A MARATONA DOS JESUITAS SOBREVIVENTES DO NAUFRÁGIO DE 1744
Referem-se
a ela, em suas respectivas obras os historiadores gaúchos Aurélio Porto e
Arnaldo Bruxel, S.J. Diz o primeiro em sua obra citada:
“Mais
tarde” – antes, ou em 1742, tinha aportado em Rio Grande uma armada inglesa,
que se destinava aos mares do Sul – em 1744, na paria de Xarqueda, naufragou
uma nau francesa, a DUC DE CHARTRES, em que vinham, além de outros passageiros,
30 jesuítas de várias nacionalidades, que se destinavam às províncias do
Paraguai e do Chile. Destes morreram 24, sendo os que se salvaram levados pelo
Padre Melcchior Strasser, alemão, a pé até o Presídio, onde receberam socorros
do Governador” (Op. Cit., 2 parte, p. 134).
Em seguida
traz esse autor parte da carta, que o mesmo Pe, Strasser escreveu em Buenos
Aires, aos 15-9-1744, a um confrade seu da Europa. Este publicou-a, alguns
decênios mais tarde, no jornal “ Der Neue Welt-Bott” que conta hoje, com vários
volumes em fólio, entre as obras impressas mais originais, divulgadas na Europa
do século 18. E é tida como fonte de primeira qualidade para a História das
Missões.
O Pe.
Arnaldo Bruxel tem, em são Leopoldo, esse texto todo, em cópia de microfilme e
lhe encontrou, em 1958, no “Arquivo General de
lá Nación” de Buenos Aires, a tradução espanhola, feita pelo Pe. Juan
Muehn, S.J. Passou-o para o vernáculo e o publicou, acrescido duma bela
introdução em “Pesquisa”, revista do “Instituto Anchietano de Pesquisas” (n 2,
1958, págs, 55-73), dando-lhe por título “Um naufrágio nas Praias de Tramandaí,
pelo P. Melchior Strasser, S. J.”. Aqui ou menos algo, e de modo sumario desse
texto!
Como se
viu acima, indica A. Porto de Xarqueadas como lugar desse naufrágio. Ficava
pois no município de Norte ou de São José do Norte, devendo hoje situar-se
perto de Quintão. Diz o Pe. Bruxel: “Salvo engano, tratar-se no caso do
naufrágio nas praias de Tramandaí dos primeiros (!) jesuítas que palmilharam as
praias do nosso Estado, entre Tramandai e Rio Grande, no dia 11 de janeiro de
1744, depois de naufragar na altura de Tramandai, na madrugada do dia indicado”
(p, 56). E observa ainda, antes de passar à oferta do texto propriamente dito
do Pe. Strasser:
Deixemos
aos Deixemos os geógrafos averiguar mais exatamente o lugar do naufrágio. Mas
parece-nos provável, que se tenha dado nas
imediações do atual balneário de Tramandaí, por várias razões. Primeiro,
porque a carta diz expressamente que os postos portugueses informaram que 4
léguas terra a dentro do naufrágio, ficava a guarda do TREMENDI (!), que
certamente é o nosso moderno nome de Tramandaí. Do lugar caminharam para o sul
uns dez dias, com 4 léguas “cortas” (curtas) diárias, o que daria uma distância
de uns 200 e tantos km., onde encontraram a guarda de “Buchura”, que certamente
seria o que os mapas de turismo marcam com o nome de Bojurú, que fica mais ou
menos nesta distancia. Daí chegaram em um dia de marcha ao Estreito, e com mais
outro dia à margem do Rio, onde em uma embarcação passaram para o Rio
Grande...” (p. 58).
Do
relato de Pe. Strasser, que mereceria aqui inteira transcrição, só alguns dados
sumários: 1º: O naufrágio ocorreu por um engano do capitão, que esperava buscar
por aí algum lugar contra a temida pirataria inglesa. 2º: Acontecido o
naufrágio, houve o esforço sobre humano de salvar-se que pudesse. Ascendeu o
número de vitimas a 54 homens, 30 seculares e o resto Jesuitas, a maior parte
espanhóis. Só se salvaram 6 dos 30 jesuitas passageiros. Entre os mortos havia
também um austríaco, o jesuíta Pe. José Tolpeit, natural do vale de Puster. 3º:
Depois desse infeliz naufrágio, os sobreviventes se ocuparam, nos dias 12 e 13,
com o enterro dos mortos que o mar arrojava à praia e a coleta de viveres que
as mesmas ondas atiravam sobre as areias. 4º: Dia 14 começa a caminhada penosa
, que bem se pode classificada de verdadeira maratona... 5º: No 11º dia de sua
peregrinação, dia colocado sob a proteção de S. Luís (!), enxegou-se,
finalmente, ao longe pequena choupana de palha, pertencente à guarda portuguesa
e de nome “Bochura” (deve ser Bojurú). Era a salvação dos pobres sobreviventes
de um terrível naufrágio e precisamente no dia que eles haviam colocado sob a
proteção a São Luís...
Desta
carta-relato, de conteúdo trágico, limitamo-nos a concluir com certeza que, em
início de 1744, ao menos 6 jesuitas percorreram como que de ponta a ponta, o
atual território da paróquia e munícípio de Mostardas.
Bibliografia
JESUITAS EM MOSTARDAS RS. Pe. Artur Rabuske S.J opúsculo sem
outras informações.