quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A Maratona dos Jesuitas Sobreviventes no Maufrágio de 1744


                       A MARATONA DOS JESUITAS SOBREVIVENTES DO NAUFRÁGIO DE 1744

               Referem-se a ela, em suas respectivas obras os historiadores gaúchos Aurélio Porto e Arnaldo Bruxel, S.J. Diz o primeiro em sua obra citada:

               “Mais tarde” – antes, ou em 1742, tinha aportado em Rio Grande uma armada inglesa, que se destinava aos mares do Sul – em 1744, na paria de Xarqueda, naufragou uma nau francesa, a DUC DE CHARTRES, em que vinham, além de outros passageiros, 30 jesuítas de várias nacionalidades, que se destinavam às províncias do Paraguai e do Chile. Destes morreram 24, sendo os que se salvaram levados pelo Padre Melcchior Strasser, alemão, a pé até o Presídio, onde receberam socorros do Governador” (Op. Cit., 2 parte, p. 134).

               Em seguida traz esse autor parte da carta, que o mesmo Pe, Strasser escreveu em Buenos Aires, aos 15-9-1744, a um confrade seu da Europa. Este publicou-a, alguns decênios mais tarde, no jornal “ Der Neue Welt-Bott” que conta hoje, com vários volumes em fólio, entre as obras impressas mais originais, divulgadas na Europa do século 18. E é tida como fonte de primeira qualidade para a História das Missões.

               O Pe. Arnaldo Bruxel tem, em são Leopoldo, esse texto todo, em cópia de microfilme e lhe encontrou, em 1958, no “Arquivo General de  lá Nación” de Buenos Aires, a tradução espanhola, feita pelo Pe. Juan Muehn, S.J. Passou-o para o vernáculo e o publicou, acrescido duma bela introdução em “Pesquisa”, revista do “Instituto Anchietano de Pesquisas” (n 2, 1958, págs, 55-73), dando-lhe por título “Um naufrágio nas Praias de Tramandaí, pelo P. Melchior Strasser, S. J.”. Aqui ou menos algo, e de modo sumario desse texto!

               Como se viu acima, indica A. Porto de Xarqueadas como lugar desse naufrágio. Ficava pois no município de Norte ou de São José do Norte, devendo hoje situar-se perto de Quintão. Diz o Pe. Bruxel: “Salvo engano, tratar-se no caso do naufrágio nas praias de Tramandaí dos primeiros (!) jesuítas que palmilharam as praias do nosso Estado, entre Tramandai e Rio Grande, no dia 11 de janeiro de 1744, depois de naufragar na altura de Tramandai, na madrugada do dia indicado” (p, 56). E observa ainda, antes de passar à oferta do texto propriamente dito do Pe. Strasser:

               Deixemos aos Deixemos os geógrafos averiguar mais exatamente o lugar do naufrágio. Mas parece-nos provável, que se tenha dado nas  imediações do atual balneário de Tramandaí, por várias razões. Primeiro, porque a carta diz expressamente que os postos portugueses informaram que 4 léguas terra a dentro do naufrágio, ficava a guarda do TREMENDI (!), que certamente é o nosso moderno nome de Tramandaí. Do lugar caminharam para o sul uns dez dias, com 4 léguas “cortas” (curtas) diárias, o que daria uma distância de uns 200 e tantos km., onde encontraram a guarda de “Buchura”, que certamente seria o que os mapas de turismo marcam com o nome de Bojurú, que fica mais ou menos nesta distancia. Daí chegaram em um dia de marcha ao Estreito, e com mais outro dia à margem do Rio, onde em uma embarcação passaram para o Rio Grande...” (p. 58).

               Do relato de Pe. Strasser, que mereceria aqui inteira transcrição, só alguns dados sumários: 1º: O naufrágio ocorreu por um engano do capitão, que esperava buscar por aí algum lugar contra a temida pirataria inglesa. 2º: Acontecido o naufrágio, houve o esforço sobre humano de salvar-se que pudesse. Ascendeu o número de vitimas a 54 homens, 30 seculares e o resto Jesuitas, a maior parte espanhóis. Só se salvaram 6 dos 30 jesuitas passageiros. Entre os mortos havia também um austríaco, o jesuíta Pe. José Tolpeit, natural do vale de Puster. 3º: Depois desse infeliz naufrágio, os sobreviventes se ocuparam, nos dias 12 e 13, com o enterro dos mortos que o mar arrojava à praia e a coleta de viveres que as mesmas ondas atiravam sobre as areias. 4º: Dia 14 começa a caminhada penosa , que bem se pode classificada de verdadeira maratona... 5º: No 11º dia de sua peregrinação, dia colocado sob a proteção de S. Luís (!), enxegou-se, finalmente, ao longe pequena choupana de palha, pertencente à guarda portuguesa e de nome “Bochura” (deve ser Bojurú). Era a salvação dos pobres sobreviventes de um terrível naufrágio e precisamente no dia que eles haviam colocado sob a proteção a São Luís...

               Desta carta-relato, de conteúdo trágico, limitamo-nos a concluir com certeza que, em início de 1744, ao menos 6 jesuitas percorreram como que de ponta a ponta, o atual território da paróquia e munícípio de Mostardas.

 

Bibliografia                                                

JESUITAS EM MOSTARDAS RS. Pe. Artur Rabuske S.J opúsculo sem outras informações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário