Paese de Cuccagna ou
País das Maravilhas
A topografia do
Paese di Cuccagna é denominado por uma montanha, na verdade, um vulcão que
expele, continuamente, moedas de ouro. Como variante, nas narrativas orais, a
montanha já não é de ouro mas de queijo ralado. Quando chove, nesses país,
chovem pérolas e diamantes, mas podem chover raviólis...
...Entretanto mesmo nessas famílias mais abastadas, a carne
era um luxo. No ano de 1863, um jovem médico lombardo, Ezechia Marco Lombroso,
realiza estudos sobre o estado da saúde dos camponeses vítimas da
subalimentação e indica alguns possíveis remédios para “melhorar a condição
alimentar desses infeliz povo camponês”. Sugere que, através de leis
municipais, se acrescente à farinha de
milho, farinha de castanhas, de cevada e farelo para fazer esse “pão de
bárbaros que é a polenta”. Propõe ainda que se popularize o uso da carne,
especialmente de porco, de cavalo e de porcos da Índia. Recomenta o
aproveitamento do sangue dos abatedouros, e o uso do leite, que é nutritivo e
“muito melhor que a polenta”. A polenta, de fato foi por longos períodos, o
único recurso alimentar dos pobres e, em consequecia, a pelagra, um avitaminose, propagou-se
assustadoramente nessas regiões.
A pelagra é
uma doença, que provocada pela carência de uma vitamina B, a niacina, contida
na carne fresca. Como o milho é muito pobre em niacina, a pelagra propagou-se
como uma epidemia nas regiões onde o milho se tornou o cereal mais importante,
se não o único alimento.
A pelagra,
segundo a descrição do Dr. Lombroso, “manifesta-se inicialmente por uma
indisposição seguida de náuseas, dores
de cabeça, e um estremo cansaço; depois borborigmos, diarreia, perda
progressiva de memória e, na fase final, delírios com tendência ao suicídio”.
Diante desse quadro sombrio, não é de surpreender que as
fantasias alimentares dessas populações fossem, ao lado da promessa de muita
terra para cultivar, o alvo preferido dos propagandistas da imigração.
A memória coletiva dos habitantes da região colonial
italiana, na serra gaúcha, parece não ter eliminado de todo o fantasma das
carências alimentares de seus antepassados. Basta pensar como organizamos as
nossas refeições, que no âmbito doméstico, quer nos restaurantes.
Bibliografia. Nós os ítalos-gaúchos. Ed.Universidade/UFRGS,
1996. Artigo de Cleodes Maria Piazza Júlio Ribeiro.
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