Mistagogia-
Ir. Laíde Sonda- pddm
O espaço é
mistagógico quando acompanha a ação, está totalmente em função da ação e conduz
ao mistério a partir dos sinais. É o visível
manifestando o invisível.
Os convido
agora, a fazer uma experiência pessoal de tentar entrar num espaço e através
dos elementos fornecidos pelas diversas orações
e textos do Ritual de dedicação sentir como ele pode levar-nos a
penetrar nos mistérios celebrados.Na Sacramentum Caritatis, 35, o papa diz:
.. “T enha-se presente que a finalidade da
arquitetura sacra é oferecer à Igreja que celebra os mistérios da fé,
especialmente a Eucaristia, o espaço mais idôneo para uma condigna realização
da sua ação litúrgica; de fato, a natureza do templo cristão define-se
precisamente pela ação litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis (
ecclesia), que são as pedras vivas do templo.”
Ritual da dedicação de Igreja e de altar
Para falar de
mistagogia do espaço de celebração não podemos fazê-lo sem reportar-nos ao Ritual
de dedicação de Igreja e Altar. É no ritual que encontramos a teologia e o
significado profundo de cada elemento que compõe o espaço. Já desde a sua
introdução nos é apresentado no novo conceito de Templo, que supera o conceito
anterior a Jesus. De fato a introdução quando o ritual fala da natureza e
dignidade da Igreja, diz:
1. Por sua morte e ressurreição, Cristo tornou-se o
verdadeiro e perfeito templo da Nova Aliança[1] e reuniu o povo adquirido. Esse povo santo, reunido
pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é a igreja[2] ou templo de Deus, construído de pedras vivas, onde o
Pai é adorado em espírito e verdade[3]·. Com muita razão, desde a antiguidade deu-se o nome
de “Igreja” também ao edifício no qual a comunidade cristã se reúne, a fim de
ouvir a palavra de Deus, rezar em comum, freqüentar os sacramentos, celebrar a
Eucaristia.
O próprio
Jesus no diálogo com a samaritana no capitulo 4 do evangelho de João diz que o
culto novo inaugurado por ele, não depende de lugar ; o verdadeiro culto dado a
Deus é em espírito e verdade. O culto que agrada a Deus é a entrega da vida. Na morte de
Jesus o véu do templo de Jerusalém, rasga-se significando que acaba o antigo
culto,do templo dando lugar ao novo templo, Jesus. “Destruí este templo e em três dias eu o reedificarei”. (Jo 2,19) E
João acrescenta: “Ele falava do templo
do seu corpo”. (Jo 2, 21).
O verdadeiro
templo de Deus é o corpo imolado e glorificado de Jesus Cristo e nós somos os
membros deste corpo, coedificados sobre o fundamento da pedra única, pedra
angular.
O corpo de
Cristo será o verdadeiro templo de Deus: nele a humanidade poderá unir-se a
Deus, no tempo e no espaço e depois, na eternidade: “ Nós viremos a ele e nele estabeleceremos morada “ Jo.14,23 Isto aconteceu com Maria;nela ‘o Verbo se fez carne e veio habitar no meio
de nós’, não só espiritualmente mas fisicamente, corporeamente.
Em Cristo,todos
os cristãos também se tornam templos de Deus, moradas do [4]Espírito:
“Não
sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito habita em vós? (1Cor 3,
17).
A igreja edifício é somente sinal da verdadeira Igreja, dos
verdadeiros templos. Para os primeiros cristãos isso era muito claro e a sua
preocupação estava em
edificar a Igreja antes de ter igrejas, lugares.O local da
reunião era a conseqüência, uma necessidade que aos poucos foi sendo satisfeita
e aperfeiçoada. Os cristãos são chamados a edificar sobre o único e verdadeiro
templo, sobre o único fundamento Jesus Cristo. Ele é a pedra angular desta
edificação: “;
e quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste
edifício espiritual achegai-vos a Ele, pedra viva que os homens rejeitaram, mas
escolhida e preciosa aos olhos de Deus,
um sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais”. (1Pe 2, 4-5)
A introdução do ritual diz ainda: “Por
ser um edifício visível, esta casa aparece como sinal peculiar da Igreja
peregrina na terra, e imagem da Igreja habitante nos céus”.
A edificação terrena, a igreja é figura da Jerusalém celeste, a cidade santa,
a esposa do cordeiro. Uma Jerusalém onde não há mais templo pois o Templo é o
Cordeiro, e a sua glória, o seu esplendor a iluminam.(conf. Ap21).Vale lembrar
que é imagem enquanto reúne uma comunidade-Igreja pois o edificio em si é uma
costrução, que só existe porque há uma comunidade de fiéis que necessitam
reunir-se.As moradas de Deus, as pessoas é que
conferem ao edifício o status de sinal de manifestação de uma presença
de Deus no meio dos homens e por isso podemos chama-las de ‘casa de Deus’.
A medida que
vamos vendo o rito, com as suas orações, os gestos iremos entendendo as demais
imagens, a verdadeira iconografia do espaço.Por iconografia deve-se entender
imagem. Qual a imagem que a igreja, o lugar da reunião da comunidade? A prece
da dedicação vai nos mostrar isso.
Como se
organiza o rito da dedicação:
Temos os ritos
de fundação:
Benção do
local e colocação da pedra fundamental
Oração:
Deus que
envolveis o universo com vossa santidade, de tal forma que vosso nome é
glorificado em todo lugar; abençoai estes vossos filhos que, por donativo ou trabalho prestado preparam esta área para que aqui se
levante uma igreja; e fazei que, com a mesma unidade dos corações e alegria dos
espíritos, presentes a esta construção que hoje começamos , venham eles em
breve celebrar neste templo os mistérios divinos e para sempre vos louvar nos
céus.
Diz o ritual que:
“No início da construção de uma nova igreja, convém celebrar um rito para
implorar a benção de Deus sobre a obra e lembrar aos fiéis que a casa a ser
construída de pedras será sinal visível da sua Igreja viva ou edifício de Deus
formada por eles próprios.” (RDIA)
Enquanto se constrói o templo, a casa a construção da
comunidade deveria acontecer junto pois é a comunhão de todos que irá
viabilizar o empreendimento e ela será Casa de Deus a medida que a comunidade
for corpo de Cristo.
Colocação da primeira pedra.
Senhor Pai
Santo, vosso Filho nascido da virgem Maria, o profeta o anunciou qual pedra talhada
do monte, sem mão de homem, e o apostolo o designou imutável fundamento; abençoai
esta primeira pedra aqui posta em seu nome. Concedei que ele, a quem estabelecestes
princípio e fim de todas as coisas, seja desta obra o início, o incremento e
termo.
Onde é colocada a pedra ou o cruzeiro?
O próprio texto nos oferece uma dica preciosa. A quem
se refere a pedra, simbolicamente ? É ao Cristo e na igreja iremos ver que o
símbolo maior de Cristo é o Altar.
A pedra fundamental deveria ser colocada no ponto
exato onde vai ser colocado o altar. Isto nos ajuda a perceber que o projeto
deve ser completo saber exatamente onde se situam os elementos do espaço. Não
há margem para as improvisações.
A conclusão do rito do lançamento da pedra fundamental
é feita com uma oração:
A Deus Pai
onipotente supliquemos, irmãos,queira fazer que aqueles que aqui se reúnem para
a construção de sua nova igreja, se tornem um templo vivo de sua glória,
edificados sobre Cristo, seu Filho, a pedra angular.
No dia da inauguração ou dedicação da igreja há a
continuidade do rito.
Nada impediria que se meditasse ou se escolhessem leituras
para alguma lectio durante o peíodo da construção, feitas no local. A preocupação monetária não deveria ser a única,
precisaria deixar espaço para que o espírito com sua ação fosse construindo os
templos.
O rito da dedicação diz que no dia a comunidade sai de
algum lugar, ou da antiga igreja e em procissão vai até a igreja nova. Vai
rezando e salmodiando. O ritual propõe cantar os salmos graduais: Sl 121, Sl
24. Cantar o 122. Que alegria quando
ouvi que me disseram...
As portas estão
fechas, alguma pessoa significativa, o mais velho, o líder da comunidade, o
mestre de obra ou alguém que tenha contribuído na construção entrega a igreja
ao bispo, pode ser auxiliado por alguém que descreve um pouco a igreja.
Convite-
Convocatio
Os espaços e
elementos que preparam a reunião são de grande importância:
Sino que,
chama, que convoca a comunidade para o louvor.
Vimos acima
como a chegada da procissão supõe um lugar diante da igreja.
O jardim, o pátio deve ser o lugar da paz, da
beleza que emana do próprio Cristo, de Deus criador, que nos fez para a
comunhão com todos os seres da criação. (conf. Gn 2,15; Jo 19,41)
O átrio, lugar
da transição, onde se prepara o espírito, se toma consciência do ser um na
unidade. Espaço para inteirar-nos de tudo o que acontece na comunidade,
acolhida mútua para poder celebrar levando as alegrias, dores esperanças uns
dos outros à Cristo para que aconteça a nossa Páscoa na Dele. (Sl 84)
A Porta
“Entrai por suas
portas dando graças, e nos seus átrios com hinos de louvor”.
Ó portas
levantai vossos frontões! Que entre o Rei da glória
“ Em verdade em
verdade eu vos digo;eu sou a porta das ovelhas.
Eu sou a porta.
Se alguém entrar por mim, será salvo, entrará e sairá e encontrará pastagem.”
Jo 10, 7-9.
A porta; transpor, passar, de um para outro
mundo possível, onde a PORTA é o Cristo que nos leva para a liberdade, para as
melhores pastagens, para a vida.
O ritual
sugere duas antífonas: “Oh portas, levantai vossos frontões para que entre o
Rei da glória”! (Sl 23) ou “Entrai em suas portas dando graças e em seus átrios
com hinos de louvor”. (Sl 99)
A comunidade
simbolizada na edificação acolhe o Cristo como sua ‘cabeça’ e por Ele é
acolhida.
Fonte batismal –
A água- batismo
No ritual da
dedicação o ato penitencial é substituído pela aspersão.
Vejamos o texto da benção da água onde
percebemos como ela faz referência ao batismo e a inserção dos batizados na
comunidade eclesial.
Estamos aqui, meus irmãos, para dedicar solenemente
este templo.
Peçamos com fervor ao Senhor nosso Deus que faça
descer sua benção sobre esta água, criatura sua.
Com ela nos aspergiremos em sinal de penitência e em
memória do batismo,
e purificaremos as paredes da nova igreja e o novo
altar.
Venha também a nós o Senhor com sua graça e nos faça
dóceis ao Espírito que recebemos e sempre fiéis em sua Igreja.
(Todos rezam em
silêncio)
Ó Deus, por vós todas as criaturas chegam à luz da
vida; mostrais tanto amor pelos homens que, não apenas os sustentais com
paterna solicitude, mas ainda apagais seus pecados com o orvalho da caridade, e incansavelmente os reconduzis a
Cristo, nosso Chefe.
Por desígnio de misericórdia decidistes que os
pecadores, mergulhados na fonte sagrada e mortos com Cristo, ressurgissem sem
mácula; contados agora entre seus membros e co-herdeiros dos bens eternos.
Por vossa benção, santificai esta água, vossa
criatura. Aspergida sobre nós e as paredes deste templo,
seja lembrança de nosso batismo, pelo qual, lavados em
Cristo, nos tornamos templo do vosso Espírito.
Para nós, com todos os irmãos que nesta igreja,
celebrarem os divinos mistérios, abri as portas da Jerusalém celeste.
Quase sempre,
a fonte batismal é o primeiro sinal ou espaço que encontramos ao transpor a
soleira. Ela nos lembra o batismo, sacramento que nos faz templos de Deus,
habitação do Espírito e assemelhados ao Cristo no seu mistério de morte e
ressurreição.
“Entre as partes mais importantes da igreja destaca-se
com razão o batistério, isto é, o lugar onde está colocada a fonte batismal. Aí
se celebra o Batismo, primeiro sacramento da nova Aliança, pelo qual os homens, seguindo a Cristo na fé, e
recebendo o espírito de adoção de filhos, são chamados, e são de fato, filhos
de Deus; assemelhados à morte e à
ressurreição de Cristo, são inseridos em seu Corpo ; recebendo a unção do Espírito,
transformam-se em templo santo de Deus, em membros da Igreja ,
“raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, e povo de sua propriedade”.[5] Esta introdução já define por si só a importância
simbólica do batistério e da fonte batismal mas é na oração de benção que
aparece com mais clareza ainda: “Ó Deus
criador do mundo, pai de todos os seres, é nosso dever dar-vos graças por nos
concederdes abrir com rito solene, esta fonte de salvação de vossa Igreja”.
Aqui se oferece um banho que torna puros, de uma candura nova, aqueles que a
sordidez antiga do pecado recobrira; aqui a torrente lava os pecados e germina
em virtudes novas; jorra uma fonte que emana do lado de Cristo, cujas águas
matam a sede de vida eterna. Daqui, o facho da fé expande a luz, que afasta as
trevas do coração e revela as coisas celestiais; aqui, os que crêem se associam
à morte de Cristo para ressurgirem com ele para uma vida nova.
Outra oração de benção da água do batismo vai
lembrar de outra forma com mais detalhes os mesmos aspectos. “Enviai
Senhor, sobre esta água, o sopro do vosso espírito; a força divina, pela qual a
Virgem gerou o vosso unigênito, fecunde o seio da Igreja, vossa esposa, para
que ela, ó Pai, gere para vós inúmeros filhos, e futuros habitantes do céu.
Concedei, Senhor, aos que vão nascer desta fonte, cumpram por suas obras, o que
com fé prometem, e manifestem em sua vida o que são por vossa graça. Não
importa a diversidade de suas origens e condições, pois um só é o banho vital
que nos irmana; que o amor, Senhor, revele os irmãos e a concórdia faça
conhecer os concidadãos. Sejam filhos que refletem a imagem da bondade paterna,
discípulos que guardam fielmente a palavra do Mestre, moradas que ressoam a voz
do Espírito Santo. Sejam testemunhas do Evangelho, cultores da justiça;
espalhem o espírito de Cristo pela cidade temporal que habitam, até o dia em
que mereçam ser admitidos como cidadãos da Jerusalém eterna.”
Da oração fica
claro que o batismo é um banho que gera novas criaturas, compromissadas com a
unidade, a fraternidade a justiça, enfim com a Palavra, com o Cristo.
A água que
jorra, é uma água fecunda, que gera vida, pois nasce do lado aberto de Cristo.
Jesus Cristo se serviu deste elemento natural para comunicar-nos uma realidade
mais profunda: a nossa inserção no seu mistério de Morte e Vida. Os padres da
igreja explicam o que acontece com os cristãos quando imersos na água.
E como imitar Cristo na sua descida à mansão dos
mortos? Imitando no batismo o seu sepultamento. Porque os corpos dos batizados
ficam, de certo modo, sepultados nas águas. [...] ...reconhecemos um só batismo
de salvação, já que é uma só a morte que resgata o mundo e uma só a
ressurreição dos mortos, das quais o batismo é figura.( Do livro sobre o Espírito Santo de São Basílio
Magno séc IV)
Santo Ambrósio: “Por que tu és imerso na água?
Está escrito: Produzam as águas os seres vivos ( Ge 1,20). E nasceram os seres
vivos. Isto aconteceu no início da criação. E como a água foi destinada a
produzir a vida natural, ela foi destinada a regenerar-te pela graça ”. E
Tertuliano: “...A água primitiva gerou a vida, não nos surpreenda portanto o poder
vivificante das águas batismais”. “As
águas primitivas receberam a ordem de gerar os seres vivos (...) para que não
nos maravilhemos se no batismo as águas ainda produzem a vida”. A água é vista não só como elemento
purificador, mas como elemento regenerador. Por isso que em muitas fontes
batismais costumava-se colocar cenas e episódios bíblicos que fazem referência
à água no sentido de devolver a vida; Noé na arca, Moisés salvo das águas, a
passagem do mar Vermelho, Jonas etc. Águas que produzem a morte e a vida, como
é dito na oração conclusiva do rito de benção do batistério: “Ó
Deus que comunicas-te aos cursos d’água uma força que pode ser de vida e de
morte , concedei aos que se libertarem do pecado nesta fonte, sepultados com
Cristo, ressuscitar também com ele...” e na oração de benção; “...aqui os que crêem se associam à morte de
Cristo para ressurgirem com ele numa vida nova.”
São Cirilo,
nas catequeses mistagógicas, diz: “...fostes
conduzidos pela mão à santa piscina do divino batismo, como Cristo da cruz ao
sepulcro que está à vossa frente. (...) E fizestes a profissão salutar, e
fostes imersos três vezes na água e em seguida emergistes, significando também
com isto, simbolicamente, o sepultamento
de três dias de Cristo. E assim como nosso Salvador passou três dias e três
noites no coração da terra, do mesmo modo vós, com a primeira imersão,
imitastes o primeiro dia de Cristo na terra, e com a segunda imersão a noite e
a terceira com o dia... (...) E no momento
morrestes e nascestes. Esta água salutar tanto foi vosso sepulcro como
vossa mãe.”[6]
O sentido do
morrer e ressuscitar, estar inserido no mistério pascal de Cristo, na sua morte
e ressurreição está bem implícito. Inclusive na construção da fonte ou piscina
batismal. Durante todo o primeiro milênio cristão batizou-se por imersão. Nas
piscinas batismais, amplas, quase sempre escavadas no chão, o acesso se dava
através de três degraus que simbolizavam os três dias de permanência do Cristo
no sepulcro. Era a realização plástica do que Paulo diz: “Acaso ignorais que todos nós batizados, no Cristo Jesus, é na sua
morte que fomos batizados? Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para
que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai, assim
também nós vivamos uma vida nova”. (Rom 6, 3-4)
“ Quem desce Com fé a esse banho de regeneração
renuncia ao demônio e entrega-se a Cristo; renega o inimigo e proclama que
Cristo é Deus; renuncia à escravidão e reveste-se da adoção filial; sai do
batismo, resplandecente como o sol , irradiando justiça ; e mais que tudo isso
torna-se Filho de Deus e herdeiro com Cristo.” ( Sto. Hipólito)
Além do
elemento água também a forma arquitetônica, o octógono, simbolizando o oitavo
dia, o dia escatológico, sem tempo, dia novo, dia da ressurreição, era muito
utilizada nas fontes batismais. A forma é obtida pela união de dois quadrados
na circunferência simbolizando a união do terrestre com o celeste, do humano
com o divino.
“Hoje é o
oitavo dia do vosso nascimento. Hoje se completa
em vós o sinal da fé que, entre os antigos patriarcas, consistia na circuncisão
do corpo no oitavo dia depois do nascimento segundo a carne. Por isso, o
próprio Senhor, despojando-se por sua ressurreição da mortalidade da carne e
revestindo-se do corpo não diferente mas imortal , ao ressuscitar consagrou o
“dia do Senhor”, que é o terceiro dia depois de sua paixão, mas na contagem
semanal dos dias, é o oitavo a partir do sábado, e coincide com o primeiro dia
da semana. (Dos sermões de Santo Agostinho, bispo séc V).
Além das
formas octogonais temos também na tradição a forma exagonal que junta o X e o PX,o monograma de Cristo. O batizado de
certa forma assume a forma, se conforma á Cristo.
Outros
elementos emergem a partir da oração de benção: a luz, a palavra, a porta.
Os batizados eram também chamados de iluminados. Iluminados pela luz de Cristo,
pelo ressuscitado, simbolicamente representado no Círio, que fica ao lado da
fonte batismal, depois do tempo pascal.
A porta “... Aqui se abre a porta da vida do
espírito, que é a porta da Igreja, para aqueles a quem se fechara a porta do
paraíso.” A comunidade cristã
acolhe, abre-se, para que novos membros, regenerados pelo banho da vida,
edificados como templo do senhor, dela participam e juntos formam um único
corpo, como diz Paulo: ”Sois membros do seu corpo”(Ef 5, 30). ”Não sabeis que
os vossos corpos são membros de Cristo?” (1 Cor 6,15). “Vocês são corpo de
Cristo e seus membros”( 1 Cor 12,27).
Faz sentido,
portanto acolher e batizar perto do ingresso, da porta de entrada. Claro que
não é o único espaço previsto, mas sempre concentra um grande poder simbólico.
A referência ao menos a este sacramento poderia ser mantida, colocando-se uma
bela pia de água benta, ou quem sabe a pia do batismo antiga que está perdida por
aí, em algum canto, sem função.
.
Assembléia
Já vimos como
a assembléia desde o início do rito é o foco de tudo. Mesmo que se façam ritos
e o intuito seja dedicar um espaço para a oração ele sempre é em vista da
comunidade, ela é o templo primeiro.
Quando se
entra na igreja há aspersão e a comunidade está, se coloca no espaço. Vamos
interromper um pouco o rito para ver a conformação da assembléia. Já acima
vimos que Paulo fala de corpo. Constituir assembléia é formar, é mostrar que
somos e queremos ser “CORPO”. Isso não significa massificação,mas unidade no
respeito e diversidade dos dons e ministérios de cada um.Falar da assembléia é
pressupor a ministerialidade a comunhão.
Segundo São
Fulgêncio é na celebração que a Igreja se manifesta e se torna Corpo.
“A edificação espiritual do corpo de Cristo realiza-se
na caridade, segundo as palavras de São Pedro: Como pedras vivas, formai um edifício
espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1Pd 2,5). Esta edificação espiritual
atinge a sua maior eficácia no momento em que o próprio Corpo do Senhor, que é
a Igreja, no sacramento do pão e do cálice, oferece o corpo e sangue de Cristo;
o cálice que bebemos é a comunhão com o sangue de Cristo e o pão que partimos é
a comunhão com o corpo de Cristo. Porque
há um só pão, nós todos participamos desse único pão. (conf 1Cor10,16-17).Por
isso pedimos que a mesma graça que faz da Igreja o Corpo de Cristo, faça com
que todos os membros, unidos pelos laços da caridade, perseverem firmemente na
unidade do corpo”.
Ora, se a
comunidade se concebe como um corpo a configuração espacial deveria sugerir coesão, unidade. Igreja, povo de Deus
reunido para participar, celebrar, e celebrando tornar-se cada vez mais corpo
no Corpo,.[7] (*)como diz São
Leão Magno:”A nossa participação no
corpo e no sangue de Cristo age de tal modo que nos transformamos naquele que
recebemos”.[8] Comungar corpo para ser corpo.
Martimort, a
partir do testemunho do Novo Testamento, estabelece sete coordenadas fundamentais em relação à assembléia
litúrgica.
1- É a reunião do povo, convocado por Deus,
reunido em algum lugar.(sýnasis)
2- É reunião
de pessoas de todo tipo, não um cenáculo de puros, uma mistura de classes
sociais, de línguas, de idades, algo sempre atual.
3- É um lugar
de conversão, de ‘violência’ no sentido do esforço que é pedido a cada um para
se deixar transformar pela presença do outro.
4- A
assembléia nunca é completa, mas aberta aos outros, aos que estão ausentes aos
que virão (daqui nasce o sentido de levar a comunhão aos ausentes por doença ou
outro motivo). Por isso a solicitação feita na carta aos Hebreus: “ Estejamos atentos uns aos outros, para nos
incentivar ao amor fraterno e às boas obras. Não abandonemos as nossas
assembléias, como alguns costumam fazer. Antes procuremos animar-nos
mutuamente” (Hb 10,25).
5- A
assembléia é portanto manifestação da comunidade cristã, ’epifania da igreja’ .
6- A
assembléia reforça a comunidade cristã suscitando a comunhão através da
participação ativa.
7- A
comunidade se estrutura a partir dos ministérios.
Vistas nesta
perspectiva, as nossas igrejas quase sempre
pecam; são construídas em lotes longos e estreitos dificultando a organização
do espaço de forma que a assembléia possa sentir-se participante, envolvida,
estar ao redor dos vários pólos de celebração: altar, ambão etc...
Um presbítero
da testemunho de como se deu a transição de um espaço longitudinal para um
espaço mais envolvente mudando a disposição interna da igreja e comenta: .
“Muitas coisas
não são habituais: o estar um de frente ao outro. O olhar que não mais tem que percorrer todo o comprimento da nave mas
se dirige às pessoas que estão na frente e à parede lateral. A posição do altar
que não é mais o único centro.O voltar-se antes para o ambão e depois para o
altar. Tudo exige uma nova apreensão.... De outra parte há o ganho: a comunidade
se reúne novamente, agora se sente que a comunidade são as pessoas, o grupo ao
qual se pertence e a fé une a todos. Não
há mais anonimato mas pertença a comunidade. Comunidade somos nós unidos
reciprocamente de forma que um pode escutar o outro, o que anteriormente
haviasse perdido. A liturgia não é mais representação teatral, mas celebração da comunidade . A liturgia
tornou-se mais próxima , mais visível, mais palpável. A oração comum ganhou qualidade,
intensidade”.
(Comentário sobre a reformulação do espaço de celebração feito pelo pároco da igreja St.
Albert, Lutz Schulz).
Das ‘igrejas
corredor’ Rudolf Schwarz[9] diz: “Aqui
falta a perspectiva dos olhos nos olhos, aqui ninguém vê o outro à sua frente,
todos olham para frente. Aqui falta o intercâmbio quente das mãos, a entrega de
pessoa a pessoa, a circularidade de uma ligação cordial, já que aqui cada um
está solitário no contexto. Ombro a ombro, passo a passo simplesmente
adicionados ao todo e alinhados linearmente segundo uma cruz axial, cada um
acorrentado ao seu vizinho...A forma longitudinal deixa cada um sozinho no
todo, o coração permanece na solidão. As pessoas não podem sentir-se
cordialmente próximas, já que o esquema não tem um coração”.[10]
Outro fator
que pode impedir a participação são os bancos.[11] Quando são
muito longos, impedem qualquer movimento. Não é a toa que até o século XV não
havia bancos. Começaram aparecer quando a homilia foi substituída por grandes
momentos de pregação desligados da liturgia da palavra.
Lugares Rituais
Cadeira
ou Cátedra – Presidência
A cadeira, e a
cátedra nas igrejas catedrais, é o ícone de
Cristo-cabeça que preside a comunidade, como expressa a monição sugerida
na benção da cátedra. “Amados irmãos, louvemos a Deus nosso Senhor,
“que se digna estar presente em seus ministros”, dedicados aos deveres
sagrados, por meio deles ensinando, governando e santificando os fiéis;e
peçamos a ele que faça sempre mais dignos os que exercem tão santas funções”.
O ministério do presbítero que é associado ao do bispo
é: “Está à frente da assembléia reunida,
preside à sua oração, anuncia-lhe a mensagem da salvação, associa a si o povo
no oferecimento do sacrifício ao Pai pelo Cristo no Espírito Santo, dá aos seus
irmãos o pão da vida eterna e participa com eles do mesmo alimento.
Portanto,
quando celebra a Eucaristia deve servir a Deus e ao povo com dignidade e pelo
seu modo de agir e proferir as palavras divinas, sugerir aos fiéis uma presença
viva do Cristo.”[12]
Parêntesis: (“
Participa com eles do mesmo alimento”)
Nem sempre é verdadeiro este sinal. Por vezes há sobre a mesa somente o pão do
padre e aquele dos fiéis é o guardado no
sacrário. Não é o alimento daquele
banquete para o qual o senhor convocou aquela assembléia concreta mas o
alimento de outro banquete onde nem se sabe quando foi e do qual nem se sabe
quem tomou parte. É uma lástima!
Arquitetonicamente
o espaço ocupado pelo presidente deve enfatizar a dignidade e o serviço
desempenhado: ensinar, governar e santificar a comunidade. Esta dignidade não
implica em fazer da cadeira um trono. É um local e assento discreto o suficiente para
diferencia-lo da cátedra do bispo; que também, não deve ter aparência de trono.
Segundo o Missal Romano “o lugar mais apropriado é de frente para o povo no fundo do
presbitério, a não ser que a estrutura do edifício sagrado ou outras
circunstâncias o impeçam, por exemplo, se a demasiada distância torna difícil a
comunicação entre o presidente e a assembléia...” (IGMR 310).
O Missal diz
que perto da cadeira do presidente estejam assentos para outros ministros. Esta
não é uma invenção recente, do Concílio. Nas igrejas dos primeiros séculos
havia bancos, ao lado da cadeira da
presidência para que ficasse claro que a comunidade se estruturava a partir de
seus ministérios ou serviços desempenhados. “Com efeito a celebração da
Eucaristia é uma ação de toda a Igreja, onde cada um deve fazer tudo e só o que
lhe compete, segundo o lugar que ocupa no Povo de Deus...” (IGMR5).
Fica mais
visível o sentido de corpo-celebrante, quando não se estabelecem separações
demasiado evidentes entre clero e comunidade. Porém precisa tomar cuidado para
não encher o espaço das ações rituais com cadeiras e apinhar o presbitério ou o
local da mesa de forma que o desempenho das funções de cada um fique prejudicado. “Concelebrantes, diáconos, acólitos, leitores, cantores e ministros da
comunhão, quando são colocados próximos do altar, sentar-se de modo a não
ofuscar o significado da sede presidencial ”.[13] Quando o
espaço é muito pequeno é conveniente que os que desempenham estas funções
fiquem junto da assembléia e se aproximem do altar somente no momento em que
devem prestar o seu serviço. Exceção para o diácono e acólitos, claro que
acólitos e diácono ficam perto da mesa, da cadeira.
Para os dois
lugares acima, cadeira e local para os fiéis não há ritos especiais a não ser o
da asperssão com água mas sempre e continuamente se refere á assembléia.
Continuando
com o rito, após o ato penitencial tem a oração de Coleta e depois as leituras.
Ambão
Oração de
benção do ambão.
Ó Deus que vos dignais chamar a humanidade das trevas
para a vossa luz admirável, é nosso dever vos dar graças, porque nunca nos
deixastes faltar o alimento da vossa palavra e continuamente nos esclareceis,
reunidos no espaço desta igreja, sobre as maravilhas da Escritura.
Fazei, Senhor, que neste lugar ressoe em nossos
ouvidos a voz do vosso Filho a fim de que, seguindo fielmente as inspirações do
espírito Santo, mereçamos ser não apenas ouvintes mas realizadores fervorosos.
Que os arautos da vossa Palavra nos mostrem aqui o
caminho da vida, por onde, seguindo o Cristo Senhor , possamos chegar á vida
eterna. (benção do ambão).
A liturgia não
prevê um rito, como para o altar e talvez
isso se deva a um longo período de ausência de proclamação da palavra em nossas igrejas. Parecia
até que Bíblia combinava com os protestantes e não com De católicos que ficaram
com a “eucaristia” no seu aspecto mais devocional.
qualquer forma
o que o ritual propõe realça a proclamação e nem tanto o lugar.
A leitor, diz
a rubrica, se aproxima do bispo com o livro e o bispo o recebe sentado, depois
levanta e diz:
“A palavra de Deus ressoe sempre neste templo e vos
revele o mistério de Cristo e opere na Igreja a salvação.”
Dito isto o leitor se dirige ao ambão e proclama a primeira leitura. As
leituras sugeridas são muitas e múltiplas porém diz que a primeira sempre deve
ser a de Neemias 8,1-4ª, 5-6. 8-10.
Neste texto se realça a convocação, a reunião: “todo o povo se reuniu como um só homem”, o espaço; “na praça de fronte da porta das Águas”, o leitor “pediu ao escriba Esdras que trouxesse o livro da Lei de Moisés”, o livro; “o sacerdote Esdras apresentou a lei diante da assembléia... Esdras
abriu o livro”, a tribuna; “Esdras, o escriba, estava de pé sobre um
estrado de madeira erguido para este fim... Visível a todos por estar mais alto”, o leitor; “leram clara e
distintamente o livro da Lei”, a
escuta; “... explicavam a lei ao povo, que dos seus lugares escutava”.
“O anuncio e a acolhida da lei de Deus faz
nascer a comunidade do povo escolhido no pós-exílio. Este texto, lido na
liturgia da dedicação quer dizer que na celebração, a escuta da Palavra e a
adesão a ela pela fé, cria a comunidade e a constitui como assembléia litúrgica
cultual”.[14] É o que diz
também o Vaticano II: “O povo de Deus é
reunido antes de tudo, pela palavra do Deus vivo”.
Tanto no
ritual da dedicação como também no texto de Neemias a ênfase é dada ao leitor,
ao livro, à escuta. Isto não significa que o ambão não tem importância. Se
assim fosse não teria sido preparado um local para a proclamação, como relata o
texto de Neemias. Ele é ícone, sinal, como diz a monição sugerida no Cerimonial
dos bispos para a benção do ambão: “Aqui viemos, irmãos, para inaugurar este
ambão e destina-lo ao seu uso sagrado, a fim de que seja para todos nós o sinal
daquela mesa da palavra de Deus que fornece o primeiro e necessário alimento da
nossa vida cristã. Vamos participar atentamente desta celebração, ouvindo
fielmente a Deus que nos fala, para que suas palavras nos sejam realmente
espírito de vida”.
Neste sentido
o ambão é o ícone espacial que antecipa e permanece na igreja como sinal do
anuncio da boa nova de Jesus, Palavra do Pai, como salienta a oração de benção
do ambão: “Ó Deus, que, por excesso de amor, vos dignais falar-nos como a amigos,
concedei-nos a graça do Espírito Santo, para que, experimentando a doçura da
vossa Palavra, nos enriqueçamos com a eminente ciência do vosso Filho”. O
texto faz lembrar do salmo 118.
“O Ambão,
lugar da leitura das Escrituras, pertence de forma privilegiada à revelação
judaico-cristã: o ambão não tem precedentes em outras religiões como é o caso
do altar. O cristianismo e a sua liturgia, guardam em si, desde a origem, esta
relação radical com a palavra de Deus: a eucaristia dos cristãos, desde sempre,
se constitui de dois elementos fundamentais, a leitura das Escrituras, e a ação
de graças sobre os dons. Nunca houve mesa do pão e do vinho sem a mesa da
Palavra”.[15]
No entanto,
durante alguns séculos deu-se pouco valor à palavra e por isso até o lugar de
sua proclamação havia deixado de existir. O concílio Vaticano II resgata a
palavra e o lugar da proclamação.
“As duas partes de que se compõe de certa forma a
missa, isto é, a liturgia da palavra e a liturgia eucarística, estão tão
estritamente unidas que formam um só ato de culto”. (SC 56) E na Dei Verbum
diz: “A igreja sempre venerou as Escrituras, como também o próprio corpo do
Senhor, sobretudo na sagrada liturgia, nunca deixou de tomar e distribuir aos
fiéis, da mesa tanto da palavra de Deus como do corpo de Cristo, o pão da
vida”. (DV21)
Segundo São
Jerônimo: “...a carne do Senhor é verdadeiro alimento e o seu sangue verdadeira
bebida (...) Nós temos este grande dom:
comer a sua carne e beber o seu sangue não somente no mistério da Eucaristia,
mas também na leitura da Sagrada Escritura. O conhecimento da Sagrada Escritura
é verdadeiro alimento e verdadeira bebida, que recebemos da Palavra de Deus”.
Na mesma linha vai a reflexão que o então cardeal
Ratzinger fazia comentando SC56: “A
Igreja recebe o pão da vida da mesa da Palavra e da mesa do Corpo de Cristo;
dessa forma ela honra as sagradas escrituras como o próprio corpo do Senhor...”
O lugar privilegiado onde a palavra de Deus está presente,
age e atua é a liturgia. Na liturgia a palavra não é somente proclamada, mas,
ela é atualizada: por parte de Deus como ensinamento e graça, por parte da
pessoa como louvor, súplica, pedido de perdão.Isto acontece sempre por Cristo no Espírito Santo.
No espaço litúrgico a Palavra abrange diferentes
espaços, mesmo que o ambão seja o lugar do Cristo Palavra.
A
Assembléia, reunida no nome de Cristo, recebe a palavra, escuta,
eleva a Deus o louvor. Imaginemos as pessoas como morada da palavra: acolhida,
ruminada e levada a cumprimento na vida.
A
presidência, que na pessoa de Cristo, preside a celebração
litúrgica e também o anúncio da Palavra, buscando manifestar a continuidade e a
autenticidade da mesma, com a tradição. A homilia que faz a ligação prática da
Palavra com a vida cotidiana, para que os fiéis possam expressar na vida aquilo
que receberam pele fé.
Livro, ícone da
Palavra; nele materialmente está contida a palavra de Deus escrita. Muitas
pessoas morreram para defender estes livros. Há na história da igreja
belíssimos exemplares de Evangeliários que testemunham como a apresentação da
Palavra era tida em conta e como fosse venerada. Além de invólucro havia também
o esmero na apresentação, as miniaturas ilustrando os livros sagrados.
Como são os nossos livros, onde estão?Na Instrução do
OLM 24, diz que: “Os livros nos quais é
extraída a Palavra de Deus, os ministros, os gestos rituais, o lugar onde é
proclamada devem suscitar nos ouvintes o sentido da presença de Deus que fala
ao seu povo”.
Os
Sacramentos, todos tem ligação com a palavra. A Palavra é proclamada e atualizada
no rito, no gesto sacramental.
A
iconografia, no espaço de celebração é uma das fontes onde deve
ecoar a Palavra sempre. Conduzir os fiéis para dentro dos mistérios ela deveria
ser evocativa, narrativa. São Gregório, século VII, dizia ao bispo de Marselha
que a “a pintura ensina aos analfabetos
aquilo que a escrita ensina aos letrados. São João Damasceno dizia que:” aquilo que a bíblia é para as pessoas
instruídas, a pintura, o ícone é para os analfabetos: aquilo que a palavra é
para o ouvido, o ícone é para a vista”.
As diferentes instâncias de proclamação e acolhida da
palavra não diminuem a importância do ambão que nunca deixou de ser para os
cristãos símbolo muito forte do “ jardim do sepulcro vazio, do jardim do Édem.
Deus brindou-nos com a Vida. A vida presente na
criação que depois é destruída pela morte e o pecado mas devolvida num outro
jardim, aquele do sepulcro do Cristo.A mulher Eva, portadora da morte é suplantada pela mulher Maria Madalena que
anuncia a Vida, a Ressurreição. O grande
ícone desta vida, junto do ambão é o Círio Pascal.
Belo exemplo
de ambão na atualidade é o da igreja de Santo Pio de Petrelcina na Itália.
Plasticamente retoma o lugar amplo, como eram os ambões até a idade média, onde
cabiam, leitores, salmista e diácono. Está localizado mais perto da assembléia
e valoriza a Palavra como convocação, O Cristo no meio dos seus, ele, o Verbo
feito carne.
O lugar é tão
importante tanto quanto o leitor. Se o ambão é símbolo do lugar do encontro e
leitor, por sua vez é sinal de Cristo
que fala. Empresta seu corpo para que a Palavra se faça carne. O texto de
Giuliano Zanchi diz: “As palavras têm corpo. A verdade que essas
expressam, não coincide somente com o conceito que contêm. O conceito pode até
soar incerto ou enganoso não fosse a expressão da voz e do rosto. O conteúdo
pode ser exato, mas nem sempre depõe a favor da verdade. Aquilo que torna
manifesto e o sentido autentico e verdadeiro das palavras normalmente está
escondido no brilho do olhar, no tom da voz, na mímica do rosto, no movimento
do corpo. Nisto a pessoa humana é de uma transparência infalível. As palavras
dizem por que o corpo fala. As palavras escritas por vezes criam equívocos pela
falta de reforço corpóreo. Basta o tom, o mexer dos lábios, uma olhada; e uma
frase que poderia soar mal pode se tornar um jogo afetuoso ou ao contrário,
aquilo que parecia uma cordial saudação pode se tornar um instante de sutil maldade.
O modo como as coisas são ditas pertence em profundidade ao conteúdo que elas
querem dizer. È a pessoa inteira que fala. A palavra sempre deve fazer-se carne
para que nela resplandeça a verdade.
Quando a pessoa celebra momentos importantes na vida,
a sua palavra se torna solene, o corpo se transforma lugar de proclamação...
Bastaria pensar ao dia em que uma criança pela primeira vez se ergue, e cheia
de orgulho grita de maravilha, é o discurso inaugural. Mas nas boas ocasiões o
homem, estando de pé, consegue criar unidade, formar corpo, com o som de sua
palavra. Neste caso se diz que ele “tomou a palavra” como se o que tivesse para
dizer lhe tenha sido dado por alguém, como se a faculdade de dizer viesse como
dom de um outro, e expressando-se estaria manifestando a vida, que está
presente no seu corpo. O homem sempre pode se servir da palavra porque a
palavra é uma ordem que o precede. A palavra é sempre dada. Pode ser oferecida
porque desde sempre ela é recebida.
Para
dizer com as palavras do biblista, o homem sempre fala no Verbo. Esta condição
do falar humano é particularmente manifesta e evidente na liturgia. Na liturgia
a palavra é tomada como texto e propagada pelo som, pela voz. O texto não
necessariamente deve ser escrito. O texto é também conto conservado na memória
e renovado pela voz. Foi assim que a primeira geração dos cristãos confeccionou
os textos da memória oral de Jesus. Eles viviam do contar. Muitas vezes Paulo
diz que testemunha aquilo que ele mesmo ouviu. Por duas vezes, nas primeiras
páginas dos Atos dos apóstolos (1, 15; 2,14), se conta que Pedro, estando no
meio dos que foram chamados, se levanta e toma a palavra; o que tem para dizer
é o que aconteceu no meio deles. Tem uma grandeza e uma eloqüência dos gestos
mais elementares, que nunca podemos perder de vista.
O
ambão mais belo, no fundo é a pessoa de pé com o livro oferecendo o seu
testemunho. Tudo o que se pode construir para ampliar este ato primário será
somente um reflexo. Quando se constroem ambientes se criam extensões do próprio corpo”. (La
forma della Chiesa, Zanchi Giuliano, pág.55-57)
Onde
colocar o ambão? Qual o local melhor para ele?
Se o ambão se
localiza muito próximo do altar ou da presidência os gestos que conferem dignidade à palavra (procissão e
ostentação do lecionário e do evangeliário) perderão
força de expressão e solenidade. Como
seria interessante ter que andar um pouco mais e porque não, fazer com que a
assembléia se desloque para perto do ambão? Uma assembléia estática, sem
movimento, é mais espectadora, menos participante.
Geralmente
nossos ambões não comportam mais que uma pessoa e não têm a mesma imponência do
altar. Se parecem com estantes, móveis usadas pelo comentarista, quando
necessário. O missal enfatiza que a
dignidade da palavra de Deus requer um lugar digno para o seu anuncio, lugar
para onde deve convergir a atenção de todos no momento da proclamação (conf.
GMR 309). O ambão segundo a sua etimologia significa lugar alto, lugar
envolvente, lugar ocupado por alguém que se põe na frente. Precisaria fazer jus
ao termo e quem sabe, encontrar a forma e o tamanho de ambão adequados para
cada espaço.
A partir das
considerações acima e da estreita ligação entre palavra e eucaristia não
podemos pensar espaços de celebração sem altar e ambão. A tendência é concentrar
tudo num único presbitério. Quem sabe, não fosse interessante pensar o espaço a
partir das duas mesas, que se apresentam não de forma simultânea, mas
subseqüente, contribuindo para uma compreensão maior do que se celebra e uma
participação mais intensa, envolvendo também o corpo? Para nós que vivemos num
país onde se celebra mais a palavra que a “eucaristia” nunca deveria faltar
também e, sobretudo o ambão.
Altar
Prece de
dedicação do Altar
Nós vos agradecemos, Senhor, e vos bendizemos, por terdes
com inefável bondade decidido que, passadas as várias figuras, se completasse
em Cristo o mistério do altar
Nós vos
agradecemos, Senhor, e vos bendizemos, por terdes com inefável bondade decidido
que, passadas as várias figuras, se do altar completasse em Cristo o mistério
Noé, segundo pai do gênero humano, acalmadas as ondas,
ergueu um altar e vos ofereceu um sacrifício, que aceitastes, qual suave
perfume, renovando com os homens a aliança do amor.
Abraão, pai de nossa fé, aderindo de todo coração à
vossa palavra, construiu um altar, no qual, por não poupar Isaac, o filho
dileto, vos atendeu.
Moisés, mediador da antiga Lei, edificou um altar que,
aspergido com o sangue do cordeiro, misticamente prefigurava a ara da cruz.
Todas essas figuras Cristo levou à realidade pelo
mistério pascal.
Nós vos rogamos, Senhor, derramai a santidade celeste
sobre este altar erguido na casa do vosso povo; que se torne para sempre
dedicado ao sacrifício de Cristo e seja a mesa do Senhor, junto da qual vosso povo se
renove no banquete divino.
Seja-nos esta
pedra polida símbolo de Cristo, (se o altar não for de pedra, mas de outra
matéria se diz:) Seja-nos este altar símbolo de Cristo, de cujo lado ferido
correu água e sangue, os sacramentos que fazem nascer a Igreja.
Seja a mesa festiva, para onde os convivas de Cristo
acorram alegres e, colocando em vossas mãos cuidados e trabalhos, se reanimem
com novo vigor para a nova jornada.
Seja o lugar de íntima comunhão e de paz convosco, em
que, alimentados com o Corpo e o Sangue de vosso Filho, imbuídos do vosso
Espírito, cresçam no amor
Seja fonte da unidade da Igreja e concórdia dos
irmãos; reunidos os fiéis junto dele, bebam o espírito da mútua caridade.
Seja para nós o centro de louvor e gratidão, até
chegarmos jubilosos aos tabernáculos eternos, onde com Cristo, Sumo Pontífice e Altar vivo, vos
oferecemos o perene sacrifício de louvor. Cristo, que, sendo Deus, convosco
vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Seja para nós o
centro de louvor e gratidão, até chegarmos jubilosos aos tabernáculos eternos,
onde com Cristo, Sumo Pontífice e Altar vivo, vos oferecemos o perene
sacrifício de louvor.
Cristo, que, sendo Deus, convosco vive e reina na
unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
A oração
inicia evocando três altares do antigo testamento: o altar de Noé, de Abraão,
de Moisés. Estes altares eram figuras proféticas daquilo que se realizaria em
Cristo, na sua páscoa. Ele, na cruz, se oferece ao Pai (Isaac), para destruir
os pecados do mundo (Noé), e estabelecer uma nova aliança (Moisés).
Na oração, no
momento epiclético, se roga ao senhor para que o altar seja:
-lugar
dedicado ao sacrifício de Cristo.
-mesa do
Senhor onde o povo se renove no banquete divino.
-símbolo de
Cristo, de cujo lado aberto correu sangue e água, sacramentos que fazem nascer
a igreja.
-mesa festiva
para a qual acorrem alegres os convivas.
-lugar de
íntima comunhão e de paz..., imbuídos pelo Espírito, cresçamos no amor.
-fonte de
unidade da igreja.
-Seja o centro
do louvor e da gratidão.
Este texto
condensa tudo o que podemos dizer do altar. Não é uma mesa qualquer, traz
presente para a assembléia o Cristo pascal, como é apresentado no do prefácio V
da Páscoa: “Confiante entregou em vossas mãos seu espírito,... revelando-se, ao
mesmo tempo, sacerdote, altar e cordeiro”.
Eis porque o
altar é único, não podemos ter outros. A ele reverenciamos com o beijo. É o
símbolo eminente de Cristo. Nada se lhe sobrepõe e muito menos escondê-lo com
excesso de toalhas, flores, cadeiras colocadas à sua frente.
O altar
cristão nasce e tem origem na mesa da ceia do Senhor com os seus discípulos. É a mesa preparada na
sala de cima, lugar nobre, que
aconchega, onde o Senhor vive com os seus discípulos um momento de intimidade,
de partilha, de refeição, de despedida.
Esta ceia, segundo
explicito pedido do Senhor deverá ser perpetuada e repetida pelos seus: ”Fazei
isto em memória de mim”. Paulo chama o altar de mesa, 1Cor10,21).
“Frédéric Van
de Meer, patrólogo e arqueólogo, num livro sobre as descobertas feitas assim
fala do altar e da eucaristia celebrada por Santo Agostinho na principal
basílica da cidade. (Nesta
época as basílicas tinham na abside a cátedra e o altar era colocado mais perto
da assembléia).
Agostinho desce os degraus que separam a cadeira que
esta situada na abside e se dirige ao
altar colocado mais no centro da nave sob o olhar atento dos fiéis;
... Cálices e pratos com o pão são colocados
sobre o altar: são as únicas coisas presentes sobre a mesa, sobre a toalha branca, e o brilho do
ouro puro resplandece sobre o candor do linho. O silêncio é absoluto. Inúmeras
luzes brilham nos lampadários. Agostinho avança até o altar, e de pé, sozinho
dentro do espaço circundado, diante da pequena mesa revestida de branco,
estende ainda uma vez as mãos. ”[16]
Deste texto percebemos que
o altar não é grande. Que há um respeito seja com relação ao lugar que está
circundado talvez pelo cibório ou elementos no piso que definiam o espaço do
altar mas, sobretudo no silêncio das pessoas.Que o clima é festivo, pascal: as
luzes brilhando as toalhas brancas...
Do piso do altar Van de
Meer diz:
“O Altar se ergue esbelto e imaculado
sobre um campo de cores azuis, verdes e brancas. Sobre a mesa não há nem flores nem velas. Nada além da toalha branca sobre ele:
“ele espera”, aguarda”.[17]
Podemos ver de forma muito
rápida a oração de dedicação do altar e sentir
como o
altar não é um objeto mas alguém...que só percebemos se nos deixamos conduzir
para dentro do mistério que nele se celebra.
Mas antes alguns elementos
importantes destacados já na introdução do Ritual:
O
ritual tem
um item sobre a natureza e dignidade do altar
1- Cristo é apresentado como
a vítima, o sacerdote, o altar do seu sacrifício (retoma a carta aos Hebreus, 1,3)
2- Diz que “Cristo, Cabeça e Mestre é o verdadeiro altar; seus
membros e discípulos são também altares espirituais, oferecendo a Deus uma vida
santa......” e cita diversos padres da igreja.
3-O altar é mesa do
sacrifício e do banquete... Santificou a mesa em torno da qual os fiéis se
reuniriam, a fim de celebrar a sua Páscoa. Por conseguinte o altar é a mesa do
sacrifício e do banquete; nela o sacerdote, tornando presente o Cristo Senhor,
realiza aquilo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem
em sua memória....
4- O altar, sinal de Cristo
O altar
cristão por sua natureza, é a mesa própria para o sacrifício e o banquete
pascal; mesa onde o sacrifício da cruz se perpetua, até a vinda de Cristo. Mesa onde os filhos da igreja
se congregam para dar graças e para receber o Corpo e Sangue de Cristo.
Portanto, em
todas as igrejas o altar é “o centro das ações de graças oferecidas pela Eucaristia,
para o qual de algum modo todos os ritos da igreja convergem”.
5- O altar honra dos mártires.
A dignidade do altar está
toda inteira em ser ele a mesa do Senhor. Não são os corpos dos mártires que
honram o altar, mas muito ao contrário: é o altar que nobilita o sepulcro dos
mártires... Neste item fala-se das relíquias, sua colocação e diz-se ainda que o
testemunho dado pelos mártires possui força espiritual e que suas relíquias,
postas debaixo do altar expressam de modo total e íntegro.
Ainda temos as
rituais ações que mereceriam ser analisadas, pois trazem uma riqueza muito
grande:
Ações rituais : unção, incensação, revestimento e
iluminação.
“A unção do
altar com o crisma expressa a dignidade e a missão de Cristo, o ungido do Pai
por obra do Espírito Santo, como sumo sacerdote da nova aliança; a queima do
incenso sobre o altar significa que o sacrifício de Cristo, chega a Deus Pai
como agradável perfume; a iluminação do altar mostra Cristo como luz que
ilumina todos os povos e a sua Igreja”.[18]
Santo
Agostinho comentando o salmo 44,8: “Quem
é o ungido de Deus? Deus, é o ungido por Deus; quando ouves dizer o ungido,
compreendes que é Cristo. Porque Cristo deriva de Crisma; este nome Cristo
significa unção... Deus é ungido por Deus com qual óleo, senão o óleo
espiritual? De fato o óleo visível está no símbolo, o óleo invisível no
sacramento, o óleo espiritual está no íntimo. Deus foi ungido por nós e enviado
a nós; e o mesmo Deus para ser ungido torna-se homem, mas era homem de tal
forma que era Deus, e era Deus que não subestimou ser homem: verdadeiro homem
verdadeiro Deus (...)
“O Espírito
Santo tem, no sacrifício de Cristo a mesma função que tinha o fogo nos
sacrifícios antigos.... Somente o agradável e Deus e instrumento eficaz de
salvação”.[20]
Nas antigas
basílicas cristãs havia um elemento arquitetônico construído sobre o altar que
enfatizava a ação do Espírito, o
cibório, que nós conhecemos como
baldaquino. Não precisamos fazer hoje a mesma coisa, mas as luzes sobre
o altar, as velas que são colocadas ao redor, ou até uma abertura zenital podem
restituir às nossas igrejas esta riqueza simbólica
O cibório no Ocidente desaparece quando se o espírito Santo se
eclipsa na teologia sacramentaria, e não se deve perguntar se por acaso isto
não esteja em relação com a presença do espírito Santo na celebração do
sacrifício eucarístico. Sugerem este significado as mistagogias como a de
Germano de Constantinopla, que partindo da etimologia caldéia Kib (arca) e Ura (fogo) compara o
cibório com a arca da aliança onde dois querubins velavam a misteriosa e
invisível presença de Deus sobre o propiciatório no santo dos santos. Um hino
da liturgia siríaca traduz em canto a intuição de Germano: “Moisés estabeleceu
a tenda para Israel e colocou o altar da propiciação, mas o Espírito Santo não
desceu sobre o sacrifício. Ao contrario, sobre este altar santo, que é chamado
casa de Deus, o espírito penetra e paira sobre o sacrifício. (V. A.Gli Spazi della celebrazione rituale pág. 73).
Também podia ser símbolo da nuvem luminosa que
na peregrinação do povo no deserto cobria a tenda do encontro, a nuvem que
envolverá o Cristo na Transfiguração
Iluminação
A Luz resplandeças na igreja e conduza os povos à
plenitude da verdade.
“... Jesus
Cristo é a luz que ilumina os olhos da nossa fé e os habilita a vê-lo e
conhece-lo e nele ver e reconhecer o Pai. “Quem me viu, viu o Pai”. (Jo 14,9)”.[21]
Incensação
Suba nossa oração, Senhor, qual incenso diante da
vossa face. Assim como esta casa suavemente perfumada, assim a vossa igreja
faça sentir a fragrância de Cristo.
A incensação
de que sobem até lembra as preces e o louvor Deus todas as criaturas.
Na liturgia
maronita no final da celebração o altar é saudado assim: “Fica em paz, santo altar do
Senhor. Eu já não sei se voltarei a ti. O Senhor me conceda de ver-te na
assembléia dos primogênitos que estão no céu; nesta aliança coloco a minha
esperança. Fica em paz, altar santo e propiciador... Fica em Paz, santo altar,
mesa de vida, e suplica por mim ao Senhor Jesus Cristo, para que eu não cesse de
pensar em ti”.[22]
É evidente que
o autor se refere ao altar não como a um móvel, mas uma pessoa querida, com a
qual deseja se encontrar.
Também nós em
sinal de reverência nos inclinamos ao passar pelo altar e o saudamos com o
beijo no início e no final da celebração.
Capela do Santíssimo ou colocação do sacrário.
Oração de benção do tabernáculo ou sacrário
“Senhor, Pai Santo, que destes
aos homens o verdadeiro pão do céu, dignai-vos lançar a benção sobre nós e este
tabernáculo, preparado para guardar o sacramento do Corpo e do sangue do vosso
Filho, a fim de que nós, adorando a Cristo aqui presente, sejamos sempre
levados a unir-nos ao mistério da redenção”.
A oração faz
referência ao Pão recebido, à comunhão, e pede que o senhor abençoe as pessoas
e depois o tabernáculo onde se guarda a eucaristia. Deduzimos que nós somos os
primeiros tabernáculos; recebemos o senhor como alimento e bebida, e por isso
mesmo somos abençoados juntamente com o tabernáculo material, que irá guardar a
reserva eucarística.
Na oração
final do rito aparece outro elemento importante: “... enquanto meditamos sobre o amor do vosso Filho, que vive entre
nós, freqüentemos, também, com fruto o sacramento que é memorial de nossa
salvação”.
O local da
reserva é um local de oração, de meditação.
Meditação sobre a obra da salvação; o amor manifestado a nós pelo Senhor
Jesus, na sua entrega ao Pai. Porém, é importante participar do
sacramento-memorial, a celebração da Eucaristia.
Já no
longínquo 1952 Pio XII chamava atenção para uma diferença importante sobre a
Reserva e a Celebração da Eucaristia: “... o
altar é superior ao sacrário porque nele se oferece o sacrifício de Cristo. O tabernáculo encerra sem
dúvida o sacramentum permanens: mas não é um altar permanens, porque o Senhor
se oferece somente sobre o altar, durante a celebração da santa missa, nem
depois e nem fora da missa. No tabernáculo Ele está presente até que duram as
espécies eucarísticas sem, no entanto que ele se ofereça permanentemente... mas
mais importante que o conhecimento dessas diferenças é saber que é o mesmo
Senhor que se imola sobre o altar e que se venera no tabernáculo...”. Esta mesma compreensão de
momentos e realidades diferentes é assumida posteriormente pela instrução Inter
Oecumenici de 26 de setembro de 1964: “em virtude do sinal, é mais conveniente à
natureza da própria celebração, que o Cristo, não esteja eucaristicamente
presente, desde o início, onde se celebra a Eucaristia; de fato a presença
eucarística de Cristo é fruto da consagração e como tal deve aparecer”.
A igreja, portanto tem sua centralidade no altar e por isso se almeja que em
cada igreja haja para a reserva da Eucaristia um espaço adequado, devidamente
decorado, belo, digno que favoreça a oração pessoal, a capela do Santíssimo.
Esta capela, segundo a rubrica 919 contida no ritual de benção da capela do
Santíssimo, “nos lembra duas coisas: a
presença do Senhor, que deriva do sacrifício da missa e os irmãos, que devemos
abraçar com o amor de Cristo. Com efeito, a igreja, administrando os mistérios que
lhe foram confiados por Cristo Senhor, originariamente conservou a Eucaristia
para benefício dos enfermos e agonizantes. Este alimento celeste, guardado nos
sacrários das igrejas, começou a ser objeto de adoração dos fiéis”.
A igreja guarda a tradição da
adoração também. É um outro momento, separado da celebração, porém, sempre faz
referência ao mistério celebrado. Como já dito acima, quando há igrejas muito grandes
pode haver na capela do santíssimo um altar menor para celebrações com pouca
gente. Neste caso ter o cuidado para que a ênfase do sacrário permaneça e o
altar móvel possa ter o seu lugar adequado, sem tornar-se um objeto qualquer.
A finalidade
da capela é justamente esta: favorecer a oração pessoal, em momentos distintos
da celebração. Seria muito oportuno que a capela do Santíssimo pudesse ficar
aberta durante todo o dia para favorecer a oração. Como há uma certa confusão
por vezes se misturam dois momentos bem distintos, celebração e adoração.
O papa Bento
XVI no documento Imensae Caritatis
diz que o local para a reserva é a capela do santíssimo. Nas
igrejas antigas onde não há uma capela, o tabernáculo pode permanecer no antigo
altar-mor, deixando o devido espaço entre o antigo altar e o novo. Se não há
outro lugar ficará no presbitério, colocado não de forma que concorra com o
altar, ou que um desvalorize o outro.
Sobre o sacrário se diz que
deve ser fixo, sólido, inviolável, não transparente. (conf IGMR 314) “Conforme antiga tradição mantenha-se
perenemente acesa uma lâmpada especial junto ao tabernáculo, alimentada por
óleo ou cera, pela qual se indique e se honre a presença de Cristo”. (
IGMR 316)
O
Lugar da Reconciliação
Existe um rito
de benção para o local da reconciliação; Benção do Novo Confessionário. Nele se
diz que ao se proceder ao rito de benção o presbítero exorta o povo com estas
ou outras semelhantes: “O rito da
benção, de que nós participamos com fé, sugere antes de tudo, uma grande ação
de graças ao Senhor, que manifesta o seu poder principalmente perdoando os
pecados e tendo misericórdia de nós...” [23]
O local deverá
ser de ação de graças pela misericórdia do Senhor. Isto sugere que se formos
usar algum ícone, privilegiar tudo o que nos fala da misericórdia de Deus: Bom
Pastor, Filho Pródigo, Samaritano (?), Samaritana, a Cruz,etc. Tudo isto poderá
inclusive estar no local mais próximo de preparação imediata.
Tal
iconografia seria uma catequese na linha do que se diz na oração de Benção:
“É nosso dever e nossa salvação dar-vos graças, sempre
e em toda a parte, Deus eterno e todo-poderoso, que corrigis com justiça e
perdoais com clemência, sempre com misericórdia, pois vós nos cercais de
cuidados...”
O Ritual da
penitência fala do lugar da celebração do sacramento na introdução cap.IV.
“O
sacramento da penitência, a não ser que haja justa causa, normalmente é
celebrado na igreja ou oratório.
Quanto
ao confessionário, estabeleçam-se normas pela Conferência dos bispos,
cuidando-se, porém, que haja sempre em lugar visível confessionários com grades
fixas entre o penitente e o confessor, os quais possam usar livremente os fiéis
que o desejarem”.
Esta indicação é
complementada pelo cân 964 & 2:
“O local apropriado para ouvir confissões
seja normalmente o confessionário tradicional, ou outro recinto conveniente
expressamente preparado para essa finalidade.Haja também local apropriado,
discreto, claramente indicado e de fácil acesso, de modo que os fiéis se sintam
convidados à prática do sacramento da penitência”.
O local portanto deve estar
dentro ou no conjunto do espaço de celebração.Isto poderá tornar mais visível
que ... “A igreja inteira, como povo sacerdotal, age
de diversos modos no exercício da obra da reconciliação que Deus lhe confiou.
Porque não somente chama à penitência por meio da pregação da palavra de Deus, como também intercede
pelos pecadores e com solicitude maternal ajuda o penitente a reconhecer e
confessar suas faltas, para alcançar a misericórdia de Deus, único que pode
perdoar os pecados. (... ) a própria
Igreja torna-se instrumento da conversão e da absolvição do penitente pelo
ministério que Cristo confiou aos Apóstolos e seus sucessores.[24]
Existe certo medo de propor
algo novo com referência ao local, isto no meu ponto de vista. Talvez porque ainda se vê o sacramento muito ligado ao individual,
secreto, íntimo. Porem, isso não deve ser desconsiderado nas propostas dos
novos locais, mas justamente equacionado.
Se for o lugar
do carinho, da misericórdia e do cuidado deverá transparecer isto, primeiro no
ministro, mas também através do espaço; iluminação adequada, aconchego,
isolamento acústico, ventilação necessária e onde houver necessidade, até a
calefação.
Vamos ver um espaço pensado
para a reconciliação na basílica de Santa Rita de Cássia- Itália.
Uma fonte no
ingresso- Elo com o batismo
Na porta- As
virtudes cardeais- Prudência – Justiça- Fortaleza e Temperança.
Sala da acolhida- escultura
do Pai Bondoso, (Filho Pródigo), a Videira, o Arco-Íris; símbolo da aliança.
Salas da reconciliação ao
redor de uma capela onde tem o crucificado
Sala da Ação de Graças- As
sandálias do Filho – Cristo Ressuscitado.
Apesar de contemplar muitos
espaços e símbolos me parece que há um sentido e uma mistagogia neste
itinerário ou percurso de reconciliação.
Para quem
deseja ver a prece da dedicação e fazer uma lectio está ela a seguir.
Prece da
dedicação
Deus, Santificador e guia de
vossa Igreja, com festivo precônio é-nos grato celebrar vosso nome, porque hoje
o povo fiel com rito solene deseja consagrar-vos para sempre esta casa de
oração, aonde venha vos adorar, instruir-se pela palavra, alimentar-se pelos
sacramentos.
Este templo é sombra do mistério
da Igreja, que Cristo santificou com seu sangue,
para trazê-la a si qual Esposa gloriosa, Virgem
deslumbrante pela integridade da fé, Mãe fecunda pela virtude do Espírito.
Igreja santa, vinha eleita do Senhor, cujos ramos
cobrem o mundo inteiro,
e a seus sarmentos, sustentados pelo lenho, com leveza
eleva até o Reino dos céus.
Igreja feliz, tabernáculo de Deus com os homens,
templo santo, que se constrói com
pedras vivas,
firme sobre o
fundamento dos Apóstolos, com Cristo Jesus, sua grande pedra angular.
Suplicantes, pois, nós vos rogamos, Senhor:
dignai-vos inundar esta igreja e este altar com
santidade celeste;
que sejam sempre lugar santo e mesa perenemente
preparada para o sacrifício de Cristo.
Aqui, as ondas da graça divina sepultem os delitos,
para que vossos filhos, ó Pai, mortos para o pecado,
renasçam para a vida eterna.
Aqui, ao redor da mesa do altar, celebrem vossos fiéis
o Memorial da Páscoa
e se alimentem no banquete da palavra e do corpo de
Cristo.
Aqui, como jubilosa oblação de louvor, ressoe a voz
dos homens unida aos coros dos anjos.
E suba até vós a prece incessante pela salvação do
mundo.
Aqui, os pobres encontrem misericórdia, e todos os
homens se revistam da dignidade de vossos filhos,
até que, exultantes, cheguem àquela Jerusalém celeste.
Por nosso Senhor Jesus Cristo... Amém.
A
celebração da Eucaristia é o rito principal e o único indispensável para a
dedicação da igreja; contudo, em conformidade com a tradição comum da Igreja
tanto no Oriente como no Ocidente, há uma precede dedicação, em que se afirma o
propósito de dedicar para sempre a igreja ao Senhor e se implora sua bênção.
A oração tem dez estrofes.
A primeira parte com cinco estrofes constituída por um prólogo, onde se
expressa a vontade da assembléia de dedicar a igreja, e nas outras quatro
estrofes, cada uma desenvolve uma imagem bíblica da igreja:
-
esposa de Cristo
-
vinha do Senhor
-
templo de Deus
-
cidade sobre o monte.
A segunda parte é formada pelas estrofes que invocam a benção e a
santificação de Deus sobre a igreja e o altar. As quatro estrofes finais falam
das funções da Igreja:
- lugar da celebração do sacramento do batismo
-
altar, sala e mesa do sacrifício e do sacramento eucarístico.
-
lugar da liturgia das horas e da oração
-
lugar do dom da misericórdia.
Primeira
estrofe:
Deus, Santificador e guia de vossa Igreja, com festivo
precônio é-nos grato celebrar vosso nome, porque hoje o povo fiel com rito
solene deseja consagrar-vos para sempre esta casa de oração, aonde venha vos
adorar, instruir-se pela palavra, alimentar-se pelos sacramentos.
Quem santifica
é Deus.
Na primeira estrofe, Deus é o que santifica e governa a igreja.
- Ex. 31,13: “Eu o Senhor que vos santifica”.
- Lv. 21,8-23; 22,9. 16.32: “ Eu, o Senhor que vos santifico, sou
santo”.
- Ez. 27,28: “Eu sou o Senhor que santifico Israel”.
Reges – reger significa guiar. Ele é o Pastor que guia o seu povo.
“Salva o teu povo, guia-o e sustenta-o sempre.” Sl. 22,9.
“Aquele que tem piedade os guiará e conduzirá às fontes da água.” (Is.
4,10).
A igreja é chamada casa de oração, expressão de Jesus quando purifica o
templo. Mt. 21,13; Mc. 11,17;
Lc. 19,46.
Também 1Mac. 7,37: “Tu escolheste este templo para que o teu nome seja
invocado e se torne casa de oração e suplica para teu povo”.
Is. 56,7: “Os cumularei de alegria na minha casa de oração...”
A fórmula indica a função da igreja. Nela o povo é instruído pela
palavra de Deus.
Sl. 93,12
A palavra de Deus exerce o seu magistério pleno e eficaz quando é
proclamada durante a ação litúrgica. A
importância da proclamação que não é mera leitura, mas escuta e ruminação para
poder emprestar a Deus própria voz para que fale ao povo.
-
Igreja nutrida pelos sacramentos.
-
Deus que alimenta o seu povo
-
Maná no deserto: Ex 16
-
Água que sai da rocha Ex 17; Nm. 20
- O
alimento de Elias (viúva) 1Re. 17,7-16
-
Jesus que multiplica os pães. Mt. 14,14-21; 15,32-39.
Outros
textos Jo. 6,27; 7,37-39
Segunda
estrofe: Imagem da Igreja
Este templo é sombra do mistério da Igreja, que Cristo
santificou com seu sangue,
para trazê-la a si qual Esposa gloriosa, Virgem
deslumbrante pela integridade da fé, Mãe fecunda pela virtude do Espírito.
Cristo que desposa a igreja e tem com ela uma relação conjugal (relação
de amor, de unidade).
- Ef.
5,25-27.31-32: Cristo amou a igreja e entregou a si mesmo para torná-la santa.
- Os. 1-3: usa
o símbolo do matrimônio para descrever o amor de Deus para com o seu povo.
No novo testamento, Jesus apresenta a vinda messiânica como uma
realidade nupcial; ele é o esposo: Mt. 9,15; 22,1-14; 25,1-13; Mc. 2,19; Lc.
5,34; Jo 3,29 (quem tem a esposa é o esposo...)
O tema nupcial é desenvolvido muito bem pelo livro do Apocalipse. Na
liturgia celeste a igreja esposa chega à perfeição; é a noiva pronta. Ap.
19,6-20; 21,2-6.9-10; 22,16-17.20; 2Cor 11,12 (a comunidade esposa de Cristo).
A união conjugal entre Cristo e a Igreja se fundamenta a entrega que
Jesus faz de si, sua auto-doação, ele se sacrificou.
A fórmula de dedicação diz que Jesus santificou a igreja com o seu
sangue. Do lado aberto do Cristo na cruz brotam sangue e água – figura dos
sacramentos do batismo e da eucaristia – e da entrega do dom do Espírito Santo
como fonte de água viva que jorra do seu seio Jo 7,37-39 nasce a Igreja, como
do lado de Adão foi formada Eva assim do lado aberto de Cristo morto na cruz,
brotam os sacramentos com os quais se constitui, se forma a Igreja (batismo,
eucaristia). Aparece ainda a figura de Maria, que conforme a LG é modelo da Igreja
virgem e mãe.
Santo Ambrósio comentando Lc. 1,26-38 diz: Maria é esposa, mas virgem,
porque imagem da Igreja sem mancha, mas também esposa.
A LG: “Ora a Igreja (...) torna-se mãe, porque através da pregação e do
batismo gera para a vida imortal, os filhos gerados pelo Espírito Santo e
nascidos de Deus. Ela é também a Virgem que guarda com integridade a fé.”.
Terceira
estrofe: Igreja videira
Igreja santa vinha eleita do Senhor, cujos ramos
cobrem o mundo inteiro,
e os seus sarmentos, sustentados pelo lenho, com
leveza eleva até o Reino dos céus.
O tema da videira é muito vasto na sagrada escritura – Deus é o
agricultor e a videira é o povo.
-
Is. 5,1-2.7 – a vinha é a casa de Israel.
-
Jr. 2,21 – “Eu plantei uma vinha escolhida.”.
-
Ez. 19,10 – “tua mãe é como uma vinha plantada a beira d’água”.
-
Sl. 79,9-16 – “arrancaste uma videira do Egito para plantá-la, expulsaste os
povos...”.
No evangelho de João, o capítulo 15 coloca Jesus como a verdadeira
videira – a vinha estéril, o povo de Israel que é infiel a Deus, encontra em
Jesus a verdadeira videira. Aquele que cumpre o desígnio do Pai. Por Ele e
Nele, como ramos, os membros da Igreja recebem a linfa para produzir frutos.
A fecundidade da Igreja se dá pela fidelidade dos ramos a árvore da
cruz. Neste sentido, a Igreja de S. Clemente tem um belo mosaico onde a cruz é ladeada
por ramos de videira. Os ramos que cobram o mundo inteiro significam a
universalidade da igreja. Sl. 79: “Preparastes o terreno, afundastes suas
raízes e encheu a terra”.
Quarta estrofe:
Igreja casa de Deus
Igreja feliz, tabernáculo de Deus com os homens,
templo santo, que se constrói com pedras vivas, firme sobre o fundamento dos
Apóstolos, com Cristo Jesus, sua grande pedra angular.
Encontramos diversos textos bíblicos que fazem referência à tenda, ao
tabernáculo, ao templo.
A estrofe se refere a Ap 21,3; 1Pe 2,4-5 e Ef 2,20.
- Ap 21,3:
“Eis a morada de Deus com os homens”.
- Ex 26: Deus
ordena que se construa a morada
- Zc 2,14:
“Venho habitar contigo”.
- Ez 37,27-28:
“Colocarei o meu santuário no meio deles”.
A presença de Jesus como presença de Deus no meio do povo. “Em Cristo
habita corporalmente a plenitude da divindade”. - Jo 1,1-14: “o Verbo se fez
carne e armou a sua tenda entre nós e nós vimos a sua glória”.
Na pessoa de Jesus, Deus veio morar no meio de nós. A Igreja, como
templo Santo, construído com pedras vivas, aparece em 1Pe 2,4-5; Ef. 2,21.
O templo é uma realidade essencial na sagrada escritura. Na época
patriarcal não havia templo. Davi deseja construir o templo e Salomão realiza o
projeto – 2Sm. 7,1-3 e 1Re 5,15-7,51.
- Dt 12,51: o
templo centraliza o culto
- Is. 6,1-10:
o templo é sinal da presença de Deus
- Sl 25,8: o
templo é objeto de amor, de devotamento.
- Sl 26,4;
27,2; 28,9; 47,9
Vários textos
do N.T. fazem referência a Jesus no templo:
- Lc 2, 22-39:
apresentação
- Lc 2, 41-50:
o reencontro de Jesus.
- Mt 21,12-13;
Mc 11,15-16; Lc 19,45-46; Jo 2,13-22: a purificação do Templo.
- Mt 24,1-2;
Mc 13,1-2; Lc 21,5-6: falam da destruição.
“Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei.” Jo2, 19. João diz,
em seguida, que Jesus falava do seu corpo. O templo de Deus é Jesus no seu
corpo ressuscitado e glorioso; essa verdade aparece em toda a sua plenitude no
texto do Ap 21,22: “na cidade não havia templo, porque o Senhor Onipotente e o
Cordeiro são templo”. Jesus ressuscitado e glorificado é o único templo, é o
único ‘lugar’ no qual nos é concedido encontrar Deus e adorá-lo.
O templo de Deus de feito é o Corpo de Cristo, mas o corpo, na sua
totalidade, constituído pela Igreja, Corpo
Místico. Por isso, S. Paulo em 2Cor 6,16 diz: “nós somos o templo do
Deus vivo”.
Outros textos 1Cor 3,16-17; Ef 2,21.
A idéia de que o templo é uma construção é desenvolvida pela carta de
Pedro. O templo não é mais o que foi construído com pedras materiais, mas com
pedras vivas, da mesma natureza e qualidade da pedra fundamental ou angular,
Cristo. Ef 2,20 e Gl. 2,9.
A igreja é vista como imagem arquitetônica, cidade colocada sobre o
monte. Jesus diz: “vós sois a luz do mundo. Uma cidade sobre o monte não pode
ficar escondida...” (Mt 5,14-16).
Este texto se aplica à igreja-comunidade. A cidade alta é a igreja. Ela
ilumina e é iluminada. Sl. 47,2-3; 86,1-3.
Isaías fala da luz que ilumina os povos: “o Senhor será a tua luz”. Is.
60,1-3.5.14.19-20. No Apocalipse a Cidade Santa, a Jerusalém do céu não terá
mais necessidade e luz do sol ou da lua, pois o Cordeiro será a sua lâmpada.
(Ap 21,23-24; 22,3.5).
Outros textos de João lembram que Jesus é a fonte da luz: Jo 1,4-9;
8,12; 12,35.48.
Segunda parte
da oração: Santificação da igreja e do altar
Suplicantes, pois, nós vos rogamos, Senhor:
dignai-vos inundar esta igreja e este altar com
santidade celeste;
que sejam sempre lugar santo e mesa perenemente
preparada para o sacrifício de Cristo.
A oração se
torna petição. Pede-se a santificação, a benção.
Santo; santificar indica separar, reservar, destinar. A santidade é uma
qualidade uma atribuição de Deus. Os anjos cantam Santo, Santo, Santo (Is
6,1-3).- Ap 4,8: Santo de Israel (Deus) Jo 17,11: Pai Santo.Também o Espírito
de Deus é Santo.Sl. 50,13; Is 63,10; Jo 1,33; 14,26; 20,22.
No Novo Testamento, a santidade é comunidade por Deus aos que crêem,
pelo Espírito Santo. Jo 17,19; 1Cor 6,11. Ser santo é participar da santidade
de Deus.
Na SC 59 lê-se: “os sacramentos se destinam à santificação dos homens, à
edificação do Corpo de Cristo e dar culto a Deus; enquanto sinais também
possuem a função de instruir”.
O altar, a igreja, visto com relação aos sacramentos são declarados
santos, destinados à celebração da Eucaristia e dos sacramentos.
Na terceira parte da prece de dedicação são elencadas as funções da
igreja: o sacramento do batismo, a Eucaristia, o ofício divino, a oração, a
misericórdia, a liberdade e a filiação divina.
Aqui, as ondas da graça divina sepultem os delitos,
para que vossos filhos, ó Pai, mortos para o pecado,
renasçam para a vida eterna.
A
água lave nossas culpas.
A
água tem como prerrogativa lavar do pecado.
Passagens
bíblicas que evocam libertação: Ex 14-15; 1Cor 10,1-2.
As águas submergem os egípcios e,
analogamente, submergindo os que são batizados os livra de toda a culpa e com
Cristo os faz renascer para a vida.
Col 2,12: “com
Ele fostes sepultados no batismo, com Ele fostes também ressuscitados dos
mortos.”
Ef 2,4-7
O renascimento também é tema do texto do evangelho de João (diálogo com
Nicodemos): “quem não renasce da água e do Espírito não pode entrar no reino de
Deus” Jo 3,5.
Oitava
estrofe: a assembléia celebra o memorial da Páscoa
Aqui, ao redor da mesa do altar, celebrem vossos fiéis
o Memorial da Páscoa
e se alimentem no banquete da palavra e do corpo de
Cristo.
A eucaristia é memorial da Páscoa. No A.T. a Páscoa estava ligada à
memória de libertação do Egito.
Ex 12,11: “É a
Páscoa do Senhor!”
Ex 12,14:
“Este dia é memorável, deveis celebrá-lo...”
Lc 22,15-16:
“Desejei ardentemente comer esta páscoa...”
Lc 22,19-20
As palavras e os gestos de Jesus expressam uma realidade sacrifical,
corpo entregue e sangue derramado. Ele se oferece a si mesmo, dando-nos o seu
corpo e sangue nos sinais do pão e do vinho.
A eucaristia é memorial do sacrifício da cruz. “Fazei isto em memória de
mim.” (1Cor
11,25).
Ela sempre tem a dimensão do memorial, recordar, não como uma simples
lembrança, torna eficaz e representa o que recorda, o que celebra.
Na SC 47 aparece a Eucaristia como memorial.
A eucaristia e a Palavra estão intimamente unidas DV diz: “a Igreja
sempre venerou as escrituras como venerou o corpo do Senhor não deixando nunca,
sobretudo na liturgia de nutrir-se do pão da vida, seja da palavra de Deus,
como também do Corpo de Cristo.”
Este texto nos faz pensar como a nosso igreja passou tanto tempo não
valorizando a Palavra. O Vaticano II tentou recuperar, mas apesar de termos
tantas comunidades que celebram somente a Palavra, muitas vezes temos a
impressão que não valorizamos e respeitamos como fazemos com a Eucaristia.
Valorizá-la também proclamando-a em lugar adapto, no ambão, usando os livros
litúrgicos, belos, dignos.
Nona estrofe:
Aqui, como jubilosa oblação de louvor, ressoe a voz
dos homens unida aos coros dos anjos.
E suba até vós a prece incessante pela salvação do
mundo.
A liturgia do louvor, além da Eucaristia e dos sacramentos, na Igreja se
celebra o ofício divino, e outras formas de oração.- Hb 13,15: oferecer por
Cristo um sacrifício de louvor a Deus - Sl 49: oferece a Deus um sacrifício de
louvor.
Na oração da manhã, agradecemos pela criação, pela vida e suas
manifestações, pela ressurreição de Jesus.
À tarde, quando o sol se põe, unimos nosso louvor com o de Jesus que
pela sua morte se entrega ao Pai, como sacrifício de suave odor.
Sl. 115 diz:
“A ti oferecerei um sacrifício de louvor (...) Te oferecerei o meu sacrifício e
invocarei o teu nome.”
No livro dos Atos dos Apóstolos, a comunidade é apresentada como uma
comunidade assídua na oração. At
1,13-14; 10,9; Fil 4,6 e Col
3,16-17.
Décima
estrofe:
Aqui, os pobres encontrem misericórdia, e todos os
homens se revistam da dignidade de vossos filhos,
até que, exultantes, cheguem àquela Jerusalém celeste.
Por nosso Senhor Jesus Cristo...
Os pobres encontram misericórdia. Que bela expressão!
“A Igreja como lugar de misericórdia”. Lá encontramos pro primeiro um
Deus rico em
misericórdia. Deus que Maria canta no Magnificat: “A sua
misericórdia se estende de geração em geração.”
Entender o
espaço como o local da reunião dos templos de Deus não significa diminuir-lhe a
importância ou até mesmo justificar a falta de cuidado com o mesmo.
“O espaço deve
ser belo porque fala de uma realidade bela, ‘somos chamados filhos de Deus e de
fato o somos’, diz o apóstolo.”
Tomo
emprestado um texto de Louis Bouyer para terminar um pouco esta introdução: “A maneira como construiremos as nossas
igrejas constituirá a manifestação por excelência da qualidade da nossa vida
eclesial, da nossa vida de comunhão no corpo de Cristo”.
[6] Catequeses
Mistagógicas – S Cirilo de Jerusalém. Petrópolis: Vozes, 2004. p 34
[7] Dos livros a
Monimo de São Fulgêncio-Liturgia das horas vol II,1995.pag.587
[8] Dos sermões
de São leão Magno,papa. Liturgia das horas vol II, 1995.pag.595
[9] Um grande
arquiteto alemão que trabalhou com o liturgista Romano Guardini
* (Ef 1,22-23) Tudo ele pos debaixo de
seus pés, e o pôs, acima de tudo, como
cabeça da igreja , que é o seu corpo...
[10] RICHTER, Klemens. Espaços de igrejas e imagens de Igreja. Coimbra : Gráfica de
Coimbra, 1998. p 65
[11] como sugere a
IGMR 311: “disponham-se os lugares dos
fiéis.... de
sorte que possam participar devidamente das ações sagradas com os olhos e o
espírito”
(outras traduções trazem “com o corpo”)
[12] IGMR 60
[13] RICHTER, Klemens. Espaços de igrejas e imagens de Igreja. Coimbra:
Gráfica de Coimbra, 1998. p. 80
[14] FERRARO,
Giuseppe. Cristo è l`altare. Roma:
Edizioni OCD.pag.43
[15] Vários autores. L’ambone – tavola della parola di Dio.
Magnano: Qiqajon, 2005. texto da contracapa
[16] DEBUYST,
Frédéric, in L’altare. Magnano:Edizioni
Qiqajon , 2006. p.31
[17] DEBUYST,
Frédéric, in L’altare.Magnano ;
Edizioni Qiqajon, 2006 p. 32
[18] FERRARO,
Giuseppe. Cristo è l`altare. In:
Notitiae1997 – vol 23. pag 77
[19] FERRARO,
Giuseppe. Cristo è l`altare. Roma:
Edizioni OCD.pag.279
[20] FERRARO,
Giuseppe. Cristo è l`altare. Roma:
Edizioni OCD.pag.286
[21] FERRARO,
Giuseppe. Cristo è l`altare. Roma:
Edizioni OCD.pag.290
[22] Gli spazi della celebrazione rituale. P 87
[23] Ritual de
bênçãos- Bênçãos de Lugares e objetos de uso litúrgico; n 935. Edições Paulinas
– São Paulo
[24] Ritual da
Penitência – Introdução cap. III,
nº8- Paulus- São Paulo 1999
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