A União faz a força
Tradução
da seleta prosa e verso Alfredo Clemente Pinto 50 ed
Um velho, achando-se as portas da morte, em torno a si
congregou seus três filhos, e, apresentado um feixe de varas, disse-lhes:
“Vede se podeis quebrar estas varas assim unidas como se
acham. Depois explicar-vos-ei o que com
isso pretendo ensinar-vos”.
O mais velho dos irmãos tomou o molho de varas, e depois de
empregar em vão toda a sua força largou-o, assegurando não haver quem o pudesse
quebrar.
A todos resistiu o feixe de varas, sem que uma só estalasse.
“Gente fraca” disse o velho, “a-pesar-da minha velhice e de estar já para
morrer, vou mostrar-vos quando mais forte do que vos ainda sou”.
Ouvindo estas palavras, creram os moços que seu pai
gracejava e se puseram a rir.
Então desatou o velho aquele feixe de varas e sem custo as
foi quebrando uma por um.
Nisto que acabais de ver, considerai, meus filhos, os
efeitos da concórdia e da união.
Sede, pois, sempre e muitos unidos, caros filhos, amai-vos
estremecidamente uns aos outros, que fortes e felizes havereis de ser.”
E, daquele dia por diante, quase em outra coisa não falou o
velho até morrer. Nos bons resultados da união e do amor iam sempre dar as suas
conversas.
E, quando sentiu chegada a sua hora final, chamou d novo
seus filhos, e lhes falou deste modo:
Queridos filhos, é tempo de deixa-vos! Eu vou reunir-me aos
meus antepassados. Recebei a minha benção. Adeus!
“Mas antes que eu morra, prometeram, senão que juraram cumprir
os desejos de seu pai.
Então com o semblante radioso de consolação, aquele sábio
velho os abençoou novamente e expirou.
Herança muito considerável, mas cheia de complicação, coube
àqueles irmãos, pelos que tiveram de sustentar várias demandas das quais sempre
saíram-se vantajosamente, enquanto amigos e unidos.
Mas quão pouco durou aquela união!
O sangue e os conselhos do velho bom pai os tinham
unidos: os interesses e a ambição os
desuniram.
Chegada a ocasião da partilha e querendo cada um ser mais
bem aquinhoado, desuniram-se, e, mais do que isto, inimizaram-se.
E começaram eles próprios a demandar um contra os outros.
Também novos credores apareceram, que daquela desunião se
aproveitaram.
Grande foi então o desconcerto! Um queria acomodar-se e os
outros não; e por fim de contas, em pobreza caíram todos, lembrando-se afinal,
porém já tarde da sábia lição que com aquele feixe de varas lhes havia dado seu
pai.
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