segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Nanetto Pipetta

Nanetto Pipetta


 Tempo Aquiles Bernardi – Nanetto Pipetta  Continuação)


Frei Arlindo Itacir Battistel * conta como nasceu o personagem : “Frei
Aquiles Bernardi era um homem sereno, alegre, vivaz e poderíamos dizer
que era um frade feliz. Talvez fosse por isso que ele cultivava tão
bem o humorismo. Bernardi não concebeu Nanetto como personagem de
livro mas criou-o para um seriado do jornal Stafetta Riograndense.
Ele, como sacerdote capuchinho, visitava as capelas dos imigrantes
italianos que haviam se estabelecido na inóspida selva rio-grandense
sofrendo por causa de uma reviravolta total em suas vidas, a começar
pela troca do Hemisfério Norte pelo Hemisfério sul. Para o agricultor,
essa troca radical dava um transtorno profundo, pois ele perdia a
noção da época de plantio e colheita desde os cereaias até as culturas
mais elementares de subsistência. Quando na Itália é inverno aqui no R
Grande do Sul é verão. Por  isso, era comum que os imigrantes
plantavam milho, trigo, ou outra cultura fora de época. Não colhiam
nada. Isto chegava a ser ridículo. Eles desconheciam a forma de lidar
corretamente com o corte das árvores e o manejo dos diversos tipo de
madeira, além desconheceram completamente o comportamento dos animais
selvagens. O desconhecimento do clima e do novo ambiente geral criava
para eles situações embaraçosas, crônicas e até trágicas. A primeira
coisa que o Frei fazia, ao chegar às capelas, era celebrar as
cerimônias religiosas. Depois dedicava um tempo para convivência com
os imigrantes, ou colonos como costumava chama-los. Na ocasião eles
aproveitavam para contar ao Frei as aventuras e desventuras que lhes
aconteciam. Frei Aquiles, visitava outras capelas, contava aos
imigrantes o que tinha ouvido contar na capela anterior. Os ouvintes
gostavam e aproveitavam para também para contar também as suas
peripécias. Dai que frei Aquiles teve a licar brilhante ideia de
publicar essas histórias no jornal Staffetta Riograndense. Mas havia
um problema: se o Frei publicasse as histórias com nome das pessoas
envolvidas, poderia ofendê-las, melindrar seus familiares ou
desagradar os parentes. Foi então que o Frei concebeu o personagem
Nanetto Pipetta, que representava os personagens reais. Tomava-lhes as
histórias, mas deixava-os  no anonimato. Ouvia as histórias e as
escrevia. Depois voltava para a capela e lia o escrito para os colonos
que faziam observações e emendas. Somente depois disto é que as
mandava para a redação. Quando Frei Aquiles publicou as primeiras
histórias no jornal, logo foram lidas avidamente pelos imigrantes. Os
pais, assinantes do jornal, após o jantar e a reza do terço, passaram
a reunir a família ao redor da lareira e ler as aventuras de Nanetto
Pipetta em voz alta. A alegria tomava conta dos ouvintes. Gostosas
gargalhadas eclodiam noite a dentro. Em seguida os que recebiam  o
jornal convidavam os vizinhos – que  não  eram assinantes – para
visita-los  à noite, em filó, para ouvirem a leitura  das histórias.
Diante delas, tão engraçadas, muitos começaram a assinar o jornal para
lê-las em primeira mão. Houve então uma explosão de assinantes fazendo
o jornal circular a mil. Por algum  tempo Nanetto foi o motivo pelo
qual muitos colonos passaram a assinar o jornal. O sucesso de Nanetto
foi total porque: 1º - Eram histórias reais encarnadas em Nanetto
Pipetta. 2º - As ciam peripécias não aconteciam só para aqueles que
contava as história ao Frei, mas aconteciam situações parecidas para
vários outros imigrantes. Estes se sentiam encarnados na história,
participantes. 3º - Era um aprendizado. Alertava os leitores para que
não caíssem nas mesmas armadilhas em que Nanetto caía. Pipetta fez
enorme sucesso porque o personagem estava profundamente enraizado na
história do povo. O leitor sentia-se participante e cumplice. Tudo ia
bem quando surgiu um problema que se “Invidia Clericorum”, isto é:
Inveja Clerical. Seus superiores e o diretor do Staffetta se
preocuparam com o sucesso do Frei, na verdade não procuravam isso,
pois ele simplesmente queria divertir os imigrantes. Em nome de uma
pseudo-intelectualidade do diretor e de um falso conceito de
moralidade, entendeu que os artigos de Aquiles eram pobres, levianos,
baixos e com certos termos vulgares e, portanto, imorais. Na verdade
não havia nada disso. O certo é que o Frei Aquiles com seu Nanetto
Pipetta incomodava o diretor do jornal que percorreu o caminho
contrário de Frei Aquiles. Este escreveu o seriado do jornal, que
depois se transformou em livro. O diretor, de um momento para outro,
baixou orem para que Aquiles terminasse o seriado de Nanetto, já que
ele publicaria um romance italiano no seu lugar. Aquiles ficou
desapontado e muito triste, mas como bom capuchino obedeceu. Para
expressar seu protesto, no último artigo do seriado, Aquiles fez
Nanetto se afogar no Rio das Antas, sem receber a Unção do Enfermos,
que para a época, era uma desgraça, pois representava a possibilidade
de condenação eterna. O Staffetta Riograndense passou a publicar o
seriado do dito romance em italiano gramatical, língua que  entre os
imigrantes, não entendia.  Consequência: as assinaturas do jornal
despencaram e houve  uma enxurrada de reclamações e protestos. Em
vista disto, após algum tempo, os responsáveis pelo jornal retiram o
dito romance italiano e pediram a Frei Aquiles voltar a escrever, mas
desta vez, se comicidade, mais sensato, mais educativo. No entanto
Aquiles havia pedido a empolgação, pois mataram seu maior tesouro: o
senso de humor. Obedeceu e passou a escrever artigos sobre costumes, o
progresso e a vida simples dos agricultores. Esses artigos depois
foram coletados num livro que se chama “Nino Fratello de Nanetto”. É
um livro bom para entender a vida e os costumes dos imigrantes da
época, mas não fez sucesso. O que ficou e continua mesmo é Nanetto
Pipetta. Bem mais tarde, Frei Rovílio desafogou Nanetto Pipetta
tirando-o do Rio das Antas e fazendo-o ressuscitar com o mesmo nome, o
mesmo estilo, mas num ambiente moderno. Vários autores como: Grigolo,
Grando, Gardelin e outro passaram a escrever novos seriados de Nanetto
Pipetta que foram e estão sendo publicados no Correio Riograndense.
Estas estórias estão sendo bem aceitas pelos assinantes na medida que
os autores aproximam na medida que os autores aproximam seu personagem
fictício aos personagens da vida real. Atualmnte há muitos leitores do
Correio Riograndense que apreciam realmente o novo seriado de Nanetto
Pipetta que continua bem vivo e sempre renovado.


Bibliografia:Revista INSIEME. A Revista Italianda Daqui. Nº 159 –
Março – Marzo 2012.

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