verdes e brancas. Sobre a mesa não há nem flores nem velas. Nada além da toalha branca sobre ele: “ele espera”, aguarda”.[17]

Podemos ver de forma muito rápida a oração de dedicação do altar e sentir  como o altar não é um objeto mas alguém...que só percebemos se nos deixamos conduzir para dentro do mistério que nele se celebra.

Mas antes alguns elementos importantes destacados já na introdução do Ritual:

O ritual tem um item sobre a natureza e dignidade do altar

1-   Cristo é apresentado como a vítima, o sacerdote, o altar do seu sacrifício (retoma a carta aos Hebreus, 1,3)

2-   Diz que “Cristo, Cabeça e Mestre é o verdadeiro altar; seus membros e discípulos são também altares espirituais, oferecendo a Deus uma vida santa......” e cita diversos padres da igreja. 

3-O altar é mesa do sacrifício e do banquete... Santificou a mesa em torno da qual os fiéis se reuniriam, a fim de celebrar a sua Páscoa. Por conseguinte o altar é a mesa do sacrifício e do banquete; nela o sacerdote, tornando presente o Cristo Senhor, realiza aquilo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem em sua memória....

4-   O altar, sinal de Cristo

O altar cristão por sua natureza, é a mesa própria para o sacrifício e o banquete pascal; mesa onde o sacrifício da cruz se perpetua, até a vinda de Cristo. Mesa onde os filhos da igreja se congregam para dar graças e para receber o Corpo e Sangue de Cristo.

Portanto, em todas as igrejas o altar é “o centro das ações de graças oferecidas pela Eucaristia, para o qual de algum modo todos os ritos da igreja convergem”.

5-   O altar honra dos mártires.

A dignidade do altar está toda inteira em ser ele a mesa do Senhor. Não são os corpos dos mártires que honram o altar, mas muito ao contrário: é o altar que nobilita o sepulcro dos mártires... Neste item fala-se das relíquias, sua colocação e diz-se ainda que o testemunho dado pelos mártires possui força espiritual e que suas relíquias, postas debaixo do altar expressam de modo total e íntegro.

Ainda temos as rituais ações que mereceriam ser analisadas, pois trazem uma riqueza muito grande:

 

Ações rituais : unção, incensação, revestimento e iluminação.

A unção do altar com o crisma expressa a dignidade e a missão de Cristo, o ungido do Pai por obra do Espírito Santo, como sumo sacerdote da nova aliança; a queima do incenso sobre o altar significa que o sacrifício de Cristo, chega a Deus Pai como agradável perfume; a iluminação do altar mostra Cristo como luz que ilumina todos os povos e a sua Igreja”.[18]

Santo Agostinho comentando o salmo 44,8: “Quem é o ungido de Deus? Deus, é o ungido por Deus; quando ouves dizer o ungido, compreendes que é Cristo. Porque Cristo deriva de Crisma; este nome Cristo significa unção... Deus é ungido por Deus com qual óleo, senão o óleo espiritual? De fato o óleo visível está no símbolo, o óleo invisível no sacramento, o óleo espiritual está no íntimo. Deus foi ungido por nós e enviado a nós; e o mesmo Deus para ser ungido torna-se homem, mas era homem de tal forma que era Deus, e era Deus que não subestimou ser homem: verdadeiro homem verdadeiro Deus (...)

É, Deus-Homem e, portanto Deus ungido, porque é homem Deus tornou-se Cristo”. [19]  

“O Espírito Santo tem, no sacrifício de Cristo a mesma função que tinha o fogo nos sacrifícios antigos.... Somente o agradável e Deus e instrumento eficaz de salvação”.[20]

Nas antigas basílicas cristãs havia um elemento arquitetônico construído sobre o altar que enfatizava a ação do Espírito, o cibório, que nós conhecemos como  baldaquino. Não precisamos fazer hoje a mesma coisa, mas as luzes sobre o altar, as velas que são colocadas ao redor, ou até uma abertura zenital podem restituir às nossas igrejas esta riqueza simbólica

O cibório no Ocidente desaparece quando se o espírito Santo se eclipsa na teologia sacramentaria, e não se deve perguntar se por acaso isto não esteja em relação com a presença do espírito Santo na celebração do sacrifício eucarístico. Sugerem este significado as mistagogias como a de Germano de Constantinopla, que partindo da etimologia  caldéia Kib (arca) e Ura (fogo) compara o cibório com a arca da aliança onde dois querubins velavam a misteriosa e invisível presença de Deus sobre o propiciatório no santo dos santos. Um hino da liturgia siríaca traduz em canto a intuição de Germano: “Moisés estabeleceu a tenda para Israel e colocou o altar da propiciação, mas o Espírito Santo não desceu sobre o sacrifício. Ao contrario, sobre este altar santo, que é chamado casa de Deus, o espírito penetra e paira sobre o sacrifício. (V. A.Gli Spazi della celebrazione rituale pág. 73).

 Também podia ser símbolo da nuvem luminosa que na peregrinação do povo no deserto cobria a tenda do encontro, a nuvem que envolverá o Cristo na Transfiguração  

Iluminação

A Luz resplandeças na igreja e conduza os povos à plenitude da verdade.

“... Jesus Cristo é a luz que ilumina os olhos da nossa fé e os habilita a vê-lo e conhece-lo e nele ver e reconhecer o Pai. “Quem me viu, viu o Pai”. (Jo 14,9)”.[21]

Incensação

Suba nossa oração, Senhor, qual incenso diante da vossa face. Assim como esta casa suavemente perfumada, assim a vossa igreja faça sentir a fragrância de Cristo.  

A incensação de que sobem até lembra as preces e o louvor Deus todas as criaturas.              

Na liturgia maronita no final da celebração o altar é saudado assim: “Fica em paz, santo altar do Senhor. Eu já não sei se voltarei a ti. O Senhor me conceda de ver-te na assembléia dos primogênitos que estão no céu; nesta aliança coloco a minha esperança. Fica em paz, altar santo e propiciador... Fica em Paz, santo altar, mesa de vida, e suplica por mim ao Senhor Jesus Cristo, para que eu não cesse de pensar em ti”.[22]

É evidente que o autor se refere ao altar não como a um móvel, mas uma pessoa querida, com a qual deseja se encontrar.

Também nós em sinal de reverência nos inclinamos ao passar pelo altar e o saudamos com o beijo no início e no final da celebração.

Capela do Santíssimo ou colocação do sacrário.

 Oração de benção do tabernáculo ou sacrário

“Senhor, Pai Santo, que destes aos homens o verdadeiro pão do céu, dignai-vos lançar a benção sobre nós e este tabernáculo, preparado para guardar o sacramento do Corpo e do sangue do vosso Filho, a fim de que nós, adorando a Cristo aqui presente, sejamos sempre levados a unir-nos ao mistério da redenção”.

A oração faz referência ao Pão recebido, à comunhão, e pede que o senhor abençoe as pessoas e depois o tabernáculo onde se guarda a eucaristia. Deduzimos que nós somos os primeiros tabernáculos; recebemos o senhor como alimento e bebida, e por isso mesmo somos abençoados juntamente com o tabernáculo material, que irá guardar a reserva eucarística.

Na oração final do rito aparece outro elemento importante: “... enquanto meditamos sobre o amor do vosso Filho, que vive entre nós, freqüentemos, também, com fruto o sacramento que é memorial de nossa salvação”.

O local da reserva é um local de oração, de meditação.  Meditação sobre a obra da salvação; o amor manifestado a nós pelo Senhor Jesus, na sua entrega ao Pai. Porém, é importante participar do sacramento-memorial, a celebração da Eucaristia.

Já no longínquo 1952 Pio XII chamava atenção para uma diferença importante sobre a Reserva e a Celebração da Eucaristia: “... o altar é superior ao sacrário porque nele se oferece o sacrifício de Cristo. O tabernáculo encerra sem dúvida o sacramentum permanens: mas não é um altar permanens, porque o Senhor se oferece somente sobre o altar, durante a celebração da santa missa, nem depois e nem fora da missa. No tabernáculo Ele está presente até que duram as espécies eucarísticas sem, no entanto que ele se ofereça permanentemente... mas mais importante que o conhecimento dessas diferenças é saber que é o mesmo Senhor que se imola sobre o altar e que se venera no tabernáculo...”. Esta mesma compreensão de momentos e realidades diferentes é assumida posteriormente pela instrução Inter Oecumenici de 26 de setembro de 1964: “em virtude do sinal, é mais conveniente à natureza da própria celebração, que o Cristo, não esteja eucaristicamente presente, desde o início, onde se celebra a Eucaristia; de fato a presença eucarística de Cristo é fruto da consagração e como tal deve aparecer”. A igreja, portanto tem sua centralidade no altar e por isso se almeja que em cada igreja haja para a reserva da Eucaristia um espaço adequado, devidamente decorado, belo, digno que favoreça a oração pessoal, a capela do Santíssimo. Esta capela, segundo a rubrica 919 contida no ritual de benção da capela do Santíssimo, “nos lembra duas coisas: a presença do Senhor, que deriva do sacrifício da missa e os irmãos, que devemos abraçar com o amor de Cristo. Com efeito, a igreja, administrando os mistérios que lhe foram confiados por Cristo Senhor, originariamente conservou a Eucaristia para benefício dos enfermos e agonizantes. Este alimento celeste, guardado nos sacrários das igrejas, começou a ser objeto de adoração dos fiéis”.

A igreja guarda a tradição da adoração também. É um outro momento, separado da celebração, porém, sempre faz referência ao mistério celebrado. Como já dito acima, quando há igrejas muito grandes pode haver na capela do santíssimo um altar menor para celebrações com pouca gente. Neste caso ter o cuidado para que a ênfase do sacrário permaneça e o altar móvel possa ter o seu lugar adequado, sem tornar-se um objeto qualquer.

A finalidade da capela é justamente esta: favorecer a oração pessoal, em momentos distintos da celebração. Seria muito oportuno que a capela do Santíssimo pudesse ficar aberta durante todo o dia para favorecer a oração. Como há uma certa confusão por vezes se misturam dois momentos bem distintos, celebração e adoração.

O papa Bento XVI no documento Imensae Caritatis diz que o local para a reserva é a capela do santíssimo. Nas igrejas antigas onde não há uma capela, o tabernáculo pode permanecer no antigo altar-mor, deixando o devido espaço entre o antigo altar e o novo. Se não há outro lugar ficará no presbitério, colocado não de forma que concorra com o altar, ou que um desvalorize o outro.

Sobre o sacrário se diz que deve ser fixo, sólido, inviolável, não transparente. (conf IGMR 314) “Conforme antiga tradição mantenha-se perenemente acesa uma lâmpada especial junto ao tabernáculo, alimentada por óleo ou cera, pela qual se indique e se honre a presença de Cristo”. ( IGMR 316) 

 

O Lugar da Reconciliação

Existe um rito de benção para o local da reconciliação; Benção do Novo Confessionário. Nele se diz que ao se proceder ao rito de benção o presbítero exorta o povo com estas ou outras semelhantes: “O rito da benção, de que nós participamos com fé, sugere antes de tudo, uma grande ação de graças ao Senhor, que manifesta o seu poder principalmente perdoando os pecados e tendo misericórdia de nós...” [23] 

O local deverá ser de ação de graças pela misericórdia do Senhor. Isto sugere que se formos usar algum ícone, privilegiar tudo o que nos fala da misericórdia de Deus: Bom Pastor, Filho Pródigo, Samaritano (?), Samaritana, a Cruz,etc. Tudo isto poderá inclusive estar no local mais próximo de preparação imediata.

Tal iconografia seria uma catequese na linha do que se diz na oração de Benção:

“É nosso dever e nossa salvação dar-vos graças, sempre e em toda a parte, Deus eterno e todo-poderoso, que corrigis com justiça e perdoais com clemência, sempre com misericórdia, pois vós nos cercais de cuidados...  

O Ritual da penitência fala do lugar da celebração do sacramento na introdução cap.IV.

“O sacramento da penitência, a não ser que haja justa causa, normalmente é celebrado na igreja ou oratório.

Quanto ao confessionário, estabeleçam-se normas pela Conferência dos bispos, cuidando-se, porém, que haja sempre em lugar visível confessionários com grades fixas entre o penitente e o confessor, os quais possam usar livremente os fiéis que o desejarem”.

Esta indicação é complementada pelo cân 964 & 2:

 O local apropriado para ouvir confissões seja normalmente o confessionário tradicional, ou outro recinto conveniente expressamente preparado para essa finalidade.Haja também local apropriado, discreto, claramente indicado e de fácil acesso, de modo que os fiéis se sintam convidados à prática do sacramento da penitência”.

O local portanto deve estar dentro ou no conjunto do espaço de celebração.Isto poderá tornar mais visível que ... “A igreja inteira, como povo sacerdotal, age de diversos modos no exercício da obra da reconciliação que Deus lhe confiou. Porque não somente chama à penitência por meio da pregação da palavra de Deus, como também intercede pelos pecadores e com solicitude maternal ajuda o penitente a reconhecer e confessar suas faltas, para alcançar a misericórdia de Deus, único que pode perdoar os pecados. (...) a própria Igreja torna-se instrumento da conversão e da absolvição do penitente pelo ministério que Cristo confiou aos Apóstolos e seus sucessores.[24]

Existe certo medo de propor algo novo com referência ao local, isto no meu ponto de vista. Talvez  porque ainda se vê o sacramento muito ligado ao individual, secreto, íntimo. Porem, isso não deve ser desconsiderado nas propostas dos novos locais, mas justamente equacionado.

Se for o lugar do carinho, da misericórdia e do cuidado deverá transparecer isto, primeiro no ministro, mas também através do espaço; iluminação adequada, aconchego, isolamento acústico, ventilação necessária e onde houver necessidade, até a calefação.

Vamos ver um espaço pensado para a reconciliação na basílica de Santa Rita de Cássia- Itália.

Uma fonte no ingresso- Elo com o batismo

Na porta- As virtudes cardeais- Prudência – Justiça- Fortaleza e Temperança.

Sala da acolhida- escultura do Pai Bondoso, (Filho Pródigo), a Videira, o Arco-Íris; símbolo da aliança.

Salas da reconciliação ao redor de uma capela onde tem o crucificado

Sala da Ação de Graças- As sandálias do Filho – Cristo Ressuscitado.

Apesar de contemplar muitos espaços e símbolos me parece que há um sentido e uma mistagogia neste itinerário ou percurso de reconciliação.

Para quem deseja ver a prece da dedicação e fazer uma lectio está ela a  seguir.

Prece da dedicação

Deus, Santificador e guia de vossa Igreja, com festivo precônio é-nos grato celebrar vosso nome, porque hoje o povo fiel com rito solene deseja consagrar-vos para sempre esta casa de oração, aonde venha vos adorar, instruir-se pela palavra, alimentar-se pelos sacramentos.

Este templo é sombra do mistério da Igreja, que Cristo santificou com seu sangue,

para trazê-la a si qual Esposa gloriosa, Virgem deslumbrante pela integridade da fé, Mãe fecunda pela virtude do Espírito.

Igreja santa, vinha eleita do Senhor, cujos ramos cobrem o mundo inteiro,

e a seus sarmentos, sustentados pelo lenho, com leveza eleva até o Reino dos céus.

Igreja feliz, tabernáculo de Deus com os homens, templo santo, que se constrói com    pedras vivas,

 firme sobre o fundamento dos Apóstolos, com Cristo Jesus, sua grande pedra angular.

Suplicantes, pois, nós vos rogamos, Senhor:

dignai-vos inundar esta igreja e este altar com santidade celeste;

que sejam sempre lugar santo e mesa perenemente preparada para o sacrifício de Cristo.

Aqui, as ondas da graça divina sepultem os delitos,

para que vossos filhos, ó Pai, mortos para o pecado, renasçam para a vida eterna.

Aqui, ao redor da mesa do altar, celebrem vossos fiéis o Memorial da Páscoa

e se alimentem no banquete da palavra e do corpo de Cristo.

Aqui, como jubilosa oblação de louvor, ressoe a voz dos homens unida aos coros dos anjos.

E suba até vós a prece incessante pela salvação do mundo.

Aqui, os pobres encontrem misericórdia, e todos os homens se revistam da dignidade de vossos filhos,

até que, exultantes, cheguem àquela Jerusalém celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo... Amém.

 

 

A celebração da Eucaristia é o rito principal e o único indispensável para a dedicação da igreja; contudo, em conformidade com a tradição comum da Igreja tanto no Oriente como no Ocidente, há uma precede dedicação, em que se afirma o propósito de dedicar para sempre a igreja ao Senhor e se implora sua bênção.

A oração tem dez estrofes.

A primeira parte com cinco estrofes constituída por um prólogo, onde se expressa a vontade da assembléia de dedicar a igreja, e nas outras quatro estrofes, cada uma desenvolve uma imagem bíblica da igreja:

- esposa de Cristo

- vinha do Senhor

- templo de Deus

- cidade sobre o monte.

A segunda parte é formada pelas estrofes que invocam a benção e a santificação de Deus sobre a igreja e o altar. As quatro estrofes finais falam das funções da Igreja:

- lugar da celebração do sacramento do batismo

- altar, sala e mesa do sacrifício e do sacramento eucarístico.

- lugar da liturgia das horas e da oração

- lugar do dom da misericórdia.

 

Primeira estrofe:

Deus, Santificador e guia de vossa Igreja, com festivo precônio é-nos grato celebrar vosso nome, porque hoje o povo fiel com rito solene deseja consagrar-vos para sempre esta casa de oração, aonde venha vos adorar, instruir-se pela palavra, alimentar-se pelos sacramentos.

Quem santifica é Deus.

Na primeira estrofe, Deus é o que santifica e governa a igreja.      

- Ex. 31,13: “Eu o Senhor que vos santifica”.

- Lv. 21,8-23; 22,9. 16.32: “ Eu, o Senhor que vos santifico, sou santo”.

- Ez. 27,28: “Eu sou o Senhor que santifico Israel”.

Reges – reger significa guiar. Ele é o Pastor que guia o seu povo.

“Salva o teu povo, guia-o e sustenta-o sempre.” Sl. 22,9.

“Aquele que tem piedade os guiará e conduzirá às fontes da água.” (Is. 4,10).

A igreja é chamada casa de oração, expressão de Jesus quando purifica o templo. Mt. 21,13; Mc. 11,17;

Lc. 19,46.

Também 1Mac. 7,37: “Tu escolheste este templo para que o teu nome seja invocado e se torne casa de oração e suplica para teu povo”.

Is. 56,7: “Os cumularei de alegria na minha casa de oração...”

A fórmula indica a função da igreja. Nela o povo é instruído pela palavra de Deus.

Sl. 93,12

A palavra de Deus exerce o seu magistério pleno e eficaz quando é proclamada durante a ação litúrgica.  A importância da proclamação que não é mera leitura, mas escuta e ruminação para poder emprestar a Deus própria voz para que fale ao povo.

- Igreja nutrida pelos sacramentos.

- Deus que alimenta o seu  povo

- Maná no deserto: Ex 16

- Água que sai da rocha Ex 17; Nm. 20

- O alimento de Elias (viúva) 1Re. 17,7-16

- Jesus que multiplica os pães. Mt. 14,14-21; 15,32-39.

Outros textos Jo. 6,27; 7,37-39

 

Segunda estrofe: Imagem da Igreja

Este templo é sombra do mistério da Igreja, que Cristo santificou com seu sangue,

para trazê-la a si qual Esposa gloriosa, Virgem deslumbrante pela integridade da fé, Mãe fecunda pela virtude do Espírito.

Cristo que desposa a igreja e tem com ela uma relação conjugal (relação de amor, de unidade).

- Ef. 5,25-27.31-32: Cristo amou a igreja e entregou a si mesmo para torná-la santa.

- Os. 1-3: usa o símbolo do matrimônio para descrever o amor de Deus para com o seu povo.

No novo testamento, Jesus apresenta a vinda messiânica como uma realidade nupcial; ele é o esposo: Mt. 9,15; 22,1-14; 25,1-13; Mc. 2,19; Lc. 5,34; Jo 3,29 (quem tem a esposa é o esposo...)

O tema nupcial é desenvolvido muito bem pelo livro do Apocalipse. Na liturgia celeste a igreja esposa chega à perfeição; é a noiva pronta. Ap. 19,6-20; 21,2-6.9-10; 22,16-17.20; 2Cor 11,12 (a comunidade esposa de Cristo).

A união conjugal entre Cristo e a Igreja se fundamenta a entrega que Jesus faz de si, sua auto-doação, ele se sacrificou.

A fórmula de dedicação diz que Jesus santificou a igreja com o seu sangue. Do lado aberto do Cristo na cruz brotam sangue e água – figura dos sacramentos do batismo e da eucaristia – e da entrega do dom do Espírito Santo como fonte de água viva que jorra do seu seio Jo 7,37-39 nasce a Igreja, como do lado de Adão foi formada Eva assim do lado aberto de Cristo morto na cruz, brotam os sacramentos com os quais se constitui, se forma a Igreja (batismo, eucaristia). Aparece ainda a figura de Maria, que conforme a LG é modelo da Igreja virgem e mãe.

Santo Ambrósio comentando Lc. 1,26-38 diz: Maria é esposa, mas virgem, porque imagem da Igreja sem mancha, mas também esposa.

A LG: “Ora a Igreja (...) torna-se mãe, porque através da pregação e do batismo gera para a vida imortal, os filhos gerados pelo Espírito Santo e nascidos de Deus. Ela é também a Virgem que guarda com integridade a fé.”.

 

Terceira estrofe: Igreja videira

Igreja santa vinha eleita do Senhor, cujos ramos cobrem o mundo inteiro,

e os seus sarmentos, sustentados pelo lenho, com leveza eleva até o Reino dos céus.

O tema da videira é muito vasto na sagrada escritura – Deus é o agricultor e a videira é o povo.

- Is. 5,1-2.7 – a vinha é a casa de Israel.

- Jr. 2,21 – “Eu plantei uma vinha escolhida.”.

- Ez. 19,10 – “tua mãe é como uma vinha plantada a beira d’água”.

- Sl. 79,9-16 – “arrancaste uma videira do Egito para plantá-la, expulsaste os povos...”.

No evangelho de João, o capítulo 15 coloca Jesus como a verdadeira videira – a vinha estéril, o povo de Israel que é infiel a Deus, encontra em Jesus a verdadeira videira. Aquele que cumpre o desígnio do Pai. Por Ele e Nele, como ramos, os membros da Igreja recebem a linfa para produzir frutos.

A fecundidade da Igreja se dá pela fidelidade dos ramos a árvore da cruz. Neste sentido, a Igreja de S. Clemente tem um belo mosaico onde a cruz é ladeada por ramos de videira. Os ramos que cobram o mundo inteiro significam a universalidade da igreja. Sl. 79: “Preparastes o terreno, afundastes suas raízes e encheu a terra”.

Quarta estrofe: Igreja casa de Deus

Igreja feliz, tabernáculo de Deus com os homens, templo santo, que se constrói com pedras vivas, firme sobre o fundamento dos Apóstolos, com Cristo Jesus, sua grande pedra angular.

Encontramos diversos textos bíblicos que fazem referência à tenda, ao tabernáculo, ao templo.

A estrofe se refere a Ap 21,3; 1Pe 2,4-5 e Ef 2,20.

- Ap 21,3: “Eis a morada de Deus com os homens”.

- Ex 26: Deus ordena que se construa a morada

- Zc 2,14: “Venho habitar contigo”.

- Ez 37,27-28: “Colocarei o meu santuário no meio deles”.

A presença de Jesus como presença de Deus no meio do povo. “Em Cristo habita corporalmente a plenitude da divindade”. - Jo 1,1-14: “o Verbo se fez carne e armou a sua tenda entre nós e nós vimos a sua glória”.

Na pessoa de Jesus, Deus veio morar no meio de nós. A Igreja, como templo Santo, construído com pedras vivas, aparece em 1Pe 2,4-5; Ef. 2,21.

O templo é uma realidade essencial na sagrada escritura. Na época patriarcal não havia templo. Davi deseja construir o templo e Salomão realiza o projeto – 2Sm. 7,1-3 e 1Re 5,15-7,51.

- Dt 12,51: o templo centraliza o culto

- Is. 6,1-10: o templo é sinal da presença de Deus

- Sl 25,8: o templo é objeto de amor, de devotamento.

- Sl 26,4; 27,2; 28,9; 47,9

Vários textos do N.T. fazem referência a Jesus no templo:

- Lc 2, 22-39: apresentação

- Lc 2, 41-50: o reencontro de Jesus.

- Mt 21,12-13; Mc 11,15-16; Lc 19,45-46; Jo 2,13-22: a purificação do Templo.

- Mt 24,1-2; Mc 13,1-2; Lc 21,5-6: falam da destruição.

“Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei.” Jo2, 19. João diz, em seguida, que Jesus falava do seu corpo. O templo de Deus é Jesus no seu corpo ressuscitado e glorioso; essa verdade aparece em toda a sua plenitude no texto do Ap 21,22: “na cidade não havia templo, porque o Senhor Onipotente e o Cordeiro são templo”. Jesus ressuscitado e glorificado é o único templo, é o único ‘lugar’ no qual nos é concedido encontrar Deus e adorá-lo.

O templo de Deus de feito é o Corpo de Cristo, mas o corpo, na sua totalidade, constituído pela Igreja, Corpo     Místico. Por isso, S. Paulo em 2Cor 6,16 diz: “nós somos o templo do Deus vivo”.

Outros textos 1Cor 3,16-17; Ef 2,21.

A idéia de que o templo é uma construção é desenvolvida pela carta de Pedro. O templo não é mais o que foi construído com pedras materiais, mas com pedras vivas, da mesma natureza e qualidade da pedra fundamental ou angular, Cristo. Ef 2,20 e Gl. 2,9.

A igreja é vista como imagem arquitetônica, cidade colocada sobre o monte. Jesus diz: “vós sois a luz do mundo. Uma cidade sobre o monte não pode ficar escondida...” (Mt 5,14-16).

Este texto se aplica à igreja-comunidade. A cidade alta é a igreja. Ela ilumina e é iluminada. Sl. 47,2-3; 86,1-3.

Isaías fala da luz que ilumina os povos: “o Senhor será a tua luz”. Is. 60,1-3.5.14.19-20. No Apocalipse a Cidade Santa, a Jerusalém do céu não terá mais necessidade e luz do sol ou da lua, pois o Cordeiro será a sua lâmpada. (Ap 21,23-24; 22,3.5).

Outros textos de João lembram que Jesus é a fonte da luz: Jo 1,4-9; 8,12; 12,35.48.

Segunda parte da oração: Santificação da igreja e do altar

Suplicantes, pois, nós vos rogamos, Senhor:

dignai-vos inundar esta igreja e este altar com santidade celeste;

que sejam sempre lugar santo e mesa perenemente preparada para o sacrifício de Cristo.

A oração se torna petição. Pede-se a santificação, a benção.

Santo; santificar indica separar, reservar, destinar. A santidade é uma qualidade uma atribuição de Deus. Os anjos cantam Santo, Santo, Santo (Is 6,1-3).- Ap 4,8: Santo de Israel (Deus) Jo 17,11: Pai Santo.Também o Espírito de Deus é Santo.Sl. 50,13; Is 63,10; Jo 1,33; 14,26; 20,22.

No Novo Testamento, a santidade é comunidade por Deus aos que crêem, pelo Espírito Santo. Jo 17,19; 1Cor 6,11. Ser santo é participar da santidade de Deus.

Na SC 59 lê-se: “os sacramentos se destinam à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e dar culto a Deus; enquanto sinais também possuem a função de instruir”.

O altar, a igreja, visto com relação aos sacramentos são declarados santos, destinados à celebração da Eucaristia e dos sacramentos.

Na terceira parte da prece de dedicação são elencadas as funções da igreja: o sacramento do batismo, a Eucaristia, o ofício divino, a oração, a misericórdia, a liberdade e a filiação divina.

Aqui, as ondas da graça divina sepultem os delitos,

para que vossos filhos, ó Pai, mortos para o pecado, renasçam para a vida eterna.

A água lave nossas culpas.

A água tem como prerrogativa lavar do pecado.

Passagens bíblicas que evocam libertação: Ex 14-15; 1Cor 10,1-2.

 As águas submergem os egípcios e, analogamente, submergindo os que são batizados os livra de toda a culpa e com Cristo os faz renascer para a vida.

Col 2,12: “com Ele fostes sepultados no batismo, com Ele fostes também ressuscitados dos mortos.”

Ef 2,4-7

O renascimento também é tema do texto do evangelho de João (diálogo com Nicodemos): “quem não renasce da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” Jo 3,5.

Oitava estrofe: a assembléia celebra o memorial da Páscoa

Aqui, ao redor da mesa do altar, celebrem vossos fiéis o Memorial da Páscoa

e se alimentem no banquete da palavra e do corpo de Cristo.

A eucaristia é memorial da Páscoa. No A.T. a Páscoa estava ligada à memória de libertação do Egito.

Ex 12,11: “É a Páscoa do Senhor!”

Ex 12,14: “Este dia é memorável, deveis celebrá-lo...”

Lc 22,15-16: “Desejei ardentemente comer esta páscoa...”

Lc 22,19-20

As palavras e os gestos de Jesus expressam uma realidade sacrifical, corpo entregue e sangue derramado. Ele se oferece a si mesmo, dando-nos o seu corpo e sangue nos sinais do pão e do vinho.

A eucaristia é memorial do sacrifício da cruz. “Fazei isto em memória de mim.” (1Cor 11,25).

Ela sempre tem a dimensão do memorial, recordar, não como uma simples lembrança, torna eficaz e representa o que recorda, o que celebra.

Na SC 47 aparece a Eucaristia como memorial.

A eucaristia e a Palavra estão intimamente unidas DV diz: “a Igreja sempre venerou as escrituras como venerou o corpo do Senhor não deixando nunca, sobretudo na liturgia de nutrir-se do pão da vida, seja da palavra de Deus, como também do Corpo de Cristo.”

Este texto nos faz pensar como a nosso igreja passou tanto tempo não valorizando a Palavra. O Vaticano II tentou recuperar, mas apesar de termos tantas comunidades que celebram somente a Palavra, muitas vezes temos a impressão que não valorizamos e respeitamos como fazemos com a Eucaristia. Valorizá-la também proclamando-a em lugar adapto, no ambão, usando os livros litúrgicos, belos, dignos.

Nona estrofe:

Aqui, como jubilosa oblação de louvor, ressoe a voz dos homens unida aos coros dos anjos.

E suba até vós a prece incessante pela salvação do mundo.

A liturgia do louvor, além da Eucaristia e dos sacramentos, na Igreja se celebra o ofício divino, e outras formas de oração.- Hb 13,15: oferecer por Cristo um sacrifício de louvor a Deus - Sl 49: oferece a Deus um sacrifício de louvor.

Na oração da manhã, agradecemos pela criação, pela vida e suas manifestações, pela ressurreição de Jesus.

À tarde, quando o sol se põe, unimos nosso louvor com o de Jesus que pela sua morte se entrega ao Pai, como sacrifício de suave odor.

Sl. 115 diz: “A ti oferecerei um sacrifício de louvor (...) Te oferecerei o meu sacrifício e invocarei o teu nome.”

No livro dos Atos dos Apóstolos, a comunidade é apresentada como uma comunidade assídua na oração. At 1,13-14; 10,9; Fil 4,6 e Col 3,16-17.

Décima estrofe:

Aqui, os pobres encontrem misericórdia, e todos os homens se revistam da dignidade de vossos filhos,

até que, exultantes, cheguem àquela Jerusalém celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo...

Os pobres encontram misericórdia. Que bela expressão!

“A Igreja como lugar de misericórdia”. Lá encontramos pro primeiro um Deus rico em misericórdia. Deus que Maria canta no Magnificat: “A sua misericórdia se estende de geração em geração.”

 

Entender o espaço como o local da reunião dos templos de Deus não significa diminuir-lhe a importância ou até mesmo justificar a falta de cuidado com o mesmo.

“O espaço deve ser belo porque fala de uma realidade bela, ‘somos chamados filhos de Deus e de fato o somos’, diz o apóstolo.”

Tomo emprestado um texto de Louis Bouyer para terminar um pouco esta introdução: “A maneira como construiremos as nossas igrejas constituirá a manifestação por excelência da qualidade da nossa vida eclesial, da nossa vida de comunhão no corpo de Cristo”.



 
 
 
 
1 Benção do batistério e da fonte batismal - Pontifical Cap XXV.
 
[6] Catequeses Mistagógicas – S Cirilo de Jerusalém. Petrópolis: Vozes, 2004. p 34
[7] Dos livros a Monimo de São Fulgêncio-Liturgia das horas vol II,1995.pag.587
[8] Dos sermões de São leão Magno,papa. Liturgia das horas vol II, 1995.pag.595
[9] Um grande arquiteto alemão que trabalhou com o liturgista Romano Guardini
* (Ef 1,22-23) Tudo ele pos debaixo de seus pés, e o pôs, acima de tudo, como cabeça  da igreja , que é o seu corpo...
[10] RICHTER, Klemens. Espaços de igrejas e imagens de Igreja. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1998. p 65
[11] como sugere a IGMR 311: “disponham-se os lugares dos fiéis.... de sorte que possam participar devidamente das ações sagradas com os olhos e o espírito” (outras traduções trazem “com o corpo”)
[12]  IGMR 60
[13] RICHTER, Klemens. Espaços de igrejas e imagens de Igreja. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1998. p. 80
[14] FERRARO, Giuseppe. Cristo è l`altare. Roma: Edizioni OCD.pag.43 
 
[15] Vários autores. L’ambone – tavola della parola di Dio. Magnano: Qiqajon, 2005. texto da contracapa
[16] DEBUYST, Frédéric, in L’altare. Magnano:Edizioni Qiqajon , 2006. p.31
[17] DEBUYST, Frédéric, in L’altare.Magnano ; Edizioni Qiqajon, 2006 p. 32
[18] FERRARO, Giuseppe. Cristo è l`altare. In: Notitiae1997 – vol 23. pag 77
[19] FERRARO, Giuseppe. Cristo è l`altare. Roma: Edizioni OCD.pag.279 
[20] FERRARO, Giuseppe. Cristo è l`altare. Roma: Edizioni OCD.pag.286
[21] FERRARO, Giuseppe. Cristo è l`altare. Roma: Edizioni OCD.pag.290
[22] Gli spazi della celebrazione rituale. P 87
[23] Ritual de bênçãos- Bênçãos de Lugares e objetos de uso litúrgico; n 935. Edições Paulinas – São Paulo
[24] Ritual da Penitência – Introdução cap. III, nº8- Paulus- São Paulo 1999

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