terça-feira, 1 de novembro de 2016

A União faz a força


A União faz a força

                                      Tradução da seleta prosa e verso Alfredo Clemente Pinto 50 ed

Um velho, achando-se as portas da morte, em torno a si congregou seus três filhos, e, apresentado um feixe de varas, disse-lhes:

“Vede se podeis quebrar estas varas assim unidas como se acham. Depois explicar-vos-ei o que  com isso pretendo ensinar-vos”.

O mais velho dos irmãos tomou o molho de varas, e depois de empregar em vão toda a sua força largou-o, assegurando não haver quem o pudesse quebrar.

A todos resistiu o feixe de varas, sem que uma só estalasse. “Gente fraca” disse o velho, “a-pesar-da minha velhice e de estar já para morrer, vou mostrar-vos quando mais forte do que vos ainda sou”.

Ouvindo estas palavras, creram os moços que seu pai gracejava e se puseram a rir.

Então desatou o velho aquele feixe de varas e sem custo as foi quebrando uma por um.

Nisto que acabais de ver, considerai, meus filhos, os efeitos da concórdia e da união.

Sede, pois, sempre e muitos unidos, caros filhos, amai-vos estremecidamente uns aos outros, que fortes e felizes havereis de ser.”

E, daquele dia por diante, quase em outra coisa não falou o velho até morrer. Nos bons resultados da união e do amor iam sempre dar as suas conversas.

E, quando sentiu chegada a sua hora final, chamou d novo seus filhos, e lhes falou deste modo:

Queridos filhos, é tempo de deixa-vos! Eu vou reunir-me aos meus antepassados. Recebei a minha benção. Adeus!

“Mas antes que eu morra, prometeram, senão que juraram cumprir os desejos de seu pai.

Então com o semblante radioso de consolação, aquele sábio velho os abençoou novamente e expirou.

Herança muito considerável, mas cheia de complicação, coube àqueles irmãos, pelos que tiveram de sustentar várias demandas das quais sempre saíram-se vantajosamente, enquanto amigos e unidos.

Mas quão pouco durou aquela união!

O sangue e os conselhos do velho bom pai os tinham unidos:  os interesses e a ambição os desuniram.

Chegada a ocasião da partilha e querendo cada um ser mais bem aquinhoado, desuniram-se, e, mais do que isto, inimizaram-se.

E começaram eles próprios a demandar um contra os outros.

Também novos credores apareceram, que daquela desunião se aproveitaram.

Grande foi então o desconcerto! Um queria acomodar-se e os outros não; e por fim de contas, em pobreza caíram todos, lembrando-se afinal, porém já tarde da sábia lição que com aquele feixe de varas lhes havia dado seu pai.

 

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