A parábola das varas
B. M. Curvo Semedo (Seleta em
prosa e verso)
Um velho sábio e prudente,
Vendo-se vizinho da morte,
Chama três filhos que tem,
E fala-lhes desta sorte:
“Eia, vêde, amados filhos
Se quebrais, pois por força ou jeito
Este emblema ; e tira
um molho
De varas de vime feito.
Ao filho mais velho o dá,
Que se propões parti-lo
Mas, por força que emprega
Nunca pode consegui-lo
Pega-lhe o filho segundo,
Destro e valente rapaz,
Que parti-lo não consegue,
Por mais esforços que faz.
Entregam-no ao mais pequeno
Que blasona de mui forte.
Torce-o dobra, cora e sua,
E deixa-o da mesma sorte.
Fracos moços! Diz o
pai,
Vossa fraqueza celebro!
Vêde como desta idade
Essas varas todas quebro.
Depois desatando o molho,
Pronto as varas dividindo,
Com toda a facilidade
Uma a uma as vai quebrando
E diz “Vede neste exemplo,
Filhos de meu coração
Os desastres da discórdia
E as vantagens da união.
Partir não podeis, ò moços
As varas estando unidas
Mas, depois de separadas
São fracas mão partidas
Se unidas vos conservardes,
Assim, ó filhos sereis
E as baldãos ímpios da sorte
Sem custo resistireis:
Mas, se algum dia a desgraça
Vos chegar a desunir,
Qualquer de vós aos
seus golpes
Não poderá resistir.”
Assim o velho proclama
Esta brilhante doutrina,
E no fim de pouco tempo
Sua carreira termina.
Os filhos choram-lhe a morte
Com lamentos deploráveis
Porem lembram-se mui pouco
De seus conselhos saudáveis.
Porque danoso interesse
Em partilha os envolve,
Um credor, outro credor
Os bens paternos dissolve.
Depois, vomitando injúrias,
Uns contra os outros litigam;
E os ministros com prisões
E com multas os castigam
Pobres por fim, noite e dias
Com prantos e queixas amaras,
Recordam, mas sem remédios,
O sábio exemplo das varas.
A União faz a força
Tradução
da seleta prosa e verso Alfredo Clemente Pinto 50 ed
Um velho, achando-se as portas da morte , em torno a si
congregou seus três filhos, e, apresentado um feixe de varas, disse-lhes:
“Vede se podeis quebrar estas varas assim unidas como se
acham. Depois explicar-vos-ei o que com
isso pretendo ensinar-vos”.
O mais velho dos irmãos tomou o molho de varas, e depois de
empregar em vão toda a sua força largou-o, assegurando não haver quem o pudesse
quebrar.
A todos resistiu o feixe de varas, sem que uma só estalasse. “Gente fraca” disse
o velho, “a-pesar-da minha velhice e de estar já para morrer, vou mostrar-vos
quando mais forte do que vos ainda sou”.
Ouvindo estas palavras, creram os moços que seu pai
gracejava e se puseram a rir.
Então desatou o velho aquele feixe de varas e sem custo as
foi quebrando uma por um.
Nisto que acabais de ver, considerai, meus filhos, os
efeitos da concórdia e da união.
Sede, pois, sempre e muitos unidos, caros filhos, amai-vos
estremecidamente uns aos outros, que fortes e felizes havereis de ser.”
E, dequele dia por diante, quase em outra coisa não falou o velho até morrer. Nos bons resultados
da união e do amor iam sempre dar as suas conversas.
E, quando sentiu chegada a sua hora final, chamou d novo
seus filhos, e lhes falou deste modo:
Queridos filhos, é tempo de deixa-vos! Eu vou reunir-me aos
meus antepassados. Recebei a minha benção. Adeus!
“Mas antes que eu morra, prometeram, senão que juraram cumprir
os desejos de seu pai.
Então com o semblante radioso de consolação, aquele sábio
velho os abençoou novamente e expirou.
Herança muito considerável, mas cheia de complicação, coube
àqueles irmãos, pelos que tiveram de sustentar várias demandas das quais sempre
saíram-se vantajosamente, enquanto amigos e unidos.
Mas quão pouco durou aquela união!
O sangue e os conselhos do velho bom pai os inham
unidos: os interesses e a ambição os
desuniram.
Chegada a ocasião da partilha e querendo cada um ser mais
bem aquinhoado, desuniram-se, e, mais do que isto, inimizaram-se.
E começaram eles
próprios a demandar um contra os outros.
Também novos credores apareceram, que daquela desunião se
aproveitaram.
Grande foi então o desconcerto! Um queria acomodar-se e os
outros não; e por fim de contas, em pobreza caíram todos, lembrando-se afinal,
porém já tarde da sábia lição que com aquele feixe de varas lhes havia dado seu
pai.
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