sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Solenidade de Cristo Rei do Universo

EU SOU REI. NASCI PARA SER REI


Hoje é o último domingo do ano litúrgico. Como que coroando todas as celebrações do ano, a Igreja recorda Jesus Cristo, Rei do Universo. A segunda leitura (Cl 1,12-20) dá a Jesus uma série de títulos, que o mostram como Senhor do céu e da terra: Filho amado de Deus, redentor, salvador, imagem visível do Deus invisível, primogênito de todas as criaturas, razão de ser de todas as coisas visíveis e invisíveis, origem de todo o poder e soberania, mantenedor de tudo, princípio de tudo, plenitude de Deus, laço de conciliação entre o céu e a terra.

Hoje a liturgia como que recolhe todos os substantivos e adjetivos que o Novo Testamento atribui a Jesus e os une sob o título de Cristo Rei do Universo. Ao mesmo tempo mostra a nossa participação nesse reinado, nossas obrigações de súditos-parceiros. Todos somos "chamados ao Reino e à glória" com Cristo (cf. lTs 2,12). Hoje proclamamos aquele "que nos amou, nos salvou dos pecados... e fez um reino para nós" (Ap 1,5-6).

No antigo Oriente, a realeza era uma instituição sagrada. O rei era ao mesmo tempo o chefe temporal e espiritual do povo, era uma espécie de mediador entre os deuses e os homens. Os israelitas, provavelmente por medo da divinização de um homem e como segurança da fé num Deus uno e único, demoraram muito tempo em aceitar um rei (o primeiro foi Saul; cf. 1Sm 9,11). Os profetas sempre cuidaram para que o rei não ultrapassasse os limites de "servo da Aliança", porque o verdadeiro rei e senhor glorioso é e será somente Javé (cf. SI 23,9-10; SI 74,12; Is 43,15; MI I,14; 2Mc 1,24).

Como a realeza em Israel, num balanço geral, foi uma experiência negativa, por causa da ambição, despotismo, idolatria, falsas alianças, injustiças e opressões (cf. Jr 21 e 22), os profetas passaram a anunciar um futuro rei que arrancasse o povo das trevas, devolvesse a alegria da vida pela implantação do direito, da justiça, da piedade, um rei que fosse um pastor pela força de Deus e estabelecesse a paz por toda a terra (cf. Is 9,1-6; Mq 5,3-4).

Essa nova figura do rei se confunde na esperança popular com o Messias, ao longo do Evangelho, o povo (e os próprios Apóstolos) confundiu Jesus - Messias com um possível rei terreno. Ainda mais que Jesus muitas vezes usou a palavra reino. Houve até um momento em que ele teve de fugir e se esconder, porque o povo, exaltado e necessitado de líder, queria proclamá-lo rei (cf. Jo 6,15).

Os quatro evangelistas chamam Jesus de Rei, sem medo de confundir um reinado terreno e um reinado universal. O próprio Jesus afirma diante de Pilatos: "Eu sou rei. Para ser rei nasci" (Jo 18,37). Pouco antes, Jesus afirma que seu reino "não é desse mundo" (Jo 18,36). Não significa que Jesus seja rei só no mundo do além, no paraíso. Significa que, não podemos pensá-lo rei como pensamos um rei terreno, sujeito a erros, conchavos e injustiças.

O mundo que aí estava era cheio de pecado e desgraças. Jesus veio exatamente para "tirar o pecado do mundo" (Jo 1,29) e trazer "graça sobre graça" (Jo 1,16). Ele veio para vencer a maldade e fazer triunfar o bem: é o rei da bondade. Ele veio para desmascarar a falsidade: é o rei da verdade. Ele veio para derrotar a morte: é o rei da vida. Ele veio para restaurar o homem: é o rei da santidade. Ele veio para refazer o equilíbrio: é o rei da justiça. Ele veio para exterminar o ódio: é o rei do amor. Ele veio para reorganizar o mundo: é o rei da paz.

Isso tudo neste mundo presente, que é o portal da eternidade, e no céu sem fim. O reino de Cristo, já existente em plenitude, se realiza para cada um na medida em que construir em sua vida a bondade, a verdade, a santidade, a justiça, o amor e a paz, qualidades que descrevem o que Jesus chamou de "Reino de Deus" ou "Reino dos Céus" (Mt 4,17; Lc 4,43; Jo 3,3 e 5), que, a partir da Ressurreição, tanto é de Jesus quanto de todos os que crêem nele e, por ele, pautam sua vida.

A SANTIDADE DO REINO DEPENDE TAMBÉM DE MIM

No evangelho de hoje fica bem claro o contraste: de um lado o mundo mau, que zomba de Jesus, que lhe dá vinagre, que o ridiculariza e insulta. Do outro, o Cristo pacífico e pacificador, que dá amorosamente a vida, pronto a acolher e a santificar. No meio, o homem convertido, que reconhece e confessa os seus pecados, se volta para Jesus à procura de perdão e salvação. Com este, Jesus garante repartir o Reino.

A cena do bom ladrão é um exemplo daquilo que São Paulo nos recorda na Carta aos Colossenses: Deus "nos arrancou do poder das trevas (do pecado) e nos transferiu para o reino de seu Filho amado, tornando-nos dignos de, na luz, participar da herança dos santos" (CI I, 12-13).

Quando, pois, aclamamos o Cristo Jesus como "o dono da glória e do império pelos séculos dos séculos" (Ap I, 5-6; 1Pd 4,11) não o fazemos como um fato do passado ou como um assunto que não é nosso. A glória e o reinado têm a ver diretamente com cada um de nós, porque o Cristo a ele nos associou, e isso acontece a todos os momentos.



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