A Porta Enigmática
No povoado havia uma linda casa. Era chamada casa do Povo. Muito antiga, bem construída. Tinha uma porta bonita larga, que dava para a rua por onde o povo passava.
Porta estreita. Seu limiar parecia eliminar a separação que havia entre a casa e a rua. Quem por ela entrava parecia continuar na rua. Quem passava na rua parecia acolhido e envolvido pela casa. Nunca ninguém se deu conta desse fato, pois, era uma coisa tão natural, como é natural haver luz e calor quando o sol brilha no céu.
A casa fazia parte da vida do povo, grande àquela porta que unia a casa à rua e a rua à casa. Era a praça da alegria, onde a vida se desenvolvia, onde tudo se discutia, onde o povo se encontrava. A porta Enigmática ficava aberta, dia e noite. Seu limiar era gasto pelo uso do tempo. Muita gente, todo mundo por ai passava.
Um dia chegaram dois estudiosos. Um chamado Filo e o outro Teófilo vindos de fora. Não eram de lá. Não conheciam a casa. Só tinham ouvido falar da sua beleza e antigamente. Vieram para ver. Eram Mestres que sabiam julgar as coisas antigas. Viram a casa e logo perceberam o seu grande valor. Pediram licença para ficar. Seu desejo era estudar.
Procuram e encontraram uma porta do lado. Por aí entravam e saíam, para fazer os seus estudos. Não queriam ser importunados pelo barulho e pelo barulho da porta da frente. Queriam ter a tranqüilidade necessária para fazer as suas pesquisas e consequentemente as reflexões.
Ficaram lá dentro longe da porta do povo, num canto escuro, absorto na investigação do passado da casa.
O povo, entrando na casa, via os dois grandes livros e máquinas complicadas. Chegando perto deles, humildes ficavam calados. Silenciava, para não distraí-los. Tinha por eles uma grande admiração: Eles estudavam a beleza e a história da nossa casa! Diziam admirados são doutores!
Os estudiosos avançavam nas pesquisas. Filo e Teófilo descobriram coisas lindas que o povo não conhecia,embora, as visse na casa, todos os dias. Obtiveram licença para raspar alguma parede e descobriram pinturas antigas que representava a história da vida do povo, história que o povo não conhecia. Fizeram escavações junto às colunas e conseguiram retraçar a história da construção da casa, história de que ninguém se lembrava. O povo não conhecia o passado da sua vida e da sua casa, porque o passado estava dentro deles, atrás dos seus olhos que não se enxergam a si mesmo, mas enxergam todo o resto, orientando a vista para frente.
A noite, nos serões, misturados com o povo, Filo e Teofilo estudiosos contavam as suas descobertas. Crescia no povo a admiração pela sua casa e pelos seus mestres.
Contavam ao povo que certas pessoas de outros povos tinham falado e escrito contra a casa. Mas eles é que vieram para estudar e defender a casa do povo. Escreviam artigos compridos em línguas estrangeiras, que eram publicados nas grandes cidades que o povo conhecia. O povo até começou a decorar os nomes daqueles inimigos perigosos que andavam dizem que a casa era sem valor “É gente malvada! Não gostam de nós. São contra a casa que é a nossa alegria.
Paulo F.Zanatta
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